Capítulo XV

5 2 0
                                    


Dorinha,

Você pode ir para os lugares mais remotos que eu vou te encontrar minha pequena, de todos os casos e paixões, você sabe que você é o que criei para estar comigo. Tudo que eu disse era só para despistar minha esposa e você não deveria se magoar por isso. No dia que ela nos achou naquela sua cafeteria favorita e que eu disse coisas duras de você ouvir: era tudo mentira.

Minha esposa nunca significou nada para mim a não ser papéis contratuais e eventos necessários, mas entenda bem como ver: na vida de um homem como eu, tudo isso é necessidade. Eu entendo você estar brava mas relembre que você é a única que eu aprecio desde que você não era nada, era apenas uma menina. Nossos laços são além do que todo o mundo poderia entender. É verdade, eles não entenderiam.

E eu sei que você vai entender agora que está com um romancezinho, e é por isso que essa carta é destinada a ele também: Edgar, você pode a ter na superfície mas todo o resto me pertence.

Você sabe disso Dora.

Você sabe disso Dora

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

26 anos.

Naquele dia eu não saberia que seria a última vez que veria Ricardo, não sabia que não deveria ter saído de casa. Tem tantas coisas que penso quando me lembro daquele dia, me lembro dos desvios que poderia ter feito. Mas estava tão envolvida naquela paixão, ou seja lá o que for essa merda que usei minha melhor maquiagem, e um dos meus melhores vestidos. Aos 26 anos, a pessoa está ciente de todos seus atos e é o que eu gostaria de acreditar. A culpa de ter sido uma vadia dos 14 aos 26 anos repuxava meus olhos. Eu não fui nada além disso a minha vida inteira e fazia todo sentido, toda aquela falta de amor da minha família.

Revivo as memórias de eu dirigindo até o estacionamento do meu café favorito: lá havia os melhores bolos, melhores tortas e era o único lugar que Ricardo aceitava ir comigo porque era um pouco mais escondido dos outros lugares. Me olho no espelho e confiro a maquiagem que está intacta, tranco o carro e caminho até o local: Ricardo ainda não havia chegado como sempre, ele sempre atrasava: homem de negócios. Encarei a prateleira pensando em qual seria o meu pedido, eu amava o cheiro daquele lugar. Na vida, eu tinha esse amor por cafeterias, docerias que eu ainda não sabia de onde havia surgido. Mas para mim, os melhores encontros sempre seriam naquele lugar.

A garçonete me entrega o cardápio, mas já a conheço, não preciso avisar que estou esperando meu "namorado" pois ela já sabe. Então só me folheio as páginas enquanto espero e demora uns 20 minutos até que Ricardo passe pela porta giratória e me olhe, eu dou um sorriso para ele e já me levanto para abraçá-lo. Ele permita que eu o beije nos lábios e eu logo viro uma criança animada pela disponibilidade dele:

-Estava com saudades de você, meu amor.

Eu digo.

Empolgada.

- Quem não estaria?

Ele responde meio que brincando, pelo menos eu acho que sim. Puxo suas mãos para mim e pergunto sobre como está sendo seu dia, gosto que ele confie em mim. Gosto de ouvir ele falando sobre seus problemas, sei que a esposa não ouve então tento dar o meu melhor para cobrir o buraco. Que nojo de mim ao lembrar de todas essas dores e desesperos que encaminham na minha mente. Ricardo não se nega a falar, pelo contrário, ele me conta absolutamente tudo. Em alguns momentos mais sensíveis, ele diz que eu sou a melhor amiga dele. Pedimos nossos doces e continuamos a conversa, que dura por volta de mais ou menos meia hora até eu perceber a entrada dela naquela cafeteria.

Ali estava a esposa de Ricardo. Com seus cabelos brilhantes, seus salto alto e vestido impecável.

-Então é com essa pirralha sem talento que você perde seu tempo, Ricardo?

Os gritos delas eram ouvidos por todos. E por ser uma atriz famosa, as pessoas já se acumulavam para tentar entender o que acontecia. Ricardo obviamente se faria de doido até onde pudesse.

- Como assim? Essa é nossa afilhada, estou tomando um café com Dorinha.

Sua voz soa tão natural, como se a mentira fizesse tão parte da sua rotina que nem doesse lhe falar nada. Sua esposa abre um pequeno pacote e joga na mesa fotos nossas em outros lugares, ela provavelmente tinha contratado um detetive particular. Eu me abstive quieta, o que eu poderia falar? Quando ele olha as fotos, ele simplesmente dá de ombros como se agora o que restasse é enfrentar a verdade.

- Meu amor. - Ele diz a ela. - Aconteceu, mas não significa nada. Você é a mulher que deitará comigo no fim do dia, Dora é uma amiga da família e eu fui burro de ouvir meus instintos masculinos, mas isso não diminui o tamanho do amor por você.

Eu continuo quieta, afinal, ele está fazendo o que deveria fazer, não é?

Ou eu seria burra de acreditar que ele me escolheria agora?

Quando ela termina de ouvir o que ele tem a dizer, ela dá lhe um belo tapa na cara. Mas as coisas não terminam por aí, quando percebo o tapa bate nas minhas bochechas e ardem profundamente. Antes dela mesmo me dizer:

- Você não tem vergonha, Doralice? Se fosse pelo dinheiro, mas você é rica. O que ganha com isso? O que ganha com ele te usando e você deixando como uma vadia?

- Eu o amo.

Digo percebendo que foi um grande erro porque ela ri e Ricardo também ri antes de dizer:

- Aí é um erro dela né? Eu avisei que era só sexo.

Sua esposa ri:

-Tá vendo que papel de idiota você está fazendo? Ricardo, essa é sua última chance, fique comigo ou vá para onde quiser com essa pirralha.

Eu o olho, por alguns segundos acho que acreditei mesmo não devendo que as coisas poderiam mudar o rumo. Obviamente não mudaram.

- Não tem escolha, meu amor. Olha o escândalo que você fez, poderíamos ter resolvido isso em casa. Dora, você sempre soube que entre nós era só físico. Estou indo.

Da forma mais ridícula, eles saíram da cafeteria brigando e aquele cheiro me enjoaria pelo resto dos meus dias.

Fui diretamente para casa porque imaginei que seria melhor me esconder dentro do meu quarto do que permanecer em qualquer outro lugar

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

Fui diretamente para casa porque imaginei que seria melhor me esconder dentro do meu quarto do que permanecer em qualquer outro lugar. Existe um espaço muito grande em quando você só tem uma pessoa na vida desde a infância: você não tem quem chamar para conversar quando as coisas dão errado. Acho que eu estava tão em choque que minhas lágrimas não desceram um segundo sequer.

O que eu não esperava é que assim que eu entrasse pela porta da minha casa, minha mãe viria com toda fúria em seus olhos na minha direção e me lançasse um tapa no rosto tão forte que só mesmo Alicia viria para puxar ela para longe de mim:

- Mamãe, o que está fazendo?

Alicia gritou desesperada e eu ainda estava paralisada na porta de entrada.

- O que eu estou fazendo? - Ela gritou. - O que a vadia da sua irmã está fazendo? Destruindo a reputação da nossa família.

Alicia a afastou de mim mais uma vez, e perguntou com voz suave:

- Como assim?

-Saiu em todos os sites de fofoca que sua irmã tem um caso com Dr. Valentin.

Alicia me olhou.

Olhos de compaixão.

Os detalhes são poucos porque minha mente estava saturada, só lembro de pular da janela do quarto andar enquanto atrás de mim Alicia tentava me alcançar a tempo.


MAIS QUE UM CASO, DORA [COMPLETA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora