Vida

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Chego em casa pouco antes de escurecer. Lizzie está mexendo no quarto dos bebês, e quando passo pela porta ela me segura pelo braço.
— Me diga, o que você acha, balões ou animais?
— O que? - pergunto.
— O tema do quarto - ela explica.
— Você decide - digo.
— Estou pedido sua opinião - ela diz.
— Estou cansada - digo - não consigo raciocinar.
— Tudo bem - ela diz soltando meu braço - Vá tomar um banho.
Tomo meu banho e enquanto estou penteando meu cabelo alguém bate na minha porta.
— Beck - meu pai diz entrando.
— Você disse algo sobre me envolver? - pergunto.
— Te envolver em o que? - ele pergunta.
— Lizzie - digo - Ela me indagou sobre o quarto.
— Ela apenas queria sua opinião - ele diz - Eu não falei nada, mas acho que devia se envolver, e você sabe o porque.
— Eu vou contar - digo olhando para o espelho.
— Quando?
— Phillip vai reservar um jantar - digo.
— Phillip vai estar com você? - ele pergunta.
— Estamos namorando pai, então sim - digo.
— E quanto a Peter?
— Mal suportamos ficar na mesma sala, pai - digo - quem dirá na mesma mesa.
— E quanto ao bebê? - meu pai pergunta - Ele nunca vai saber quem é o pai?
— Ela vai ter um pai - digo - Phillip quer registra-la.
— Rebecca tem certeza disso? Não é como escrever suas iniciais em uma árvore, ele estará assumindo uma criança que não pertencem a ele.
— Ela pertence mais a ele do que a Peter - digo.
— Você é a mãe, são suas decisões, só não quero que se arrependa querida - ele diz me abraçando.
— Eu sei pai - digo.
— Espero que tenha paciência, porque se essa garotinha for teimosa igual você, vai precisar de muita - ele diz afagando meus cabelos recém penteados - Afinal, pensei que não quisesse saber o que era.
— Phillip deixou escapar - eu digo.
— Então teremos um menino e uma menina - ele diz - Meu filho e minha neta.
— Sinto como se você tivesse envelhecido só por se considerar avô - digo.
— A culpa é sua - ele diz me apertando mais, e sua voz não soa como repreensão.
— Acha que vai dar certo? - pergunto.
— Você está disposta a ter sua filha?
— É a única coisa que eu quero agora - digo.
— Então vai dar certo - ele diz.
— Eu quero um apartamento - digo.
— Como?
— Pai, eu não quero ficar aqui depois que eles nascerem - digo.
— Não precisa ser drástica - ele fala.
— Já falei com minha avó - digo e ele me solta - E ela vem pra cá em uma semana para resolvermos isso.
— Rebecca, você está envolvendo sua avó - ele diz.
— Ela já está envolvida - digo - Desde quando ficamos na casa dela para fugir da realidade.
— Não fomos fugir da realidade - ele diz - E sua avó é maluca.
— Desequilibrada - corrijo - e sua mulher também é.
— Se você falou com ela, não tem volta - ele diz - Provavelmente já está num avião vindo pra cá.
— Uma semana pai - digo - Ainda tem tempo.
— E pra quando ficar o jantar? - ele pergunta.
— Amanhã, ou depois, talvez na sexta - digo tentando adiar o inevitável.
— Estaremos disponível na quarta - ele diz percebendo minha tentativa - Quer que eu ligue pro Phillip ou você liga?
— Como se tivesse o telefone dele - digo.
— Posso confiar que você vai ligar? - ele pergunta.
— Não confia em mim pai? - pergunto.
— Em relação a isso, não sei dizer - ele diz me beijando na testa - Vou avisar Elizabeth que temos compromisso na quarta.
Ele sai e eu me jogo na minha cama. Pego meu celular e ligo para Phillip.
— Saudades? - pergunto quando ele atende.
— De você? Sempre - ele diz.
— Meu pai definiu uma data - digo.
— Isso é bom, e quando será?
— Quarta - digo.
— Já decidiu onde quer ir?
— Disse que poderia escolher
— O que acha do Deuxave - ele pergunta.
— Eu mataria por um Profiterole - digo.
— Posso te conseguir uma caixa, e mando minha lista negra junto - ele diz.
