A brave heart

Capítulo 15- Um amor descoberto

Gilbert se arrumou para o trabalho em um ânimo diferente naquela segunda-feira. Ele e Anne tinham passado um fim de semana incrível juntos, e ele se sentia revigorado cada vez que se lembrava do rosto dela.

Seu maior presente fora ouvi-la gargalhar. Desde que a conhecia nunca a tinha visto em um momento tão descontraído, que a permitisse viver o momento sem aquela sombra que parecia roubar o brilho do olhar dela em algumas ocasiões, e agora ele sabia que essa sombra tinha um rosto que se chamava Robert.

Pelo que Anne lhe contara, o pobre rapaz estava confinado em uma cama, totalmente alheio ao ambiente ao seu redor à três anos, e como Neurologista Gilbert sabia que casos assim eram totalmente imprevisíveis.

Robert poderia ficar naquele estado para sempre, enquanto seu corpo ia definhando e se atrofiando até que a morte cerebral fosse atestada, e ele pudesse enfim descansar. Como também, ele poderia acordar de uma hora para outra como se tivesse apenas adormecido por algumas horas, e não ter consciência nenhuma disso. Era óbvio que em alguns casos, algumas sequelas seriam irreversíveis, enquanto que outras poderiam ser superadas com o tempo e tratamento adequado.

Saber de tudo isso, não diminuía seu interesse em Anne, pelo contrário. Depois daquele fim de semana com ela, tudo o que desejava era passar mais horas com ela, vê-la rir de novo, e tentar descobrir porque ela se sentia tão culpada pelo acidente de Robert. Esse pormenor , Anne não havia lhe revelado, mas Gilbert intuía que tanta tristeza nos olhos dela tinha a ver com isso, e se ele conseguisse ajudá-la a se livrar dessa dor, com certeza conheceria uma Anne que se escondia por trás de suas mágoas e sofrimento.

Disso, ele entendia bem, pois também carregava suas culpas pessoais. Já tinha se passado tanto tempo, mas ele ainda podia senti-las em sua mente, acusadoras, cruéis e sem misericórdia. E embora, ele sempre tentasse não deixar que sua vida fosse definida por elas, havia momentos em que não conseguia se desprender delas totalmente.

Demorara anos para se enxergar como o médico competente que era, e para isso tivera que desenvolver um exercício mental enorme. Seu sucesso profissional lhe provava diariamente que ele era exatamente o médico que prometera que seria. Mas nunca contara a ninguém que após sua tragédia pessoal, ele se tornara um obstinado por vencer a morte. Era como se lutasse internamente contra Deus para que nenhum de seus pacientes perecessem diante de qualquer enfermidade. Gilbert fazia o possível e ia além do impossível para que o Todo Poderoso não passasse à sua frente, e levasse pelos portões da mortalidade qualquer pessoa que o procurasse na esperança de ser curado.

Na África, ele ganhara a fama de milagroso entre as população local, porém, entre seus colegas de trabalho, ele era visto como excêntrico, um louco pela ciência, que não seguia as regras da medicina e não respeitava os limites do próprio corpo, trabalhando até a exaustão para salvar vidas, para encontrar a cura para uma enfermidade nova, para desafiar qualquer probabilidade de que poderia fracassar.

E a palavra fracasso, Gilbert riscara de seu vocabulário, porque não admitia que a morte fosse mais inteligente ou esperta que ele. E assim, ele colecionara muitos sucessos, e também passara a ser admirado e respeitado em sua área de Medicina. O que ninguém podia imaginar, nem mesmo seus amigos próximos era que tudo o que conseguira em sua vida profissional, e o legado que construíra na África foram possíveis porque ele era constantemente perseguido por seus demônios, por suas lembranças e por sua dor.

Quando decidira deixar a África, a tensão de suas obrigações diárias tinha atingido o grau máximo dentro dele, assim como a insatisfação com sua vida parecia cada vez maior, e se não mudasse seu ritmo de trabalho ou encontrasse novos desafios , acabaria como uma pessoa totalmente infeliz e frustrada, e não era isso que desejava para si mesmo.