Primeiros passos

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Bakugou não deixou Ochako escapar tão fácil assim do hospital, ele a fez ficar uma semana em observação para que tivessem a plena certeza de que a castanha estava bem, pelo menos fisicamente. Ochako tentava se sentir bem na maior parte do tempo, mas sempre que estava sozinha as lembranças daquele dia horrível voltavam à tona.

Seus pais ficaram três dias com ela, mas infelizmente precisavam retornar para o trabalho. Sua mãe a deixou com o coração partido, mesmo a castanha jurando que iria ligar todos os dias para dar informações, Bakugou assegurou que iria cuidar da castanha como seu bem mais precioso do mundo.

O loiro não mentiu, cuidou da castanha da melhor maneira possível, foi resistente quando Ochako disse que ficaria em sua própria casa.

– Sinceramente Ocha – ele disse de cara fechada — Essa foi uma das piores ideias que você já teve.

Ela riu se lembrando da cena, Bakugou sempre foi zeloso, mas agora estava mais do que tudo. Ochako não reclamava, era bom ser cuidada e ele estava fazendo isso da melhor maneira.

Foram inúmeros fatores que fizeram Ochako escolher ficar em sua casa, mesmo que ficasse sozinha boa parte do tempo, mas talvez fosse por isso que ela optou por ficar em casa, sozinha ela conseguia raciocinar melhor.

Eles não a pressionaram para falar, mas a castanha sabia que esperavam alguma coisa, pelo menos que ajudasse a entender a série de fatores que aconteceram.

Acima de tudo, Ochako achava que eles mereciam uma explicação. O único problema era como falar? Como contar o que Mineta fez? Como contar para Bakugou o que o médico que trabalha com ele fez?

Ele não poderia ficar impune, Uraraka não conseguia se imaginar voltando a trabalhar no mesmo lugar que seu agressor estava.

Uraraka estava deitada em sua cama quando a campainha tocou, ela levou seus olhos ao relógio que estava em sua cabeceira e concluiu que era cedo demais para ser Bakugou ou até mesmo Mina dizendo que esqueceu a chave e por isso estava apertando a campainha.

Ela se levantou e caminhou resmungando até a porta, sua cama estava tão deliciosa. Rapidamente prendeu seu cabelo em um rabo de cavalo e tossiu levemente.

— Quem é? — a castanha perguntou sem abrir a porta.

— Uma entrega para senhorita Uraraka — o entregador disse de forma mais simpática possível.

— Ugh — ela se surpreendeu — Só um minuto, por favor.

Ochako destrancou a porta o mais rápido possível, aquilo provavelmente era coisa de Bakugou. Seus olhos brilharam ao ver o lindo buquê de rosas brancas com algumas vermelhas e um cartão, a castanha não conseguiu conter o sorriso.

– Obrigada – ela disse sorrindo ao pegar o buquê – Tenha um ótimo dia.

Ela andou apressadamente até a bancada e pegou o celular em seu bolso, abriu aplicativo de mensagens e direcionou a conversa de Bakugou. Rapidamente tirou uma foto do buquê e lhe enviou dizendo obrigada.

A castanha voltou sua atenção para o buquê, era inevitável não sorrir. Seu celular vibrou chamando sua atenção, era Bakugou ligando.

– Oi, meu anjo – ela disse sorrindo – Obrigada pelo buquê.

– Cara de lua – ele parecia preocupado – Eu não mandei nenhum buquê.

– Não? – ela perguntou sem entender – Então quem mandou?

Bakugou soltou uma risada – Não sei meu amor, não tem nenhum cartão? Ou até mesmo o entregador não falou nada?

– Veio com um cartão – ela pensou rapidamente – Deixa eu ver.

Uraraka pegou o cartão rapidamente e abriu.

"Desejo melhoras e que você volte logo, a clínica não é a mesma sem você. 
                                                                            At.M"

Seu estômago revirou, os olhos se encheram de lágrimas e sua cabeça começou a rodar, todo aquele dia fatídico voltou de uma vez. Ela não conseguia falar, não conseguia respirar, queria gritar por socorro, queria pedir ajuda para Bakugou, mas não conseguia.

– Cara de lua? – o loiro a chamou pelo telefone, mas ela não o respondeu – Anjo? – mas uma vez o silêncio foi sua resposta – Ochako? Está tudo bem? – ele pode ouvir a respiração dela ficando pesada – Estou indo para a sua casa, chego em dez minutos.

Ochako não conseguiu responder, apenas deixou o celular em cima da mesa e correu para o banheiro, vomitando tudo que tinha ingerido no café da manhã. A castanha encostou seu corpo na parede fria do banheiro e abraçou suas pernas, apoiando sua cabeça nos joelhos.

Voltar.

Em nenhum momento havia passado por sua cabeça que teria que encontrar Mineta, que iria o ver todos os dias na clínica, que ele iria conversar com ela todos os dias. Ela teria que conviver com ele. Ochako definitivamente não estava pronta para isso, aliás ela não queria isso.