— Acha que consegue uma mesa no Deuxave em tão pouco tempo? - pergunto.
— Tenho meus contatos - ele diz.
— Restaurante francês, você se esforçando - digo - Isso não vai sair barato para mim, não é?
— Você falar a verdade é o suficiente - ele diz - Mas aceito gorjetas.
— Quem sabe quando eu tiver meu apartamento? - digo.
— Espero que não esteja me enrolando - ele diz.
— Provavelmente estou - digo.
— Mudando de assunto, olhei na minha agenda e não sei se vou conseguir sair amanhã porque tenho... - ele diz mas interrompo-o com gemidos de dor, sinto minha barriga enrijecer novamente e a dor - Rebecca respire fundo, tem água perto de você?
— Uma garrafa na minha cômoda - digo com os dentes semicerrados.
— Beba água e deite-se, caso não melhore você terá de ser levada ao pronto socorro - ele diz enquanto tento encher o copo d'água - Estou indo para aí.
— Não - digo - Elizabeth vai achar que é algo sério.
— E se for algo sério? - ele diz.
— Ainda hoje você me falou que não era nada sério - digo.
— Eu não estou aí pra falar que não é nada sério, eu precisaria de ver para isso - ele diz
— Como eu posso saber se é sério? - pergunto.
— Faça o que eu disse - ele fala - se for Braxton Hicks vai passar.
— Não ta passando - digo respirando fundo.
— Não é instantâneo - ele diz - Estique as pernas, vai passar.
— Phillip...
— Já estou chegando na sua casa - ele diz - Continue respirando fundo e deitada.
— E se eu estiver em trabalho de parto? - pergunto.
— Tenho quase certeza que você não ta - ele diz.
– Mas e se eu estiver? - pergunto quase gritando.
— De 0 a 10, qual o nível da sua dor? - ele pergunta.
— 8 - digo.
— Tenho certeza que você não vai ter que dar a luz hoje - ele diz.
— Mas ainda dói - digo.
— Eu sei, mas pelo menos não está em trabalho de parto - ele diz.
— Mas e o que eu faço agora? - pergunto.
— Já disse - ele repete - Fique deitada, beba água estou a poucos quarteirões dai.
— Está doendo a quanto tempo? - pergunto.
— 20 minutos - ele diz - É mais do que o comum, mas não acredito que seja algo anormal.
— Como pode ser incomum mas normal? - pergunto.
— Não é uma ciência exata - ele diz.
— Mas Phillip...
— O que está acontecendo? - Elizabeth pergunta entrando no quarto.
— São Braxton Hicks - Phillip diz entrando no quarto, vindo na minha direção. Ele põe as mãos no meu colo - Ainda continua 8?
— Por que você não me chamou? - Elizabeth pergunta.
— 7? - digo.
— Você não tem certeza? - Phillip pergunta.
— Só tenho certeza que dói - digo.
— Está doendo sem intervalos por 20 minutos - ele diz mordendo o lábio inferior.
— O que isso significa? - praticamente grito.
— Preciso te levar para o hospital - ele diz me pegando no colo.
— Mas você não disse que não era nada? - pergunto.
— Não tenho certeza - ele diz - Tenho plantão no General, prefiro te deixar em observação lá do que esperar pra ver o que vai acontecer.
— Eu fico como sua acompanhante - Lizzie diz - Falo com seu pai...
— Rebecca tem 18 anos - Phillip diz - Ela não precisa de acompanhante.
— Mas e quanto aos meus bebês? - Lizzie pergunta.
— Sua preocupação com a Rebecca é uma das razões pela qual não a deixo aqui - Phillip diz.
— Como? - Elizabeth pergunta.
— Preciso levá-la - Phillip diz me tirado do quarto.
— Beck o que está acontecendo? - Meu pai pergunta ao ver Phillip me descendo pela escada.
— Vou levá-la para observação - Phillip diz.
— Eu te acompanho - ele diz.
— Sr. Monelise não quero ser arrogante - Phillip diz - Mas Rebecca é uma adulta e tem que agir como tal.
Solto um gruindo de dor, e Phillip acelera seus passos até o carro. Ele me põe no banco do carona e deita o banco. Ele entra no carro e suspira antes de liga-lo.
