9 - O sorriso da beleza

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Foi uma noite agradável, talvez a mais agradável da minha vida. Não houveram pesadelos para me atormentar, em vez disso, era quase como se algo confortável e aconchegante estivesse me envolvendo, relaxando meu corpo e permitindo que eu pudesse dormir com tranquilidade.

Acordei relaxada, estava claro, mas não o suficiente para incomodar-me os olhos, as árvores da floresta densa cobriam a luz do sol que deveria nos atingir. Me espreguicei e me aconcheguei novamente no cobertor macio, estava me sentindo bem como nunca estive antes, e não queria perder tão facilmente aquela sensação agradável.

Era como se nada tivesse acontecido, a dor que me perseguia todos os dias finalmente havia me poupado naquela noite, e de alguma forma, eu estava calma.

Me sentei e a primeira coisa que vi fora o cavalo cedido à Meish pelo estalajadeiro. Havíamos amarrado-o numa área mais afastada para que ele pudesse ter mais espaço para se deitar, mas aqui estava ele, em pé, como se esperasse pela volta de Meish, que não estava em lugar algum.

Me levantei e caminhei para exercitar meu corpo relaxado, um som suave podia ser ouvido de não muito longe, era o pequeno riacho, segui o som das águas para me agachar, como tinha feito no dia anterior, na beira do riacho e encher os cantis.

Era bonito, as águas cristalinas refletiam a pouca luz que conseguia passar pelas frestas entre as folhas das grandes árvores, imaginei os raios solares tocando delicadamente a superfície das águas e a bela miniatura de arco-íris que pairaria sobre os respingos, fazia um tempo que eu não via coisas assim.

Caminhei de volta para o lugar onde havia passado a noite, não conseguia ter um vislumbre do sol e tudo o que podia concluir era que estava de dia e, considerando que eu costumava dormir pouco, talvez ainda estivesse de manhã.

Sentei-me novamente no cobertor e, tal qual o cavalo, aguardei a chegada de Meish, que não tardou a aparecer.

“Onde estamos exatamente?” Questionei-a assim que a vi, não perguntei sobre onde ela esteve e o que fazia, de qualquer forma, ela não me diria.

Meish estreitou os olhos e coçou o queixo com um dedo, pensativa. “Eu também não sei, mas não se preocupe, não estamos perdidas. Faz um tempo desde a última vez que andei no território dos humanos, muita coisa mudou. Mas estamos no caminho certo.”

Encarei-a e me levantei. “Tudo bem então.” Peguei a bolsa que trouxemos e a abri, tirei de lá as rações secas e o cantil e me preparei para a primeira refeição do dia, mas Meish me deteve antes que eu pudesse começar a comer.

“Logo chegaremos ao nosso destino. Se você puder aguentar por mais algumas horas, lhe garanto que teremos uma boa refeição em breve.” Ela me lançou um olhar repleto de seriedade. E eu não pude evitar assentir e guardar as rações novamente, tomando apenas um pouco de água.

“Devemos partir agora?” Disse enquanto acomodava nossos pertences na bolsa.

“Sim, não tardaremos a chegar.”

“Para onde estamos indo?” Subi no cavalo, seguida por Meish, que montou no animal atrás de mim, estendendo os braços para se apoiar na minha cintura.

"Para a cidade mais próxima, preciso encontrar uma pessoa. Não se preocupe em guiar o cavalo, ele sabe onde deve nos levar.”

Não falei mais nada. Tentei olhar para trás, mas ela segurou meu rosto, impedindo-me de encará-la. “Não precisa olhar para trás, não há nada lá.”

A voz hipnótica adentrou meus ouvidos como uma brisa suave, e eu não me atrevi mais a olhar para ela. Minutos mais tarde, o cavalo nos levou para a estrada, e de lá seguimos durante duas horas, estranhamente, não vimos uma única alma viva no percurso, até que de longe pudemos avistar os primeiros estabelecimentos.

Misty (Girl's Love)Where stories live. Discover now