Sentia uma enorme angústia em pensar que isso aconteceria em breve, ela deveria conversar com Bakugou, ele faria algo né? Ele não iria deixar Mineta sair livre dessa, ou deixaria? Eles eram amigos muito antes dela chegar, poderia aliviar para ele, afinal homens sempre fazem isso quando se trata de amigos.

Ochako balançou a cabeça em sinal de negação, Bakugou era diferente e ela sabia, ele nunca faria isso independente de quem fosse a vítima, abusador era abusador.

– Ochako? – Bakugou estava agachado ao seu lado – O que foi meu amor?

– Baku – ela murmurou.

– O que está sentindo? – ele acariciou levemente seus cabelos.

– E.. eu ... eu – ela fitou seus olhos, sem coragem para falar.

– Ochan – ele sabia que havia algo de errado – Você está com medo de me falar? – ela acenou que sim com a cabeça – Está tudo bem minha vida, eu estou aqui do seu lado.

Uraraka respirou fundo e voltou a esconder a cabeça entre os joelhos, refletiu em silêncio quantas mulheres passaram pela mesma situação e não tiveram a sorte de poder relatar a um superior o que aconteceu, ou até mesmo relatou e não aconteceu nada.

– Eu preciso contar uma coisa – ela manteve seu olhar escondido.

– Me conte, por favor, no seu tempo – ele se ajeitou ao seu lado.

– No dia do acidente aconteceu uma coisa – Ochako não tinha coragem de olhar em seus olhos – Eu estava na minha sala quando ele entrou e Bakugou, juro que nunca quis nada com ele ou até mesmo quis insinuar algo – sua voz embargou.

Bakugou cerrou os olhos, no fundo ele sabia do que se tratava e de quem se tratava, porém era algo tão difícil de acreditar – Ochan – seu tom de voz era macio – O que aconteceu?

– Eu estava na minha sala quando ... Quando o Mineta entrou – os flash daquele dia voltaram à tona em sua memória – Ele queria algo comigo, ele sempre quis algo comigo Baku, mas eu sempre neguei, nunca pensei que ele faria aquilo ...

O corpo de Katsuki enrijeceu, sua vontade era de interrompê-la, de não querer ouvir, o machucava saber que Ochako havia passado por isso. O machucava saber que havia acontecido em seu local de trabalho, na clínica que ele era dono, com um médico que ele conhecia e sabia de suas índoles. O machucava saber que era algo evitável.

– Ele entrou na minha sala, me prensou contra a parede, disse coisas horríveis e me deu um tapa no rosto – a castanha levou a mão na bochecha onde tinha sido atingida, ela ainda sentia a dor – Foi desesperador, Bakugou – disse entre lágrimas – Eu só queria sair dali, queria um lugar seguro.

Katsuki sentia todo seu corpo contrair de raiva, queria dar uma lição em Mineta por tudo o que fez Ochako passar, ele não poderia ficar impune disso – Você não tinha contado isso a ninguém? – ela negou com a cabeça – Por que está me contando agora?

– Ele me mandou flores e desejou bom retorno.

– Filho da puta – a castanha murmurou algo baixo – Vamos para a delegacia, você vai fazer um boletim de ocorrência contra ele.

– Não, não, não – ela negou rapidamente.

– Por que não? – o loiro perguntou incrédulo.

– Ter que me sujeitar a passar por exames, ser questionada se em nenhum momento deu a entender que eu queria algo e depois mudei de ideia, ou até mesmo desacreditada – Ochako disse nervosa – Não, obrigada.

– Uraraka.

– Bakugou, em nenhum momento ele vai ser questionado, mal vão chegar até ele. Infelizmente, é a realidade.

– Eu vou estar com você – ele disse firme enquanto acariciava levemente seu braço – Nós vamos ter provas contra ele, por favor, é um direito seu.

Ochako respirou fundo, teria que reviver aquele dia na frente de outras pessoas, passar por vários processos que talvez nem valessem a pena – Bakugou ... – era sua última tentativa de fazê-lo mudar de ideia.

– Ochako – ele respirou fundo – Eu não quero te forçar a nada, mas você precisa fazer algo para que não aconteça com as outras, ou se infelizmente aconteceu, que elas tenham coragem de denunciar.

Ela o olhou pela primeira vez desde que começou a falar sobre o que aconteceu, Bakugou reparou que seu olhar estava diferente, transmitia tristeza. A castanha se aconchegou mais perto e o loiro a abraçou fortemente, tentando transmitir segurança.

Uraraka não falou mais nada, apenas queria ficar quieta enquanto pensava em tudo o que havia acontecido. Bakugou também não sentia a necessidade em falar algo, tudo o que poderia ser dito já havia sido, agora era absorver e pensar no que fazer. Ele não iria forçar ela a dar queixa, mas com certeza iria dar uma lição em Mineta.

– Bakugou – a castanha o chamou – Você dormiu? – ela riu – Você dormiu no chão do banheiro.

O loiro olhou ao redor, ainda tentando onde estava localizar – Apenas descansei as vistas – ele pode ouvir outra gargalhada – Ei, eu vim direto do plantão – fingiu estar bravo.

