Fuga

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Eu vou trocar o dia de postagem d segunda para sexta-feira, pq pra mim fica mais fácil
Eu vou amar saber o que então achando por meio dos comentários e estrelas
Obrigada por lerem

Pego minhas malas no meu quarto e sigo até a sala onde meu pai me espera. Ao chegar lá vejo Izzy com os olhos inundados de lagrimas.
- Ligue todos os dias - ela diz me abrançando forte - Eu amo vocês - ela diz se abaixando e pondo o ouvido na minha barriga que agora está bem evidente.
- Também te amamos - digo ela me abraça de novo.
Ela e meu pais se despedem, e seguimos para o taxi.
Particularmente odeio andar de taxi, mas meu pai insistiu.
Ao descermos no aeroporto e fazermos o cheque in, sento-me e controlo minha respiração. Tento me acalmar e evitar pensar em vomito, nisso penso nas doze horas que passarei dentro de um avião trancado voando sobre a América, se cair, eu morrerei e meus filhos também. Começo a me desesperar e perder o foco na respiração.
- Beck - Meu pai diz podo a mão no meu ombro - Acalme-se, vai ficar tudo bem. Está com fome, sede ou precisa ir no banheiro?
- Estou bem - digo.
- Tem certeza que não quer comer nada? - meu pai pergunta.
- Estou com uma vontade de comer cheetos - digo.
- Você sempre odiou cheetos - meu pai diz.
- Estar gravida é tão estranho - digo.
- Vou pegar um pacote pra você - meu pai diz - Não quero que essa criança nasça sabor queijo.
Devoro o pacote rapidinho e logo me enjôo com o gosto artificial do queijo em minha boca, e acabo vomitando o pacote todo, por sorte deu tempo de chegar ao banheiro.
Entramos no avião e achamos nossos lugares. Meu pai pede um copo d'água e me dá um comprimido. Pra enjôos e que talvez me ajude a dormir. Tomo o comprimido e acabo pegando no sono pouco tempo depois que decolamos.
- Quanto tempo? - Escuto uma mulher dizer.
- Ela está indo pra 10ª semana - Ouço meu pai dizer, abro os olhos e vejo um monte de mulheres a minha volta.
- Que horas são? - pergunto limpando minha boca.
- Você dormiu por 3 horas - meu pai diz.
- Ainda faltam 9 - digo sentindo minha cabeça começar a doer.
- Está enjoada? - alguma das mulheres pergunta.
- Não - digo me ajeitando.
- Imagino como seus netos serão lindos Otávio - outra mulher diz.
Olho pro meu pai e ele sorri.
- Se puxarem a beleza e o cérebro de Becca e apenas a aparência física do pai - meu pai diz - serão perfeitos.
- Pai? - digo.
- Peter - ele diz.
Encaro meu pai, será que ele sabe? Será que o doutor Albers falou algo? Ele sorri como se estivesse escondendo algo. Odeio isso.
- Podem me dar licença - digo me levantando - Preciso ir ao banheiro.
Passo pelos corredores e todos me olham, percebo que minha blusa está levantada e minha barriga meio amostra, as pessoas comentam e outras sorriem. A maioria das pessoas que conheço não imaginam que eu tenha 17 anos, talvez esse passageiros também não, por isso estão tão animados em ter uma gravida a bordo.
- A senhora precisa de ajuda? - uma das comissárias me pergunta docemente.
- Não obrigada - digo - Só preciso esvaziar a bexiga.
- O banheiro é logo ali - ela diz.
Caminho até o banheiro e me sento no vaso. Acho que é o único lugar onde vou conseguir privacidade. Olho pros meus pés e percebo que estão inchados e minha barriga aparenta ser de muito mais de 2 meses.
Passo uns 15 minutos no banheiro até que alguém bate na porta e pra não causar tumulto eu saio.
- A senhora está se sentindo bem? - uma das comissárias pergunta.
- Estou, só precisava de silencio - digo.
- Imagino que sim - ela diz sorrindo.
- A senhora gostaria de almoçar agora? - outra pergunta - O almoço foi servido á alguns minutos.
- Não estou com fome - digo - Estou apenas exausta.
- Entendo - ela diz.
- Quero tirar essa barriga logo - digo e elas me encaram apavoradas - Digo, quero segurar meus bebês logo.
- São dois? - uma das moças perguntam extasiadas.
- Sim - digo.
- E o que vai fazer no Brasil? - A outra pergunta.
- Nasci lá - digo - Meus avós querem me ver, essa melação.
