Augusto estava tão contente que nem a fome causada pela ausência do jantar lhe incomodava. Estava absorto, e talvez seja essa a melhor palavra para definir a sensação daquele momento. Se encontrava especificamente absorto desde o momento em que seus lábios colidiram com os de Carmelita. Mil e um pensamentos antes de dormir, e todos voltados a uma única pessoa. Por fim, dormiu, sonhando com campos verdes e dourados, onde a paz lhe abraçava e retirava a escuridão das lágrimas pesadas que tanto o acompanhavam. Tudo se resumia em sua busca pela paz, sua busca por um lugar no mundo onde encontrasse a si mesmo.
Ainda sem dormir, Carmelita não tinha trocado de roupa. Estava deitada, em pura reflexão camoniana, colocando as melhores rimas que conseguia produzir em parnasianas formas poéticas. O encontro não poderia ter sido melhor. Estava encantada cada vez mais com o moço Augusto, aquele rapaz que tinha o olhar mais distante que ela já vira, com aquele sorriso torto, com aqueles cabelos ondulados. Ela pensava em cada detalhe de Augusto, na voz macia e lenta, capaz de acalmar naturalmente quem o ouvisse, no jeito manhoso de enrolar os cachos nos dedos que eram grandes e magros, na boca, tão severa e áspera, mas tão delicada e doce, em contraste. Em seu diário, mais um poema.
"Era um noturno domingo.
O domingo tinha os olhos
de uma segunda oblíqua
com as luzes apagadas
antes da madrugada.
Era um domingo.
O domingo tinha o cheiro
de uma sexta festiva
com as luzes acesas
num sol noturno
que nunca se apaga.
Era um domingo.
O domingo tinha o gosto
de um beijo assim.
Assim deve ser
o gosto de um beijo teu.
Era um domingo
e eu estava dormindo,
mas as mãos acordaram os olhos
e me vi escrevendo no ar
os versos que não se perderam.
Os versos, sei agora,
são esses.
Era um domingo
de uma semana não santa,
de uma ressurreição profana,
de um corpo pecador.
O pecado sou,
mas a fruta tu és.
Era um domingo.
Só sei que era um domingo
que me acordou antes
de ser um domingo.
Era uma quinta,
quatro horas da manhã de quinta.
Era uma quinta
que me acordou
e me levou em teus olhos musicais
para escrever sobre
um futuro domingo.
Era um domingo.
Só sei que era um domingo
que desejou profundamente
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Caso Sinta Frio
RomanceQuatro jovens, na alvorada dos sentimentos, descobrem as borboletas estomacais em seus romances, desconsiderando a velocidade de seus atos impensados. O que acontece quando o coração se perde nos estilhaços de uma paixão destroçada? Até onde se fere...