Parte 7

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Padraig avistou Mira e, adiantando-se em sua direção, fez uma mesura formal.

- Milady, é bom vê-la.

O riso suave de Mira ecoou pelo vestíbulo, e ele beijou a pequena mão enluvada que ela estendeu, inalando seu perfume feminino. Endireitando-se, estudou-a, admirando suas formas delicadas e graciosas.

Embora soubesse apreciar os encantos da jovem beldade loira de grande olhos azuis, ainda não conseguia entender exatamente por que seu irmão a pedira em casamento. Formavam um par que não combinava, pensou, e aquela não era o tipo de mulher que achou que o irmão iria querer desposar.

A mãe e a avó de ambos, por exemplo, eram mulheres dinâmicas, complexas, com admirável força interior e qualidades que superavam as futilidades normais das filhas paparicadas da aristocracia.

- Está ainda mais bonita do que na última vez em que a vimos - comentou.

Mira bateu de leve no peito dele com o leque fechado.

- Que galanteador, milorde. Estou do mesmo jeito de sempre.

- Se estava assim tão bonita seis meses atrás, como foi que Christopher deixou você partir de Londres? - perguntou Padraig, dizendo as coisas certas, mas não as sentindo. Na verdade, ficara contente em vê-la partir.

- O inverno em Londres é terrível. Toda aquela fuligem molhada e poças sujas. - Mira apertou os lábios rosados, estremecendo de leve. - Aqui em Warwick adoro quando os jardins adormecem sob um manto de neve e me acomodo ao lado do fogo com os meus bordados. Não preciso de muito para me sentir feliz, a simplicidade me satisfaz.

Padraig duvidava de que Mira visse alguma simplicidade na opulenta mansão de Warwick. Na verdade, ela era mimada e superprotegida, mas isso, afinal fazia parte da criação de uma dama. Nesse aspecto, podia perdoá-la.

Ele tornou a se perguntar como o irmão pudera achar que conseguiria se casar com uma jovem daquelas. Era como uma boneca de porcelana, a personificação da dama perfeita.

Ele próprio não pôde se imaginar dormindo com ela. Parecia frágil demais, como se pudesse se quebrar. E não pôde deixar de pensar que a jovem parecia presa às convenções sociais, recatada ao extremo para desfrutar dos prazeres sensuais, que ele esperava encontrar em seu leito conjugal.

Padraig desviou seus pensamentos numa direção mais cavalheiresca, não era apropriado tecer tais tipos de imagens sobre a mulher que seu irmão desposaria, e Christopher certamente não teria gostado disso. Seu irmão tinha um exacerbado senso de dever. Era um homem que sempre fazia a coisa certa.

- Obteve notícias do meu irmão? - perguntou ele.

- Sim, recebi uma carta enviada na véspera do dia em que ele estava se preparando para deixar a Irlanda - respondeu Mira, sorridente. - E você?

- Também recebi uma carta, escrita no mesmo dia. Christopher mencionou que esperava que todos nos reuníssemos em Chester. - Padraig ansiava para reencontrar o irmão e saber como os negócios haviam transcorrido na Irlanda, se tudo tivesse ido bem, a empresa de construção naval e comércio marítimo da família se tornaria ainda mais poderosa.

- Sinto tanto a falta dele... - suspirou Mira.

Se fosse verdade, pensou Padraig, ela não deveria estar usando um vestido tão revelador na ausência do noivo. Ele mal conseguia parar de olhar para seu decote. Foi um alívio quando Mira o conduziu ao grande salão que converta numa espécie de museu pessoal, mostrando com orgulho inúmeras relíquias de sua família que haviam ficado guardadas no sótão durante várias gerações.

Padraig teve de admitir que ficou impressionado com o trabalho e dedicação da jovem.

- Gostaria de ver algo especial?

- Claro.

Mira parou diante de uma caixa de vidro que continha uma carta de aspecto antigo estendida sobre um fundo de veludo negro.

- Veja milorde, esta é uma carta convidando meu tio-avô Bret Kimball para a propriedade de sua família em Southampton, já chamada Beauport. Está datada de 1742 e foi escrita por sua tataravó, Amélia Bradburn, duquesa de Eton. Não é maravilhoso? Parece que nossas famílias já se conhecem há mais de sessenta anos.

- Puxa, que descoberta notável.

- E há mais, milorde - disse Mira com os olhos brilhando cheios de orgulho e entusiasmo. - Também encontrei diários do meu tio-avô. Bret Kimball era apreciador de história, acredito eu, pois deixou vários diários com seus escritos. Ainda não tive tempo de ler, mas a descoberta me impeliu a enviar um pedido a sua mãe, solicitando permissão para visitar o sótão de sua família em Southampton. Quem sabe outras ligações talvez eu encontre entre nossas famílias?

- Escreveu a ela? - A jovem era certamente tenaz. A propriedade em Southampton era onde Christopher fizera seu lar, longe de Londres e da corte, onde podia se dedicar a seus próprios interesses. Mira poderia ter aguardado um pouco até o retorno de Christopher e lhe perguntado se poderia se reunir a ele lá.

- Simplesmente não pude esperar. Christopher está sempre tão ocupado com os animais, navios e aquela tolice de destilar uísque. Sua mãe foi amabilíssima, não apenas enviou permissão para que eu passasse quanto tempo precisasse em Beauport, mas também enviou uma carta à criadagem de lá, informando que serei bem-vinda a qualquer momento.

Mira prosseguiu, quase obsessiva em seu entusiasmo:

- Sou fascinada pela venerável e prestigiosa história da minha família e agora, descobrir tal elo entre os Kimball e os Bradburn foi algo que superou minhas expectativas! Assim que partimos de Chester, viajarei para Southampton, para visitar Beauport e aproveitarei para levar os diários a fim de lê-los nos momentos livres. Mal posso esperar para ver que fantásticas descobertas resultarão da minha pesquisa lá.

E Padraig não pôde deixar de notar que Mira não pareceu tão entusiasmada diante da perspectiva de rever Christopher quanto se mostrava para explorar a mansão.

Nem indicou que pensava em Beauport como mais do que um lugar para descobrir fatos históricos.



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