Capítulo XXI

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Por volta das 11:30 de Domingo eu já estava no meu carro pronta com uma orquídea que eu havia comprado para minha sogra. Chegou uma mensagem de Edgar me perguntando se eu já estava indo e eu sorri.

Ele estava me esperando.

Dirigi o carro pelo caminho já conhecido por mim, passando pelos lagos, pela praça e uma ansiedade que crescia dentro de mim de uma maneira que até beirava a uma piada visto de fora. Paro o carro na placa de pare e olho para trás, via livre, então continuo minha pequena viagem. Se eu soubesse onde, compraria um vinho mas acho que nem deve vender por aqui. Passo a marcha e entro no pequeno condomínio passando pela portaria com facilidade.

Ao chegar, estaciono meu carro, pego a orquídea e minha pequena bolsa. Confiro minha aparência e cabelo no espelho do elevador no pequeno trajeto: hoje o dia é diferente, não vou bater na porta escondida de Edgar, hoje entro na casa dos pais dele e conheço a família dele. Nunca exigi nada mas ele quis que eu fosse, isso me soa leve como uma brisa suave que bateria no meu cabelo numa tarde perfeita.

Edgar está me esperando com a porta aberta assim que o elevador chega e ele lindamente vem até mim com suas mãos no bolso, de coração aberto aprecio sua recepção e dou um leve beijo nos seus lábios.

- Que lindo, nunca ganhei flores.

Eu o encaro com vontade de rir.

- E vai continuar sem ganhar, é pra sua mãe.

Ele faz uma cara falsa de ofendido mas logo me dá um beijo na bochecha. Eu levanto o rosto e sorrio ao mínimo toque, observo Edgar e me sinto feliz de todas as escolhas que fiz até agora. Eu volto a dar um selinho nele e ajeito o cabelo dele que está um pouco emaranhado. Não que isso importe porque que garoto bonito! Fico sem palavras muitas das vezes!

- Vamos entrar?

Eu assinto, mas é claro! Não sei se tenho o direito de me sentir nervosa mas de fato é a primeira vez que conheço a família de um namorado. Fico imaginando o crescimento do nosso relacionamento: temos dois meses e parece uma vida. Tenho certeza que não sou a primeira a me sentir assim. Mas não me importa de fato o que os outros sentem, além de Edgar.

Edgar me puxa pela mão e me leva até a porta principal, reparo em uma sala de jantar e sala de estar acopladas. O visual é clean, todo espaçado e branco. Uma bela casa de classe média, meus pais achariam simples diante das mansões que vivemos, no entanto, eu achava que aquilo era perfeito. O suficiente. A mesa já estava posta e eu conseguia ver da entrada.

- Mãe? Pai?

Edgar chama mesmo que o próprio já soubesse que os pais dele já estavam esperando para me ver. Ambos pais de Edgar são senhores de idade, aposentados mas que tiveram uma vida e carreira muito boa. A mãe dele se levanta de prontidão para vir até a mim: a orquídea caí perfeitamente com a decoração branca do ambiente e ela parece gostar. É uma senhora baixa, com cabelos brancos e óculos de grau.

- Edgar falou bastante de você, Doralice. É um prazer pode finalmente conhecê-la.

- A honra é minha, de poder conhecer a família dele.

Seus olhos são muito angelicais, olhos de mãe. Tão diferente do olhar da minha mãe.

- Eu sou Linda, e esse é meu marido José.

Eu sorrio de longe, ele se levanta e me dá um abraço. Seu cheiro me lembra a talco de bebe. Sentamos a mesa e apesar de não saber direito o que dizer, Dona Linda tem muito o que falar e se mostra uma excelente anfitriã que me deixa perfeitamente confortável. Ela conta histórias de Edgar na infância e adolescência. Suas histórias são vivas e não me canso de ouvir. Ela também me pergunta sobre meus interesses e trabalhos que não me nego a dizer e eles não parecem julgar em momento algum. José é mais silencioso e faz comentários pontuais mas sempre com certa cordialidade. Percebi que Edgar era uma mistura dos dois tão bem construída: tinha o carisma da mãe e a elegância do pai.

Deve ser maravilhoso ter uma família espetacular dessas. Não precisei por algum segundo medir minhas palavras, em nenhum momento fiquei constrangida. A palavra certa a definir é calmaria.

Após o almoço, Linda me levou por uma pequena tour em seu apartamento enquanto deixou Edgar com a louça. Eu insisti para que me deixassem ajudar mas isso naquele primeiro dia estava fora de cogitação para todos eles. Linda tinha muitas fotos em seu quarto: e essa parte foi meio estranha pois todas as fotos incluíam Isabela. Desde a infância.

Tentei controlar meus ciúmes para não sair como chata porque realmente não tinha como e nem motivo para que aquelas lembranças boas fossem apagadas. No final da tarde, Edgar e eu nos sentamos na varanda olhando o céu.

- Queria ter te encontrado antes.

Ele me olhou de forma suave.

- Sinto que tem algo diferente na sua frase.

Ele estava certo. Edgar conseguia me ler de maneira encantadora.

- Vi tantas fotos suas com a Isabela, queria ser ela. Ter te conhecido desde sempre.

Ele me puxa pra mais perto e aperta minha mão. Depois, de modo suave, suas mãos puxam meu rosto para que eu pudesse olhar diretamente para ele:

- Dora, está tudo no lugar certo. - Ele suspira. - Você veio no momento exato, no momento perfeito. Eu e Isa tivemos uma história bonita, mas agora minha história é você e eu te amo.

Meu coração parou por alguns segundos e eu sequer tive coragem de me mexer. Ele havia dito que me amava.

- Você me ama?

Eu pergunto com o coração palpitando.

- E não é pouco, viu?

Eu o abraço.

- Também te amo. Muitíssimo.

Descobrir-se amar e encantar-se por alguém é algo verdadeiramente poderoso de diversas formas

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Descobrir-se amar e encantar-se por alguém é algo verdadeiramente poderoso de diversas formas. Entre mim e Edgar não havia grandes acontecimentos iguais aos filmes, mas os detalhes e o cotidiano faziam parte de um amadurecimento que nos colocava cada vez mais próximo um do outro.

Entre cafés, praias ao entardecer, costuras, filmes e noites de amor tudo se entrelaçava e nos unia. Era algo doce mas suave. Algo que não se destruía por si só.

Sempre julguei muito as pessoas que se conheciam e logo estavam casadas ou morando juntos, mas agora eu entendia: a necessidade de querer ficar junto nunca morria. A necessidade de dizer eu te amo o tempo todo. De agradar. De sentir um só.

Eu poderia dizer que Edgar era o fim dos meus fins, e que nada me deixaria mais surpresa se não fosse.

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