Capítulo 10- Vestígios do passado

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A primeira nevasca do dia começara a cair logo de madrugada, naquele dia particularmente gelado, e Gilbert chegou em casa louco por um café quente e rosquinhas de leite, mas sabia que não teria tempo para isso.

Ele passara a noite na casa de Anne, pois nas condições nas quais ela se encontrava, ele não quisera arriscar deixá-la sozinha. E assim, ficara a noite toda velando o sono dela, sentado em uma cadeira de balanço.

Anne ainda dormia quando ele a deixara, e após uma noite agitada de febre alta e alguns delírios, ela parecia mais calma em seu sono, e ainda mais linda do que antes, e totalmente fora do seu alcance.

Gilbert entrou em casa, e Honey veio recepcioná-lo, com seu jeitinho adorável de filhote. O rapaz não sabia ao certo a idade dele, mas calculava que deveria ter uns sete meses.

Ele vinha se mostrando um grande companheiro, e com o treinamento que Gilbert vinha lhe dando, seu lado indisciplinado e bagunceiro estava pouco a pouco desaparecendo. Gilbert até se espantara em encontrar a sala intacta, e sem vestígios das travessuras de seu amiguinho de quatro pastas.

-Você tem se mostrado um rapazinho muito comportado, por isso, vou te dar um petisco especial.- Gilbert lhe disse, acariciando o topo da cabecinha peluda, enquanto o animalzinho lhe lançava um olhar inteligente, deixando a língua de fora como se lhe sorrisse.

Assim, Gilbert o alimentou, tomou um banho rápido, se vestiu, e voltou para a casa de Anne, onde ficaria com ela pelas próximas horas. Ele não iria para o trabalho naquele dia, pois tinha direito a uma folga, e a usaria para cuidar daquela ruivinha de temperamento difícil, mas completamente apaixonante.

Assim, logo estava guardando sua moto no jardim da casa dela, e caminhando para a porta de entrada. Porém antes de abri-la, seus olhos capturaram a imagem do papagaio de Anne, encolhido dentro da gaiola, parecendo triste e solitário. Era como se estivesse sentindo falta da dona, que não podia cuidar dele como fazia diariamente.

Ele se aproximou do passarinho. Acariciou sua penugem da cabeça e disse:

-Olá, Smoke . Eu sou o Gilbert e vou cuidar de você por enquanto.

-Olá, Gilbert!- o papagaio disse, fazendo o rapaz sorrir. Ele amava animais e a presença deles sempre o deixava feliz. Era a pureza de sentimentos que eles exibiam de graça sem esperar reciprocidade, que o fazia admirá-los ainda mais. Na África, ele tivera várias experiências com animais, e observara o milagre que eles podiam operar na vida de alguém. Se pudessem inventar uma terapia, que envolvesse animais no processo de cura de algumas doenças em pacientes em estado grave, ele tinha certeza que seria um sucesso. Por isso, ele ficava feliz por Anne ter uma ave tão amorosa em sua vida, pois a impressão que ele tinha era que ela precisava de muito amor e cuidado.

Ela era uma daquelas pessoas que ele tinha vontade de abraçar e nunca mais deixar ir embora, porque Anne tinha uma fragilidade interior que o atraía, o fazia desejar estar por perto, fazer o que estivesse ao seu alcance para que ela fosse feliz.

Gilbert terminou de alimentar Smoke, trocou a água do potinho onde ele costumava matar sua sede, limpou a gaiola, e entrou na casa.

Ele não pretendia acordar Anne, pois ela precisava de todo o repouso possível para se recuperar plenamente. Mas seus pés o levaram exatamente até o quarto dela, onde ela dormia profundamente.

Gilbert se aproximou da cama, ajeitou os travesseiros de forma mais confortável, testou a temperatura dela, e notou satisfeito que estava quase normal. Ela tivera uma noite ruim, e chamara pelo nome Robert várias vezes, o que o fez se perguntar mais uma vez onde aquele rapaz poderia estar, pois era óbvio que Anne o amava, ou não teria falado o nome dele em seus delírios se ele não significasse algo importante em sua vida.

A brave heartOnde as histórias ganham vida. Descobre agora