Capítulo 12 - Um único desejo

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Segunda-feira nunca foi um de seus dias favoritos , pois trazia a preguiça do fim de semana, quando não tinha plantão, e entrar em um modo funcional logo de manhã era outro ponto complicado.

Contudo, aquele início de semana estava sendo especial para Gilbert que desde a festa do hospital se sentia extremamente energizado. Não tinha esperado o beijo que Anne lhe dera, embora tivesse desejado aquilo há semanas.

Várias vezes nos últimos dois dias, ele recriara aquele momento em sua mente, sentindo de novo o gosto dos lábios carnudos nos seus. Ele mal conseguira dormir, sonhando com ela em sua cama, desejando-a mais do que seria prudente, quase fazendo a loucura de ir até a casa dela, e roubar vários outros beijos, até que satisfizesse a vontade insana que seu corpo tinha dela, queimando naquele desejo que deixava seus pensamentos incoerentes e totalmente fora de rumo.

Mas se controlara, mesmo que precariamente, e para isso se submetera a uma série de exercícios mentais e físicos. Fazia três anos que não se sentia tão atraído por alguém, e até pensara que seu coração estivesse morto para sempre, mas os sentimentos tinham seu próprio tempo e gatilhos para serem despertados, e talvez o passado de Anne se alinhasse com o seu em questão de profundidade, e por isso tivesse encontrado nela o que faltava dentro de si mesmo.

Ele ainda queria saber sobre Robert, qual era a história por trás de todo aquele mistério. Anne parecia carregar uma carga pesada dentro de si, e ele precisava descobrir do que se tratava. Ao mesmo tempo em que queria entender o que a mantinha presa a um homem que aparentemente a tinha abandonado.

Talvez, Gilbert estivesse errado em insistir, pois como ela dissera, não era uma mulher livre, mas se era mesmo assim, por que ela o beijara? Aquela pergunta o perseguira todos aqueles dias em que não a vira, e continuava em sua mente como uma ladainha interminável.

Havia vários tipos de beijo como ele sabia bem. O que Anne lhe dera, Gilbert não sabia como classificar, mas fora algo tão mágico e tão maravilhoso que não conseguia tirá-lo da cabeça, precisava provar daquele beijo de novo ou nunca mais teria paz.

Assim, quando a segunda-feira chegou, ele se levantou da cama bastante animado, porque veria Anne no trabalho e nunca estivera tão ansioso por algo na vida.

Deste modo, o rapaz se arrumou rapidamente. Tomou seu café da manhã em cinco minutos, encheu de ração o potinho de Honey, fez um carinho de leve na cabecinha de seu amigo, e finalmente saiu para a rua em posse de sua lambreta.

Quando estava na calçada, colocando seu capacete, ele ouviu uma voz feminina lhe dizer:

-Eu precisava estar viva para ver Gilbert Blythe em cima de uma lambreta.

O rapaz olhou em direção de onde a voz veio, e riu balançando a cabeça ao ver Mary.

-Bom dia, Mary. Quer uma carona para o trabalho?

-Deus me livre! Nada me faria subir nessa coisa.- Mary disse, fazendo o sinal da cruz.

-Eu sou um motorista cuidadoso. Devia perguntar a Dra. Cuthbert. - ele falou, ajeitando seu capacete na cabeça.

-O que? Ela já andou nessa garupa?- Mary perguntou, com os olhos arregalados, apontando para a parte de trás do veículo.

-Sim, duas vezes. - ele respondeu com um sorriso gigante enfeitando seus lábios.

-Está acontecendo alguma coisa entre vocês dois?- Mary perguntou, apertando os olhos em uma sutil curiosidade.

-Não. - Gilbert respondeu, mas não com tanta certeza, pois não sabia mais como classificar seu relacionamento com Anne.

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