Capítulo VIII

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Long night with your hands up in my hair
Echoes of your footsteps on the stairs
Stay here, honey, I don't wanna share

Delicate - Taylor Swift


Estar em um ambiente novo com pessoas novas não afasta os antigos medos e nem os impede de existir, no meu caso, um medo bobo de infância que me acompanhava por toda a vida adulta: vento.

Sim, eu tinha pavor de vento e não foi com bons ouvidos que recebi a notícia que a cidade atual que eu morava costumava ter passagens de ventanias muito fortes, uma delas já avisada pra cidade toda que aconteceria hoje as 15 horas.

Depois de um encontro perfeito com Edgar, eu esperava que a vida me presenteasse com um lindo dia ensolarado e um convite com muitos raios solares e protetor. Mas veja bem, na minha extensa pequisa ao escolher cidades pra morar, quando estava lendo sobre a cidade atual que moro, não li nada sobre vendavais. De todas as formas, Amanda me enviou uma mensagem casual parecendo ser a coisa mais rotineira do mundo dizendo: "hoje é dia de vendaval, Doralice, não saia de casa a não ser em extrema necessidade". Pelas redes sociais consegui ver que era algo extremamente rotineiro na cidade, todo comércio fechava pelas horas previstas e depois era só limpar a bagunça quando o vento passasse.

Sinceramente, minha vontade era pegar minhas malas e partir pra próxima cidade que fosse mais seca possível, mas antes de conseguir pôr o plano em prática já chegou alguns sinais de ventania que me fizeram dar meia volta e me esconder debaixo de quarenta cobertas após trancar a casa inteira.

Talvez eu estivesse exagerando mas ninguém controla de fato os próprios medos e nem era um medo tão absurdo, a natureza é muito sagaz: em menos de um minuto ela pode levar tudo e não há nada que nós humanos possamos fazer a não ser nos contentarmos que para a natureza somos formigas. Anna também morria de medo de vento, então ela estava tentando se cavar em mim enquanto ouvia o vento. Eu a abracei e fiquei tentando cantar uma música para me distrair a minha cachorra.

O barulho do vento começou a ficar mais forte: um barulho constante e cheio como se viesse atacar estava de maneira decrescente ocupando o lado de fora, eu ouvia algumas coisas caindo sem ter noção exatamente o que era. Não sei descrever a sensação que me surgia assim como mal posso descrever aquela avalanche de vento que ficava cada vez mais forte e mais perto de mim. O vento batia nas paredes com tanta força do lado de fora que até mesmo com a casa toda fechada, as portas e janelas ficavam batendo contra si mesmo e lutando contra as fechaduras. Enquanto o ritmo da natureza aumentava, o do meu coração não ficava muito atrás. Estávamos quase que como em uma maratona e o barulho só gritava mais forte.

Eu ouvia centenas de barulhos do lado de fora da casa, algumas coisas caíam em cima do telhado, tropeçava pelas janelas, as árvores que estavam presentes pelo bairro faziam sua presença vip com toda as folhas que passavam voando a 80km/h e eu senti o formigamento começar na minha mão. O barulho já se equiparava as ondas do mar, eu parecia estar em uma praia me afogando. De repente, a respiração começa a falhar: tento fazer um ou dois exercícios de respiração mas o barulho é tão forte como pancadas de ondas. Não faço ideia do que fazer, esse é o momento em que eu pediria pra Alicia me abraçar bem forte se eu ainda morasse com ela.

As vezes o vento diminuía e eu conseguia o ouvir um pouco mais ameno e distante, nesses momentos eu respirava fundo e tinha certeza que era só esperar passar. Mas em um desses momentos de tensão quando a ventania simplesmente voltava como socos de um gigante nas paredes, eu levantei da cama me tremendo toda de pavor e liguei para Amanda, assim ela poderia conversar comigo e eu me distrair.

MAIS QUE UM CASO, DORA [COMPLETA]Where stories live. Discover now