Capítulo 17

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---- LUCAS PAQUETÁ ----

Estávamos com as testas coladas quando escutamos o grito do mais novo.

- Vini, olha, não é nada disso que você tá pensando. – Duda tenta melhorar a situação.

- Pera aí, galerinha, eu sou mais novo, mas não sou idiota. Eu vi os pombinhos se pegando aí. Fazendo gol dentro e fora de campo hein, meu mano, falta só o gol no jogo oficial.

- Sim, moleque, o pai aqui tá voando demais, esquece – entro na brincadeira e vejo Duda me olhar de cara feia – O que? Ah, linda, ele viu. Não tem nada que possamos dizer que vai mudar isso.

- É, Duda, eu vi – sorri orgulhoso.

- Tá, Vini. Sim, estamos juntos – digo, como se não fosse óbvio e vejo o mais novo sorrir mais – Por favor, não conte para ninguém!

- Claro né, Duda! Pode deixar que isso fica só entre a gente. Mas ó, depois do treino quero ver os dois no meu quarto. Quero saber de tudo.

- Curiosidade mata, Jr. – Digo, brincando.

- Ninguém manda ficar pegando sua mina assim, no meio do nada. – Dá de ombros – Agora vamos voltar que já estão sentindo a falta de vocês dois. – Nos olhamos, damos mais um selinho e nos separamos, prontos para voltar ao campo. – Pera ae, pera ae, quero ser vela não, anda, vai, vai. – Mostra o caminho com as mãos, balançando em um movimento "chispa, vai".

---- DUDA FOURNIER ----

Rimos e fomos em direção ao campo. Quando entramos, estavam todos já de pé conversando, todos não, quase todos. Olho para onde eu estava sentada com Mia e vejo que a garota tem uma nova companhia. Richarlison estava lá, rindo e conversando com ela. Me aproximo devagar para não atrapalhar a conversa. Me sento onde eu estava e ninguém percebeu minha presença.

- Vamos sim! Só me falar a hora certinha. – Mia fala. "Vamos sim"?! Vão onde? Pigarreio baixinho para chamar a atenção de ambos.

- Voltei – digo sorrindo e vejo Richarlison coçando a nuca. Nervoso, Richas? Aí tem coisa.

- Bom, é, eu vou voltar pro treino, até depois – se despede.

- Desembucha. – Peço para Mia, que senta e abre um sorriso.

- Vamos sair.

- Vamos você e o Richas ou vamos nós todos?

- Eu e ele. Acabou de me chamar aqui. – Sabia que tinha alguma coisa. Meu sexto sentido nunca falha.

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Hoje é dia 24 de novembro. Isso mesmo, dia da estreia do Brasil na Copa do Mundo. Eu tô surtando. Esses dias desde o fatídico dia do treino foram muito corridos. Quase não consegui ficar com Lucas a sós, também ainda não explicamos tudo para Vini. Estamos adiando esse momento não sei porquê.

Agora estamos no vestiário do estádio Lusail, ouvindo um típico discurso motivacional de Tite. Não ouso falar nada porque eu aparento estar mais nervosa que eles, mesmo sabendo que não estou. Os únicos que deixam transparecer o nervosismo são Lucas, Raphinha e Richarlison. Sei que eles estão preparados, vi de perto o quanto treinaram para esse momento, sei que são capazes.

O discurso de Tite termina e vejo Lucas se afastar. Ele vai para o banco com a blusa dele pendurada atrás dele e se senta ali. Resolvo ir até ele para ajudar, sabe, de alguma forma.

- Oi, meu bem! – Me agacho em sua frente, sussurrando na parte do apelido. – Nervoso, né?

- Muito. A sérvia é um time bem forte, principalmente pela altura daqueles caras. Parecem vários postes ambulantes enquanto a gente tem o Pedro como poste, mas ele é banco.

- Calma, lindo. Você não pode surtar agora, acompanha a minha respiração. – Inspiro e expiro vagarosamente vendo-o me acompanhar. – Como se sente?

- Mais calmo, mas ainda nervoso pra caralho. E se a gente perder? E se não passarmos da fase de grupos? Pior, pior, e se a gente nem chegar a passar das quartas???

