Capítulo III

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Anita era a primogênita de Dona Joana e Cel. Alberto. Queria ser professora. De um jeito doce, Anita era a imagem de sua mãe quando moça, sempre altiva, exceto dos momentos de seriedade, em que lembrava fielmente ao pai. Tinha uma fila de pretendentes, mas nunca pensou em se casar. Repudiava a ideia de casamento, embora admirasse o dos pais. Supostamente, queria a liberdade da vida de solteira. Sua mãe tinha medo que ela ficasse moça velha e não subisse ao altar.

Estava arrumando o pequeno quarto, quando Augusto adentrou no recinto.

— Sabia que pessoas educadas batem na porta antes de entrar? — E correu abraçar o irmão.

— Ah, eu não pensei que fosse dizer isso, mas estava morrendo de saudades.

— Claro que estava, afinal, sou sua única, perfeita e exclusiva irmã! — Disse Anita, apertando fraternalmente o nariz de Augusto.

— Me conta, o Miguelito está bem? E a mãe?

— Você sabe... Mãe tem uma tendência para a tristeza, mas ela realmente está feliz em ver que estamos buscando viver nossas vidas, seguir nossos sonhos. O caçulinha está lá, aprendendo o que tu ensinaste, que é zero vezes nada. – Gargalhou a moça.

Augusto desconsiderou. — Anita, nunca pensei que diria isso, mas não sinto falta da Saudade. Eu precisava sair.

— Te conheço, irmão. Eu sabia disso desde os primeiros meses depois que papai morreu. E eu também precisava. Tenho meu sonho. Meus sonhos!

— Foi tão repentina, tua vinda. Não esperava.

— Bem, você nunca procurou saber o que eu queria para o meu futuro. Então, aqui estou!

— Já que é assim, me conta tudo. Não sinto falta de lá, mas viver sem muitas notícias é corrosivo.

— Tu e teu jeito estranho. Mas tudo bem, te digo sim. Aproveita e me ajuda a arrumar tudo.

Anita logo tratou de pôr Augusto a par de tudo que tinha se passado desde sua partida, inclusive da visita de Inácio, que, segundo ela, viria vê-lo no mês seguinte.

Já Augusto, disse para sua pequena irmã mais velha como e onde funcionavam e ficavam as coisas naquela cidade.

Atendendo ao pedido, ele ajudou Anita a guardar seus pertences. Foi assim que ele viu uma cartinha dobrada e perfumada. Não pretendia espiar o conteúdo, mas a caligrafia exposta no verso da tal carta lhe chamou a atenção. Ele sabia de quem era. Era de Inácio.

Que coisa, não? Por essa ele não esperava. De orelha em pé, resolveu colocar o pingo que não se encaixava naquele 'i'.

— Anita, que significa isso?

— O quê? Isso? Ah, eu...

— Nem tenta me enrolar, que eu sei de quem é.

— Anda futricando nas minhas coisas? Que enxerido!

— Nem precisei! Reconheci a letra. Não sou tonto. Me diz, que Inácio quer contigo?

— Ah, não é nada. Nos falamos de vez em quando. Nada demais. Só isso.

— Tomara que não seja nada demais mesmo. Mãe disse que tenho que ter cuidado por mim e por ti, e não vou aceitar qualquer coisa enquanto você estiver morando aqui.

— Relaxa, Augusto. Já sou grandinha, mais velha que você. Sei me virar sozinha. Inclusive, não preciso desse autoritarismo. Para de ser tapado!

— Não quero dor de cabeça nem pra mim, nem pra mãe.

Caso Sinta FrioOnde histórias criam vida. Descubra agora