— Tem problema se eu ultrapassar a velocidade permitida? - Ele me pergunta.
— Só vai - digo encolhida por causa da dor.
Phillip leva menos de 10 minutos para chegar no hospital, porém sinto como se fossem horas. Ele me pega novamente em seus braços e me leva para dentro.
— Lilian preciso de um quarto - ele diz para a enfermeira.
— Está tudo bem Dr. Albers? - a enfermeira pergunta.
— Eu preciso de um leito - ele diz - e se a Dra. Field já estiver chego preciso dela.
— E os documentos dela? - a enfermeira pergunta se referindo a mim.
— Onde estão suas coisas? - ele me pergunta só percebendo isso agora.
— Eu não sei - digo - Provavelmente na minha bolsa.
— Lilian, eu pago o particular mas preciso examina-la - ele diz.
— Preciso dos documentos para dar baixa...
— Lilian pelo amor de Deus, me arrume um leito - ele praticamente grita.
— E quanto ao reitor? - Lilian pergunta.
— Pode colocar toda a responsabilidade em mim - ele diz entrando na área restrita. Ele acha um leito vazio e me coloca na maca, percebo seus braços vermelhos e que isso estava incomodando-o.
— Me senti gorda agora - digo.
— Você é uma pluma - ele diz alongado o braço.
— Engordei 9 Kg com a gravidez - digo - Talvez seja isso.
— E quanto a sua dor? - ele pergunta.
— Estou me acostumando com ela - digo.
— Me chamou, Phillip? - uma mulher diz entrando na sala.
— Terrie, que bom que está aqui - Phillip diz - Essa é Rebecca, e basicamente ela está com contrações a meia hora sem intervalos.
— Com licença - ela diz antes de apalpar meu colo - Então finalmente conheci a famosa Rebecca.
— Talvez não do melhor jeito - digo antes de apertar os lábios ao sentir uma forte pontada.
— Definitivamente não - ela diz se virando para Phillip, eles sussurram algo e consigo ouvir minha pulsação acelerada.
— Você vai subir - Phillip diz me dando um beijo de leve.
— Por que? - pergunto assustada.
— Já te explico - ele diz - Mas vou precisar dos seus dados, sabe o telefone do seu pai de cabeça?
— Acho que meu celular ficou no carro - digo - Estava na minha mão.
— Vou pega-lo - ele diz, beija minha testa e me deixa sozinha com Terrie.
— O que está acontecendo? - pergunto.
— Nada sério - ela diz - Fique tranqüila.
— Como? Se Phillip me trouxe ao hospital quando achei que era apenas Braxton Hicks, e agora quer me internar? - digo - Tem algo acontecendo.
— Ele quer contar para você - ela diz.
— Por que você não pode me contar? - pergunto.
— Espere um pouco - ela diz puxando uma cadeira de rodas, ela me ajuda a levantar e me põe na cadeira - Nunca vi Phillip tão preocupado.
— Isso me deixa pior - digo.
— Me refiro ao fato de ele se importar com você - ela diz - Já disse que pode ficar tranqüila, não tem nada grave.
— Mas tem algo?
— Tem uma criança crescendo dentro do seu corpo - ela diz.
— E tem algo de errado nisso?
— Rebecca por favor... - ela diz.
— Já liguei para seu pai, ele vai trazer suas coisas - Phillip diz entrando - Vou te levar para um quarto.
— Agora posso saber porque? - pergunto.
— Preciso ter certeza antes de te falar algo - ele diz.
— Como você vai ter certeza?
— Vamos ter que fazer um exame de sangue - ele diz.
— O que está acontecendo Phillip? - pergunto já em prantos.
— Preciso que confie em mim agora mais que nunca - ele diz olhando nos meus olhos.
— Eu confio em você, mas e os bebês? - digo.
— Prometo que vai ficar tudo bem - ele diz empurrando a cadeira - Precisamos chamá-los pelo nome.
— Eles vão nascer? - pergunto.
— Vão - ele diz me fazendo suar - Mas vai demorar um pouco.
— Então por que você quer nomes? - pergunto.
— Apenas quero chamá-los por nome - ele diz.