- Ei, olha pra mim, você sabe o tanto de esforço que fez para que esse dia chegasse e que vocês arrasassem em campo. Não vai dar outra, vocês vão arrasar. Chuto 3x0 pra gente, com direito a gol seu ainda.

- Se eu fizer um gol, dedico pra você. – Diz e eu sorrio.

- Promete?

- Prometo! Mas acho melhor você ficar em uma distância considerável porque é muito capaz de eu invadir o espaço da equipe só pra te dar um beijo. – Rio com seu comentário. Parece que ele tá melhor, ufa.

- Vou estar esperando então. Vem cá – o chamo e saímos do vestiário falando que eu precisava ir ao banheiro, mas que não sabia onde era (o que não é completamente mentira).

- O que foi?

- Nada, só queria te dar uns beijinhos. – Coloco minha mão em sei peitoral coberto pelo uniforme oficial amarelo da seleção (o azul é lindo, mas simpatizei mais com esse) e desenho círculos imaginários com meu dedo. – Sabe, se vocês ganharem hoje, é day off amanhã até pra gente da equipe e, bem, a gente poderia ficar agarradinho...

- Opa, isso sim é motivação. – Sorri e me beija. Foram apenas selinhos, mas precisávamos voltar logo para o vestiário.

- Se localizou, Duda? – Pergunta Vini. Que garoto cínico.

- Sim, Vini, me localizei. – Respondo e ele parece prender uma gargalhada. Palhaço.

Fiquei conversando com Lucas e Vinícius quando foram no vestiário avisar para os jogadores se prepararem em fila que vão entrar para cantar o hino.

- Boa sorte, garotos! Vocês sabem que são mais do que capazes para ganhar esse jogo e lembrem, se ganharem, é day off. – Uso a "mesma" motivação que usei para Lucas e escutei um "EEEEEEEEEEE" animado deles em resposta. Abraço cada um deles e vou para o meu lugar. Mia já estava lá sentada e tirando fotos.

- Oiii.

- E aí! 5 a 0, né?

- Que?

- O placar, imbecil.

- Ah táa. Aposto em 3 a 0. Um de Richarlison, um do Ney e um do Lucas.

- Óbvio que aposta que seu boy vai fazer um né – ri.

- Que meu boy o que, fia.

- Maria, que horror, a cara nem treme. – Diz e mostro o dedo médio para a garota em meu lado, que ri descontroladamente.

Somos interrompida por uma voz que ecoa todo o lugar falando que vão começar os hinos. Os jogadores começam a entrar em campo e passam do nosso lado, já que a tenda está entre o banco da equipe e o banco de reservas do Brasil. A torcida vai a loucura e agarro o braço de Mia, que me olha feio.

- Se controla, mulher, é só o hino, não é como se o Paquetop fosse te pedir em casamento!! – Reclama e eu ignoro completamente o que disse. Eu tô muito nervosa. Aquelas dúvidas do Lucas acabaram passando para mim, ai meu Deus, já preparem o samu porque hoje eu só saio daqui carregada.

O hino do Brasil começa e um arrepio me atinge. É linda aquela energia de nação unida de novo e é ainda mais lindo ver o brilho nos olhos dos jogadores e torcedores quando a primeira nota do nosso hino é escutada. Cantamos tudo, nem sabia que eu sabia o hino todo, e quando me dou conta, começa o hino da Sérvia. Nesse momento, eu tava só aquele meme "que língua maia é essa daqui".

Essa etapa acabou e os jogadores voltam para o vestiário. Meu coração vai sair pela boca, não é possível.

- Vai começar, Maria, vai começar!! – Grita Mia animada. Olho o relógio e é, vai começar. Os jogadores começam a entrar e nós duas começamos a gritar animadas.

- VAMOOOOOOO!! – Começo.

- HOJE É NOSSO, NÃO QUERO NEM SABER!! – Mia me acompanha. Vejo Lucas entrando e não perco a chance.

- QUE SE FODAM OS POSTES, NÓS SOMOS O PAÍS DO FUTEBOL, CARALHOOOOO!!! – Grito e consigo fazer com que ele me olhe, sorrindo. Sorrio de volta, acenando positivamente com a cabeça. Eles entram em campo, se posicionam e...

O juiz apita. Começou o jogo. 

Mina do Condomínio - Lucas PaquetáOnde histórias criam vida. Descubra agora