4. A Crise

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É mais um dia humilhante e cansativo que se inicia para Kageyama Tobio. Ele troca de roupa rápido e pega a mochila, com desânimo aparente por mais um dia fatídico.

No corredor de sua casa, a porta do quarto de Miwa está aberta. A irmã está lá dentro terminando de se maquiar. Pelo espelho, Tobio sente os olhos azuis dela presos nos dele.

Faz algum tempo que eles não conversam direito. Na verdade, faz algum tempo que eles não conversam sobre absolutamente nada, nenhuma palavra trocada desde aquele dia no hospital.

Tobio desce as escadas, antes que Miwa possa o alcançar para dizer bom dia. É estranho correr da sua irmã sem ser por um motivo bobo, como ter roubado seu gloss preferido ou roubado sua camisa que ela iria usar para sair. Desde que o avô deles morreu, Kageyama sente culpa por não ter aproveitado enquanto podia. Sente-se culpado por saber que o avô não iria vingar, e Tobio disse isso para Miwa mesmo que indiretamente.

Talvez a culpa não o deixasse existir no mesmo lugar que a irmã. Ela já estava se distanciando levemente quando o avô precisou ser internado, então, depois da morte dele, o elo que mantinha os irmãos Kageyama unidos, se partiu. Os dois netos que estavam sempre juntos, jogavam vôlei juntos e se divertiam juntos havia ficado em um passado imutável.

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Na escola as aulas seguem a mesma coisa. É entediante. É entediante não conseguir prestar atenção em nada. E em como nada a sua volta fica em silêncio o bastante para conseguir se concentrar devidamente na aula de geometria.

Os alunos conversam sobre várias coisas ao mesmo tempo, e infelizmente, a cabeça de Tobio capta tudo o que esses imbecis dizem. Kageyama apoia a cabeça no caderno em cima da mesa e tenta tirar um cochilo.

Sua mente não o deixa em paz por um minuto sequer.

Ele só queria que todos sumissem.

Ele odeia todos vocês.

Tobio aperta mais as pálpebras e a voz irritante da professora atinge seus ouvidos. Novamente aquele papo dos exercícios, da prova, da apostila… é tudo tão monótono.

É óbvio que Kageyama não consegue dormir. É óbvio que nem isso ele consegue fazer direito, desde a noite passada, enquanto encarava sem parar o teto escuro de seu quarto. Sua perna não para de se mexer. Kageyama escuta risadas. Eles estão rindo dele? Não. Você só pode estar maluco, ele pensa, sacudindo devagar a cabeça.

Uma dor aguda se instaura em sua mente. Ele levanta o torso e encara o relógio pendurado na parede da sala de aula. Se focar, consegue escutar o "tic-tac" incessante do relógio. Que loucura. Eu estou maluco, Tobio pensa, de novo.

Ficar acordado até altas horas não está deixando o são, isso também não se deve a problemas comportamentais como vícios ou outra coisa. Ele só não consegue descansar devidamente, faz muito tempo desde que conseguiu.

Kageyama fuça o apontador buscando a lâmina do apontador. Encara o relógio novamente, a professora em frente a lousa explicando sabe lá o que e volta a se dirigir para a lâmina, a guardando no bolso.

A cada "tic" sua perna levanta, e a cada "tac" ela abaixa novamente.

A dor de cabeça não para. As pessoas não param de conversar e rir. Tobio não suporta eles. Não suporta ninguém.

Flores em Meio a Tempestade - KageHinaOnde histórias criam vida. Descubra agora