- Você é de São Paulo? - ela pergunta.
- Sou, cresci na avenida paulista - digo - Me mudei pra América aos três anos.
- Ja deve fazer quase vinte anos - a outra diz com a mão na boca.
- Quase - digo rindo - Garotas preciso me sentar, meus pés parecem duas baguetes e doem como nunca.
Vou até meu lugar e me ajeito. Meu pai está almoçado e o cheiro da comida embrulha meu estômago.
- Você está ficando verde - ele diz enquanto come.
- É o cheiro do tomate - digo cobrindo o nariz.
- Você ama macarrão ao molho sugo - meu pai diz.
- Tomate faz meu estômago embrulhar - digo - tenho
ânsia só de pensar.
- Espero que esse bebê não seja tão frescurento - meu pai diz.
- Meus filhos não têm culpa - digo e meu pai me encara.
- Seus Filhos? - ele pergunta.
- Desculpa, seu filho.
- Você disse no plural - ele diz.
- Ah sim - digo - São dois.
- Dois - meu pai repete.
- Sim dois - digo.
- Acho que até eu estou enjoado agora - ele diz - Lizzie esqueceu de me falar essa parte.
- Ela não sabe - digo.
- Por que você sabe então?
- Pedi pro doutor Albers não falar por enquanto - digo - preciso me resolver.
- Resolver do que? - meu pai pergunta.
Não contei pra ninguém até agora, nem para Peter. Mas meu pai merecia saber, sempre confiei nele.
- Se vou ficar com os bebês - digo.
- Rebecca, não sei se isso é possível - ele diz - Você assinou um documento.
- Eu sei - digo - É loucura.
- E no documento dizia que você entregaria o bebê.
- Caso fosse filho da Lizzie - digo.
- E seria de quem? - ele pergunta.
- Tem razão - digo me encolhendo na poltrona - Não fale para ela.
- Não vou falar - ele diz.
Fico quieta pelas horas que se seguem. Ao chegarmos em Guarulhos, pegamos um taxi e vamos para a casa dos meus avós.
Quando estamos subindo pelo elevador, sinto meu estômago revirar. Quando meu avô abre a porta do apartamento, entro correndo a procura de um banheiro. Ponho tudo para fora. E sinto alguém levantar meu cabelo e esfregar minhas costas enquanto estou com a cabeça no vaso. Chega um momento que não tenho mais o que vomitar, mas meu estômago continua mandando ácido.
Levanto a cabeça e levo a mão a testa, jogando os cabelos que estão colados na minha testa para trás.
- Tome - minha avó diz me dando uma toalha.
- Obrigada - digo enxugando meu rosto.
- Em português Beck - Meu pai grita da sala.
- Como quer que a garota fale em português se você a americanizou? - minha avó grita para o meu pai.
Vou até a pia e faço gargarejo com a água, mas o gosto de bile continua na minha boca.
- Rebecca, você colocou seu estômago pra fora! - minha avó diz dando descarga - Vou pedir pra te fazerem um chá.
- Não precisa - digo.
- Claro que precisa - Minha avó diz - Geller peça pra alguém da cozinha fazer um chá pra Rebecca.
Minha avó diz pro seu mordomo. Ele sai e desce as escadas.
- Você importa um mordomo da Inglaterra e recebe isso - ela diz se sentando na tampa do vaso.
Meus avó são muito ricos. Meu avó foi um dos primeiros fabricantes de etanol do país, e isso lhe rendeu muito dinheiro. Mesmo agora sendo apenas sócio do grande império, ele tem dinheiro para "importar mordomos".
- Realmente não precisa do chá - digo.
- Rebecca você sempre seguiu o que os outros queriam - ela diz - Um chá não vai fazer tanta diferença.
- Eu não faço sempre o que os outros querem - digo.
- É, tem razão - ela diz - Alias bela barriga.
- Foi impulso - digo.
- Pra mim impulso seria você ter esquecido a camisinha, não ter ido ao ginecologista pra ele por isso dentro de você - ela diz.
- Meio que foi isso - digo.
- Completamente foi isso Rebecca - ela diz - Não tem como ser meio.
- Tem sim - digo.
Ela ri. E encara minha barriga com aquele sorriso no rosto. Eu estou encostada na bancada e encaro o chão.
- Preciso de ar - digo saindo do banheiro. Vou até a sacada e me debruço sobre a proteção. Olho as luzes lá embaixo. Tão pequenas vista do ultimo andar de um edifício tão alto.
