Christopher Uckermann se deu conta da dor antes de qualquer outra coisa. Era como se seu corpo tivesse sido surrado. Não havia um único músculo que não protestasse, dolorido. Fraco demais para abrir os olhos, percebeu alguns odores a sua volta: fumaça, terra, peles e incenso.
A última coisa de que ele se lembrou foi que estava morrendo. O terrível momento voltou a sua memória em detalhes fragmentados. O balanço do navio, a garganta ardendo insuportavelmente, a febre alta e incessante, os espasmos e as convulsões, e o envolvimento gradual do escuro manto da morte, entorpecendo-o até que não restou mais nada.
Christopher começou a se sentir mais desperto, percebendo que estava completamente nu, o corpo roçando em peles macias. Mexeu os dedos das mãos e dos pés. E ao seu lado, uma pessoa se moveu e sentou.
Uma onda de choque percorreu-o. Onde estava e quem estava ao seu lado?
Christopher manteve-se imóvel, de olhos fechados, fingindo estar profundamente adormecido. Dedos tocaram seu pescoço com gentileza, sentindo sua pulsação. Cabelos caíram sobre seu rosto como uma cortina de seda, perfumados com incenso exótico.
Uma face encostou-se na sua, macia e decididamente feminina. A mulher sussurrou em seu ouvido, eram palavras num idioma que ele não compreendia, mas continham um tom melódico, numa voz bonita e agradável. Então, afagou seu rosto carinhosamente.
Ele se manteve imóvel, porém a mente rodopiava. Quem era ela? O que aconteceu depois que ele havia perdido a consciência no navio? Vasculhou a memória, mas tudo o que conseguiu foi um vazio absoluto.
Percebendo que ela se levantou, tentou abrir os olhos, e conseguiu ver apenas a silhueta da mulher cuidando do fogo. A luminosidade feriu seus olhos sensíveis e teve de fechá-los depressa, mas não antes de ter notado a figura esbelta dela, usando trajes mais adequados à Idade Média do que ao ano 1806.
Lutou para se manter acordado, contudo a fadiga o fez adormecer e sonhar com fábulas e história antigas, contadas diante de fogueiras sobre povos de outros tempos.