— Estava entre Samantha e Theo - digo - Mas Lizzie quer William ou Sebastian para o meu irmão.
— Samantha - ele testa o nome.
— O que acha? - pergunto.
— É um nome forte - ele diz - Minha pequena Sammy.
— Nossa - digo virando minha cabeça para olhá-lo.
— Nossa - ele diz beijando minha testa.
Phillip me leva até o quarto, e estou mais calma. Uma enfermeira tira uma amostra de sangue enquanto Phillip veste seu jaleco.
— Tenho que ficar na emergência - ele diz antes de sair - O seu exame vem direto para mim, pedi para a enfermeira monitorar suas contrações, então ela vai colocar um aparelho na sua cintura.
— Estou me sentindo melhor - digo - Acho que não preciso disso tudo.
— Você disse que confiava em mim - ele diz me beijando.
— Eu odeio esses negócios - digo me referindo a camisola.
— Regras do hospital - ele diz - Mas posso dizer que você fica linda até com esse tom de verde.
— Muito engraçado - digo.
— Sério - ele diz conferindo meu soro - Como está a dor?
— Praticamente sumiu - digo.
— Um ponto positivo - ele diz me dando um último beijo - preciso ir mesmo, e você está linda.
— Você fica muito melhor de jaleco do que eu de camisola de hospital - digo.
— Duvido muito - ele diz - Quer que seu pai suba quando chegar?
— Você disse que eu precisava ser madura - digo.
— Você é
— Se ele quiser subir, pra mim tanto faz - digo.
— Qualquer coisa pede pra me chamar - ele diz saindo.
— Bom trabalho - digo.
— Bom repouso - ele diz já na porta.
Fico sozinha no quarto. Observo as paredes brancas e os móveis mogno. Pego meu celular e pesquiso meus sintomas na internet, acabo me arrependendo porque acho milhões de doenças. A enfermeira leva uns 15 minutos para colocar o aparelho na minha barriga, uma tela marca zig zag cada vez que sinto minha barriga endurecer.
— Como está? - Terrie pergunta entrando no quarto.
— Bem - digo enquanto ela confere meu soro.
— Phillip já informou seu resultado? - ela pergunta olhando a tela.
— Não - digo.
— Deduzo que ele já vai vir - ela diz - Provavelmente está com algum paciente.
— Sabe o que deu o exame? - pergunto.
— Não, só sei que ele chegou - ela diz.
— Pensei que demorasse - digo.
— Phillip pediu urgência - ela fala - Pelo que parece você está estável, estou no quarto ao lado se precisar de algo.
Fico sozinha mais uma vez, não tenho noção de quanto tempo se passa até que Phillip entra no quarto. Ele senta na maca.
— Meus pressentimentos estavam certo - ele diz após suspirar, Phillip morde seu lábio inferior e vejo que não está feliz.
— O que aconteceu? - pergunto.
— Me desculpa - ele diz com os olhos marejados - Devia ter levado mais a sério sua dor hoje a tarde.
— O que aconteceu? - repito já chorando.
— Algum deles está com hipóxia neonatal - ele diz.
— O que significa? - pergunto.
— Falta de oxigênio - ele diz - O mais correto seria fazer uma cesariana, mas eles mal pesam 1Kg. Seria como jogar tudo a sorte.
— Se esperarmos? - pergunto.
— Ele ou ela pode morrer - ele diz.
— O que faremos? - pergunto.
— Vou fazer mais alguns exames - ele diz - Se for seu irmão, ele é maior que Sammy, já ouvi casos de cesariana individuais em caso de gêmeos, podemos salvar ambos.
— Então faça - digo.
— O problema é que o bebê pertence a Elizabeth - ele diz.
— Você falou se for meu irmão, e se for ela? - pergunto.
— Vou mover céus e terra para que ela fique bem - ele diz me abraçando.
Novamente é retirado amostra de sangue, mas agora dos bebês.
— Vai dar tudo certo - Terrie diz, já que ela tira a amostra.
— Quanto tempo acha que demora esse exame? - pergunto.
— Se o ultimo foi feito urgentemente, esse vai ser feito mais rápido ainda - ela diz colocando as amostras numa maleta térmica.
— A dor vai passar - ela diz para mim - Não é o tipo mais confortável de hemograma.
