Capitulo Três

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SINA CONKLIN

                   À NOITE QUANDO EU E BELLY NÃO CONSEGUÍAMOS DORMIR, sempre descia a escada com ela de fininho e íamos para a piscina. Eu ficava na borda com os pés na água, vendo Belly dar voltas e voltas até cansar. Depois, voltávamos para a cama e conversavamos até pegar no sono.

Dois verões antes, Susannah nos encontrou lá embaixo. Desde então, ela passava algumas noites nadando com Belly. Nós não nos falávamos, Belly e ela só nadavam enquanto eu observava, já que nunca fui uma grande nadadora. Era reconfortante ter ela ali com a gente. Foram as únicas vezes no verão que vimos ela sem peruca.

Naquela época, depois de perder o cabelo por causa da quimioterapia, Susannah passou a usar peruca o tempo todo. Ninguém a via sem, nem mesmo nossa mãe.

Eu e Belly não conseguimos dormir na primeira noite daquele verão. Belly sempre demorava um ou dois dias para se reacostumar com a cama e eu em ter que dividi-la com alguém, mesmo que a gente tivesse dormido nela praticamente todos os verões da nossa vida.

Observei Belly nadar por um tempo até ela sair e se enrolar com uma das enormes toalhas azuis de Susannah. Ela me olhou e se aproximou de mim.

— Vamos?

— Acho que vou ficar mais um pouco hoje — Ela assentiu sorrindo e então entrou.

Fiquei alguns minutos apenas olhando para a água até sentir alguém se sentar ao meu lado. Era Conrad. Ele se sentou ali, começando a balançar os pés dentro da água. Senti cheiro de cigarro e fiz careta.

— Desde quando você fuma? — perguntei, em um tom acusatório. — E o que está fazendo aqui embaixo?

— O que você quer que eu responda primeiro?

Ele estava com aquela cara debochada e condescendente de sempre. Aquela cara que me deixava louca.

— A segunda pergunta. — Respondi, por fim.

— Eu não estava conseguindo dormir, então saí para dar uma volta — explicou ele, dando de ombros.

O conhecia bem o suficiente para saber que era mentira. Ele tinha saído para fumar.

— E como sabia que eu estava aqui?

Ele tragou o cigarro.

— Ah, qual é, Sina. Você sempre vem aqui à noite com Belly, você fica observando ela nadar.

Ele sabia que a gente fazia isso? Achei que fosse um segredo só meu e de Belly. E também da Susannah, claro. Fiquei me perguntando desde quando ele sabia e se todo mundo sabia. Belly ficaria louca quando descobrisse.

— Ok, tudo bem. E desde quando você fuma?

— Não sei. Acho que desde o ano passado.

Ele estava sendo vago de propósito. Isso me fez suspirar impaciente.

— Bom, mas não deveria. Melhor parar agora mesmo. Além de fazer um mal horrível para o seu corpo, em termos e consumo e geração de resíduos, uma pessoa que fuma um maço de cigarro por dia gera ao menos trezentos e sessenta e cinco embalagens de maço ao ano, sete mil e trezentos bitucas no mesmo período, sem falar nos isqueiros ou fósforos usados e que igualmente não são recicláveis.

Ele riu.

— Está pensando mais no planeta?

— Mas é claro! Onde mais nós morariamos se ele fosse destruído? Você já pensou nos pobres animais? Sabe que pode parar, basta querer. Pense em você e nos animaizinhos que estão sofrendo.

HEAT WAVES | CONRAD FISHERWhere stories live. Discover now