– Desculpa – ela disse o olhando carinhosamente – Eu fiquei com medo de te contar, mas sinto que estou preparada para contar agora. Obrigada – ela deu um meio sorriso – Obrigada por ser você.

– É o mínimo que eu posso fazer por você, Mineta tem que pagar pelo o que fez – ele disse sério – Mas Ocha, agora podemos levantar e sentar em um lugar confortável?

Ela riu – Por favor, estamos no chão desse banheiro há horas, já estou morrendo de fome.

{...}

Uraraka nunca soube se um dia estaria preparada para contar sobre o que aconteceu ou como aconteceu, ela tinha para si que não falar sobre o assunto e não contar a ninguém faria com que nunca tivesse acontecido.

Porém, a realidade a puxou de volta e quando caiu em si, saberia que não iria conseguir reviver todos os dias por muito tempo o que aconteceu. Ela sabia que teria que falar, mas toda aquela angústia a impedia. No momento em que ela estava com Bakugou no chão daquele banheiro, Ochako se abriu, retirando todo o peso de suas costas. Bakugou a acolheu e incentivou, ela sabia que precisava dar outro passo e contar para quem tinha autoridade de ajudá-la.

Uraraka sentia que estava tirando o pino da granada e a qualquer momento ela iria estourar.

E ela não tardou muito a explodir.

Antes de dar queixa na polícia, a castanha contou o acontecido para seus pais e Mina, um relato cheio de angústias e lágrimas, ela optou contar antes para que não houvessem surpresas. Como o esperado, eles se prontificaram a ajudá-la, seus pais se abalaram mais, um dos maiores medos das suas vidas aconteceram e eles não estavam perto para a acolher e proteger.

Eles conversaram com Bakugou, que mais uma vez provou o quanto amava Ochako e tranquilizou dizendo que tudo ficaria bem, eles iriam superar tudo aquilo juntos.

Ochako sentiu o frio percorrer sua espinha assim que colocou os pés na delegacia, rapidamente olhou para Bakugou e Mina que estavam ao seu lado, queria desistir e voltar para casa. Em olhares companheiros e solidários, Bakugou e Mina seguraram suas mãos e levemente apertaram, aquele aperto de que tudo ficaria bem.

Ela se lembra de respirar fundo e se dirigir a recepcionista, a moça foi gentil, soube conduzir toda a situação. Em questão de minutos a castanha já estava prestando depoimento, para que ela se sentisse confortável, as pessoas envolvidas no seu caso eram mulheres, para que tudo acontecesse de melhor maneira para a vítima. Uraraka se recordava da sensação de alívio que veio após realizar o boletim de ocorrência, de como tudo parecia estar andando corretamente, sem julgamentos e sem medo daquilo não dar em nada.

A notícia sobre o acontecido logo se espalhou, todos iriam ficar sabendo no meio da medicina o que um médico famoso como Mineta fez, ainda mais que associaram Ochako a Bakugou. O cabeça de uva ficou algumas semanas sem aparecer no consultório, sem atender ligações, tentava de toda maneira se esquivar das responsabilidades de seus atos.

Porém ele cometeu mais um erro, achar que Bakugou deixaria passar batido o que fez ou até mesmo só meter uma bronca como Kirishima fazia. Mineta retornou a clínica há alguns dias depois da queixa, Bakugou e Kirishima agendaram uma reunião para informar seu desligamento.

A informação não foi muito bem aceita, o arroxeado achou ruim e acabou entrando em uma discussão calorosa com Bakugou.

– Você se importa demais com o que aquela menina sente, Bakugou – Mineta disse em um tom de deboche – Ela é só mais uma como todas as outras.

– Como todas as outras? – ele perguntou sem entender.

– Achou mesmo que ela foi a primeira? – ele riu fazendo com que Bakugou contraísse todo o corpo – Você não acha que elas precisam merecer estar aqui? Precisam agradecer de alguma forma, não acha?

Bakugou contraiu a mão o mais forte possível, respirando profundamente e se concentrando para não perder o controle.

— É injusto que Ochako agradeça somente a você.

— Sabe qual o seu problema, Mineta? — ele acenou que não com a cabeça — Você nunca encontrou alguém que te desse uma lição, mas eu to aqui disposto a fazer isso e com muito prazer.

— Bakubro — Kirishima o adverte — Não faça isso, você vai se arrepender.

Katsuki sorriu de lado — Ah, com certeza não irei – o loiro desferiu um soco no rosto de Mineta, fazendo com que ele caísse para trás.

— BAKUGOU! — o ruivo gritou — Sai agora e vai colocar gelo na mão, ela custa milhões por mês.

— Tsk.

Bakugou queria machucar mais Mineta, queria fazer com que ele se arrependesse de cada palavra dita, de cada toque inadequado, mas não valia a pena, Ochako já não iria gostar nada de saber o que ele fez.

— Tsk, que merda.

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⏰ Last updated: Aug 30, 2022 ⏰

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