— Estou bem - digo.
A maleta é levada para o laboratório e eu fico num quarto cheio de enfermeiros mas me sinto sozinha. Phillip foi falar com meu pai na recepção, por isso imagino que me sinto sozinha, ninguém ali sabe da minha agonia, apenas ele me entende.
— Beck? - meu pai diz entrando no quarto.
— Olá - digo.
— Como está?
— Bem - digo.
— Eu falei com meu pai - Phillip diz vido atrás - Ele está vindo para a cidade, caso precisemos fazer o parto.
— Lizzie vai deixar? - pergunto para o meu pai.
— Eu autorizei - ele disse - Ela não precisa saber ainda.
— Mas existe um risco altíssimo - digo.
— Um risco que você está disposta a correr - ele diz - Beck, e se acontecesse de negar essa cesaria, e essa criança morresse dentro de você, conseguiria conviver com isso?
— Não sei - digo.
— Ele tem mais chance aqui fora do que aí dentro - meu pai diz.
— Não temos certeza se é ele - digo.
— Daqui a pouco teremos - Phillip diz acariciando meus cabelos.
— Num momento está tudo bem - digo - e agora tudo desmorona.
— Não podemos desistir agora - Phillip diz para mim.
— Não estou desistindo - digo - Eu só queria que por uma vez meus planos se concretizassem. Eu só queria ter um último ano incrível, mas abri minha boca e fiquei grávida, ainda faço a burrada de engravidar do Peter, tiver que sair do país, terminei meu namoro, me esforcei pra voltar a escola e quando parece que algo está seguindo um fluxo certo, isso acontece.
— A vida não pinta dentro das linhas - meu pai diz.
— Então aparentemente meu desenho está em branco - digo.
— Ou todo rabiscado - Phillip diz.
— Beck não importa o que aconteça - meu pai diz - Você é quem toma as decisões. E sei que não existe pessoa melhor que você para fazer isso.
— Pai estou grávida - digo - E eu escolhi isso.
— Eu sei - ele diz - E agiu de forma responsável com as consequências das suas escolhas. Talvez tenha me expressado errado, mas Beck o importante não é fazer as escolhas certas, mas sim lidar com as consequências da melhor forma possível, ninguém consegue tomar as melhores decisões o tempo todo.
— E minha escolha agora vai afetar duas vidas - digo.
— Na verdade só uma - meu pai diz - Ele é minha responsabilidade perante a lei.
— Acha que vai ficar tudo bem - pergunto.
— Só temos que esperar o melhor Beck - meu pai diz sentando no pé da maca.
— Rebecca, como está? - Dr. Albers diz entrando no quarto, ele entrega um envelope a Phillip.
— Assustada - respondo.
— E agora? - Phillip pergunta para o pai.
— Você vem? - Dr. Albers pergunta ao filho.
Phillip apenas concorda com a cabeça. Ele vem a minha frente e senta do meu lado na maca, ele tira fios de cabelos grudados em meu rosto pelas lágrimas.
— Está preparada? - ele pergunta.
— Para que? - pergunto.
— Para vê-la pessoalmente - ele diz.
— Ela está sem oxigênio?
— Não, ele está - ele diz alisando meu cabelo - Mas meu pai conversou com um especialista, e a todos dos casos de nascimento em dias diferentes o primeiro acontece por parto normal, não tem como estimular um parto sem envolver o outro bebê, além de que por causa da hipóxia é um risco muito maior um parto normal.
— Quando vai ser a cesariana?
— Meu pai já está vendo isso - ele diz.
— Você vai estar lá? - pergunto.
— Com certeza - ele diz.
— Preparado para ver minhas vísceras? - pergunto.
— Não sabe com eu anseio por isso - ele diz.
— Não tenho nada pronto - digo mordendo meu lábio inferior.
— Não tem problema - ele diz.
— Phillip eu não tenho sequer um pacote de fralda - digo.
— Posso resolver isso - ele diz.
— Não! - digo - Preciso fazer por mim mesma.
— Você não pode sonhar em sair daqui - ele diz.
— Peça pro meu pai pegar meu cartão, está num dos bolsos da minha carteira - digo - E peça também para ele pegar o body no meu guarda roupa, e vou pedir para Jackie comprar meias e luvas, falta algo?
