Heréticos °Taejin° [Completa]

2 - João 10:27

"As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem;"

Relógios cuco dão sustos, mas são o melhor método para se acordar... aqueles relógios de mesa ficam pulando até caírem no chão e são bastante destrutivos. Minha rotina era a mesma diariamente, levantava calçava meu chinelo e ia para os fundos da catedral de pijamas. Pegava um balde e buscava água no poço, levava até o banheiro e colocava um pouco na bacia para lavar o rosto e deixava para o banho da tarde e as necessidades. Era uma rotina cansativa, mas necessária.

Depois fui tomar meu café, por sorte havia feito uma quantidade boa no dia anterior e não precisaria fazer mais nessa manhã, então o esquentei e levei minha xícara até a despensa, verificando as ervas que possuía em estoque para saber se tinha folhas o suficiente para fazer novos xaropes e levar para a filha do senhor Rossi. Ficaria faltando... algumas folhas eram pequenas e não dariam a mesma quantidade que as maiores então precisaria colher e preparar a medicação antes de ir até a casa deles.

- O senhor colocou muitas provas para eu passar em um único dia... mas se ele acredita que passarei por elas, amém! - ergui uma das mãos e voltei para o quarto, escolhendo a batina que usava para o campo em dias de frio.

As cores não variavam muito do branco, apenas alguns tons entre o gelo e neve - se é que essas cores existem, apesar que não acredito que exista branco claro e branco escuro.... mas eram as cores que poderia usar entre as pessoas. Me permitia usar xadrez ou estampas apenas em meu pijama na hora em que dormia, pois ninguém veria e tinha mais liberdade. Mas as roupas eram sempre brancas com detalhes em dourado.

Vesti uma meia calça de inverno e uma blusa de lã branca - o tecido era um pouco fino para que eu pudesse vestir a batina por cima e a ajeitei prendendo o cinto dourado em minha cintura e colocando os acessórios nele. Tentando centralizar a roupa para mostrar a meia calça, prendi a capa branca com detalhes em dourado em meus ombros e peguei o véu para jogar sobre minha cabeça e o prendi na capa. Estava mais vestido que o normal, mas o frio me permitia esses momentos, só permanecia com as mesmas cores.

Respirei fundo e calcei as botas, indo para fora da catedral e seguindo um pequeno caminho para abrir o aprisco, enquanto procurava as ervas na campina, deixaria as ovelhas se alimentarem do que sobrou do pasto no inverno.

Lá estava eu.... as seis da manhã, caminhando com um cajado no pequeno bosque de pinheiros que havia atrás da catedral para as ovelhas não saírem de formação.

- Daria tudo para uma caneca de chocolate quente com marshmallows... - resmunguei em um sussurro, apesar que se falasse alto, ninguém escutaria.

A igreja que residia era dona de pelo menos quinze hectares de terra na região, ou seja, o bosque de pinheiros e a campina faziam parte do território da catedral. Outra pessoa estar ali seria considerado invasão, mas era algo difícil, os moradores respeitavam a paróquia, meu pai e eu... nunca tivemos problemas com isso antes.

Deixei os caprinos circularem pela vegetação mais livres e fui em busca das ervas, olhei ao redor e precisei respirar fundo, dei um olhar para o céu e semicerrei os olhos.

- Mais um dia para provar minha devoção, senhor? SeokJin.... você só tinha o trabalho de trazer uma cesta para colocar as plantas, mas não.... esqueceu tudo. Lembrou de trazer as ovelhas para pastar, mas o essencial esqueceu.

Respirei fundo e retirei o véu que cobria minha cabeça, o abrindo no chão e colocando as folhas, sementes, flores e algumas raízes que apesar do frio ainda apareciam - a maioria estava murchando e morrendo por conta da temperatura, mas consegui pegar uma boa quantidade que duraria o resto do inverno - só esperava que não tivesse mais pessoas doentes.