- Não, não tem - ela diz acendendo um cigarro, ela traga - A menos que...
- Não fume perto de mim - digo.
- Essa criança ai dentro, é sua? - ela pergunta me ignorando e soltando a fumaça.
- Mais ou menos - digo.
- Rebecca desembuche, seu pai nunca vai te escutar, deve estar jogando sinuca e bebendo, como a vaca da sua madrasta não o deixa fazer.
- Um dos bebês é meu - digo.
- Tem mais de um? - ela pergunta.
- Dois - digo - Um da Lizzie e um meu.
- Meu Deus - ela diz - Realmente foi meio!
- Vovó, não conte a ninguém - digo.
- Fique tranqüila - ela diz.
O mordomo entra na sacada com uma bandeja, nela há uma xícara e um copo com um líquido amarelado.
- Demorou Vincent - Minha avó diz. Ela pega e copo e entorna em um gole - Me traga outro. Melhor, traga a garrafa.
Ele põe a xícara em cima da mesinha e volta de onde saiu.
Minha avó continua fumando, como se nada tivesse mudado e o fato de eu estar com tio e sobrinho dentro de mim não fosse nada de mais.
Pego a xícara, segurando a respiração. Volto para perto do parapeito e tomo lentamente o líquido quente. O gosto é familiar, boldo, mas há algo doce que não consigo decifrar.
O mordomo volta com duas garrafas e um copo e coloca sobre a mesa.
- Edward me traga outro maço de cigarro e o bule de chá - ela diz enquanto ele enche o copo.
Ele sai novamente com um rosto inespressivel.
- Ele não chamava Vincent? - pergunto.
- Não faço ideia de como ele chama - minha avó diz - não o pago pra isso.
Ele volta trazendo o bule, uma bombonier e o maço de cigarro. Ele tropeça no cadarço e tudo vai ao chão.
- Sei idiota - minha avó diz - molhou os meus cigarros.
Me aproximo dele e me ajoelho, ajudando a por os cacos dentro da bandeja. Ele sorri pra mim em agradecimento.
- Onde posso conseguir um pano? - pergunto.
- Na... - o mordomo começa a falar e minha avó o corta.
- O que você faria com um pano? - ela pergunta.
- Enxugaria o chão - digo o obvio.
- Tem gente pra fazer isso - ela diz.
- Meu chá, minhas responsabilidades, onde fica a merda do pano? - pergunto.
Logo varias empregadas aparecem e ameaçam limpar o chão. Vou até uma delas e tiro o pano de suas mãos.
- Obrigada - digo. Me ajoelho no chão e enxugo o chá que se espalhou pelo mármore.
- Deixe de ser tonta garota - minha avó diz - Você está gravida, não devia fazer isso.
- Estou gravida - digo - Não morta.
Quando termino, tento em vão levantar, minhas costas latejam. Alguém me ajuda e vejo que é o mordomo.
- Obrigada... - digo.
- Edmund - ele diz.
- Edmund - repito - Sou Becca.
- A senhorita precisa de alguma coisa? - ele pergunta.
- Não, obrigada - digo.
- Ao dispor senhorita Becca - ele diz e se retira.
- Empregados não servem mais para nada - minha avó diz.
- Pare de bancar a Madame - digo - A senhora não é assim.
- Se você for educada eles não te obedecem - ela diz.
- Você quer que eles temam você - digo.
- Exatamente isso - ela diz sorrindo em meio a uma golada de sua bebida.
- Preciso de um banho - digo.
- Vou te levar até seu quarto - ela diz e vai até o parapeito e joga seu copo pela metade.
- Vovó! - grito.
- O que foi? - ela pergunta rindo.
- A senhora pode acertar alguém lá embaixo - digo - os cacos podem ferir alguém.
- Sobreviverá - ela diz com desdém - Se não, pago um advogado.
- A senhora está louca - digo.
- Devia estar - ela diz rindo.
- Quantas garrafas tomou hoje? - pergunto.
- Perdi as contas - ela diz se jogando na espreguiçadeira.
- Precisa descansar - digo - Não há razão pra beber tanto assim.
- E desde quando precisa de razão pra beber? - ela pergunta.
- Edmund - grito.
- Sim, senhorita Becca - ele diz.
- Leve minha avó para o quarto dela, peça que alguém lhe dê um banho e que lhe coloque na cama, e sem álcool ou drogas.
- Sim senhorita - ele diz.
- Eu mando aqui - minha avó diz.
- Talvez amanhã - digo enquanto Edmund a leva.

Por AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora