Parte 8

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O silêncio da noite era rompido pelos ruidosos sacolejos da carroça e os resfôlegos da égua pressionada além de seus limites.

Dulce Saviñón sabia que era o momento de para de correr, mesmo que fosse apenas por algumas horas. Puxando as rédeas, fez Nixie parar junto a um pequeno arvoredo, onde esperava, que ninguém aparecesse para emboscá-la enquanto descansasse um pouco. A fadiga pesava em seus ombros e nas costas devido ao assento duro. O estômago roncava, insatisfeito com os poucos pedacinhos de pão que conseguira engolir a cada vez que parara a carroça para subir na parte de trás e fazer descer mel e água cuidadosamente pela garganta do estranho.

Entretanto ele parecia melhor, pensou ela, permitindo-se uma onda de orgulho. Salvara a vida de um homem, e também a sua. Nada mais de desperdiçar sua vida, desesperada e sozinha. Estava agarrando a possibilidade de algo mais.

Depois que cuidou de Nixie, Dulce deixou o manto do cansaço engolfá-la, não mais lutando para vencê-lo. Subiu na carroça, ajeitando-se debaixo das cobertas e peles para se deitar ao lado do homem que ali dormia. Ajeitou as cobertas sobre ambos e, quando o fez, sentiu o contato da pele dele.

Ocorreu-lhe que estava prestes a passar a noite deitada ao lado de um homem completamente nu. Tratou logo de ignorar o lado indecente da situação. O fato de estarem partilhando seu calor era uma questão prática.

Então, por que não conseguia parar de pensar no rosto dele, e num corpo forte e musculoso? E, ali no escuro da noite fria, sentiu as faces queimando quanto se lembrou das partes mais íntimas dele.

O homem se mexeu em seu sono, e ela se aninhou junto ao corpo dele. O casulo de cobertas era extremamente aconchegante, e ela sentiu o calor penetrando em sua pele, relaxando-a. Não deixou de lhe ocorrer que não tocara outro ser humano desde que a mãe partira. Era tão bom estarem próximos daquele jeito, segurá-lo como quisesse e conceder o mais singelo gesto de afeto: um abraço. Assim, passou o braço em torno do peito largo e segurou-o junto a si.

Imaginou-o como seu príncipe, rindo consigo mesma de tamanha tolice, mas afinal, era a sua fantasia, não era? Será que ele acordaria com um beijo? Porém, a realidade interferiu depressa ao lembrar-se do medo nos olhos do desconhecido quando a vira.

Ele tornou a se mexer, emitindo um murmúrio de contentamento com seu sono. A reação instigou a curiosidade dela.

- Gosta do contato do meu corpo junto ao seu tanto quanto eu? – perguntou, encorajada pelo fato de saber que o homem não podia ouvi-la. Correu a mão por seu peito, afagando de leve.

Ele suspirou, aninhando-se mais junto a ela.

Dulce apoiou-se no cotovelo para poder observar o bonito rosto adormecido.

- Se eu o beijasse, você acordaria? – sussurrou.

Sorrindo da própria fantasia, inclinou-se e beijou-o nos lábios. Pretendera dar um beijo leve, mas ele suspirou de encontro a seus lábios e o hálito quente e doce a fez se deter mais. Aqueles lábios tinham o gosto do mel com água que lhe dera e eram macios e convidativos. Em seguida, afagou o rosto dele, correndo os dedos na forma de delicadas caricias pelos contornos másculos. Continuou a afagá-lo, deslizando a mão com suavidade por suas orelhas, rosto e pescoço.

- Você está vivo. E logo, quando tiver sarado o suficiente, acordará.

Acariciou o peito dele, o abdômen firme e, tomada por súbita ousadia, correu a mão pelo quadril estreito, pela coxa musculosa. Não podia deixar de admirá-lo. Ele tinha uma compleição perfeita, como uma escultura, um adônis.

Tornou a se recostar, abraçando-o pelo peito, aninhando-o junto a si de uma maneira que sabia não ser tão casta, mas era impossível ignorar a sensualidade do momento. Assim, horas se passaram antes que conseguisse adormecer.

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