Capítulo 6- Uma porta se abre

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Domingo era um dia de família, quando pessoas se reuniam em casa de parentes, ou os recebiam em suas residências, e dividiam uma daquelas mesas de comidas caseiras, onde a sensação que se tinha era de apoio, carinho e principalmente, amor.

Fazia algum tempo que Anne não vivia essa experiência, de se sentir ela mesma no meio de sua família em um fim de semana como aquele. Raramente suas folgas do trabalho caíam em um sábado ou domingo, por isso, sempre que ia a Green Gables, eram visitas rápidas que quase nunca dava para passar o dia todo, ou comer uma daquelas refeições apetitosas de Marilla.

Tanto Matthew como sua mãe de criação, cobravam dela visitas mais longas, e não entendiam porque aos vinte e cinco anos, Anne tinha que trabalhar feito uma moura, lhe sobrando pouco tempo para diversão. Era difícil explicar a eles que não se interessava pela vida noturna a um bom tempo, e que aquela Anne que gostava de se arriscar sem medo do amanhã, tinha sido sepultada a quase três anos. O trabalho era a única distração que precisava, além dos livros que a acompanhavam por todos os lugares. Estava bem assim, aceitava as coisas como eram, porque se não o fizesse, iria transformar todos os seus dias em um drama pessoal sem precedentes.

Ela caminhou alguns quarteirões, até encontrar seu banco favorito em uma praça tranquila, onde costumava passar algumas de suas horas livres. Havia uma casa, assim como outras por ali também, que tinha um ype roxo plantado bem na frente. Anne não entendia porque aquela casa a encantava tanto, na verdade era que amava a maneira como fora construída, e que lhe dava a sensação de que as pessoas que viviam ali deveriam ser muito felizes, pois tudo naquela construção parecia ter sido feita de maneira especial.

Um dia, quando tivesse dinheiro suficiente para isso, Anne gostaria de comprar uma casa como aquela onde pudesse começar sua própria família, quase podia ver crianças por todos os lados. Tal pensamento a fez sorrir, mas logo a alegria desapareceu ao pensar que a família que queria iniciar não seria com Robert.

Tinham feito tantos planos para quando acabassem a faculdade. Anne se lembrava de como ficava abraçada com ele, enquanto o rapaz lhe falava de tudo o que queria realizar com ela. Tantos sonhos dourados, destruídos por um segundo de distração. Nunca ia aceitar o que tinha acontecido, principalmente porque carregava aquela enorme culpa em seu coração.

Tentando modificar a frequência de seus pensamentos, Anne abriu o livro que trazia consigo, mergulhou na leitura, e em pouco tempo estava perdida no enredo dos personagens e seus dramas. Não viu o tempo passar, e só quando seus olhos começaram a ficar doloridos por conta das letras miúdas, foi que ela fez uma pausa e começou a se entreter com a paisagem.

Seu olhar captou um rapaz saindo pela porta da frente da casa pela qual ela era apaixonada, e a figura lhe pareceu vagamente familiar, mas não dava para ter certeza da onde estava, mas seus movimentos não eram estranhos, principalmente no andar.

Ele saiu no portão, e ela o viu acariciar um cachorrinho que se aproximou dele, e então começaram a brincar. O rapaz encontrou um graveto por ali, e atirou longe, enquanto o animal dava o seu melhor para ir buscar o objeto, que era jogado cada vez mais distante. Por quinze minutos, Anne se divertiu com a cena, observando a interação entre eles. Mas para seu desapontamento, o rapaz encerrou a brincadeira, fez um último carinho na cabecinha do cachorro e entrou na casa novamente.

Ela decidiu que era hora de voltar pois estavam quase na hora do almoço, por isso, deixou seu refúgio secreto, e fez o trajeto de volta. No caminho, cruzou com Diana, que caminhava de braços dados com Jerry e lhe acenou animadamente, pedindo com um gesto de mão que a esperasse.

-Anne, que bom ter te encontrado aqui.- Diana disse, beijando a ruivinha na bochecha, enquanto Jerry lhe dava um sorriso amigável.

-Estou aproveitando meu dia de folga, e pelo jeito vocês também. Anne respondeu.

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