— Fraldas? - Phillip diz rindo.
— O mais importante - digo - Peço para Jackie pegar também. Preciso falar com minha avó, ela vai ter que vir antes, será que consigo achar um apartamento tão rápido?
— Pode ficar comigo - ele diz.
— Phillip já falei que quero, pelo menos por um tempo, ficar com a Samantha - digo.
— Rebecca, acredito que ela não vá sair junto com você - ele diz.
— Por que não? - pergunto - Pensei que fosse ficar apenas alguns dias. Ela não está bem?
— Ela está ótima - ele diz - Para um feto de 24 semanas, faltariam 15 semanas para ela estar completamente formada. O pulmão dela não é forte como o de um feto de 40 semanas, ela vai ter que tomar corticoide por um bom tempo.
— Ela vai ficar aqui - digo.
— Vai - ele diz - Mas vamos poder visita-la diversas vezes no dia. Se tudo sair bem em pouco tempo você vai poder amamenta-la.
— Vou poder segura-la quando ela nascer? - pergunto.
— Não sei dizer - ele fala - Não sei como ela vai reagir, mas assim que ela nascer vou mostrá-la pra você.
— Acha que eu vou ficar internada por muito tempo? - pergunto.
— Acredito que não - ele diz.
— E quanto Lizzie? - pergunto.
— Sabe que tem que contar - ele diz - Agora mais que nunca.
— Não to preparada para tudo isso Phillip - digo.
— Eu to aqui - digo - Vou te ajudar em tudo.
— Phillip - Dr. Albers chama o filho - Preparado?
— Eu estou - ele diz e vira-se para mim - E quanto a você?
Afirmo com a cabeça e recebo um beijo.
Antes de ser levada para o centro cirúrgico ligo para Jackie e peço para que compre os objetos necessários, apesar de ser 3h da manhã ela atende meu pedido.
No centro cirúrgico vejo um batalhão de azul, aparentemente não será um processo fácil e por isso é preciso de uma equipe grande.
— Se sentir um frio na barriga é o iodo - Phillip diz. Ele está com um tom de azul diferente dos enfermeiro, a touca em sua cabeça é azul marinho e sua mascara está pendendo no pescoço.
Uma enfermeira estende um pano que cobre minha visão.
— Quer segurar a minha mão? - Phillip pergunta.
— Pensei que fosse atuar - digo.
— Só se você quiser - ele fala.
— Não confio em ninguém mais - digo.
— Vai ficar tudo bem - ele diz.
— Já começou, não? - digo sentindo algo no meu abdômen.
— Diria que sim - ele fala, fecho os olhos tentando não me concentrar na sensação - Está doendo?
— Não, mas eu ainda sinto e não é nada confortável - digo.
— Você vai sentir uma pressão agora - ele diz - Quer que eu faça isso?
Apenas concordo com a cabeça e ele some atrás do pano. Sinto a tal pressão, mas não ouço nada além do burburinhos dos médicos.
— Phillip? - chamo-o.
— Está tudo sobre controle - ouço a voz dele.
Uma das enfermeiras sai rapidamente da sala com um embrulho azul. Em meio a minha desatenção sinto a pressão novamente, mas dessa vez vem sequênciada a um choro alto.
— Olá Sammy - ouço a voz de Phillip, e finalmente respiro fundo - Acho que você quer conhecer alguém - ele a traz até mim.
— Ela é tão pequenininha - digo ao tocar em seu pezinho.
— Ela me lembra você - ele diz.
— Sei que é impossível, mas acho que ela tem seus lábios - digo.
— Eu disse que teria minha parcela genética - ele diz e me beija - Parabéns mamãe.
— Dr. Albers tenho que levá-la - uma enfermeira diz. Phillip entrega o pequeno pacotinho a enfermeira que sai pela mesma porta que a outra.
— E meu irmão? - pergunto.
— Ele ficou um tempo razoável com um baixo nível de oxigênio Becca - ele diz - Em alguma das vezes ocorrem seqüelas, precisamos ter certeza se elas existem.
— Ele não chorou - digo.
— Foi por causa do nível de oxigênio - ele diz - Mas até onde eu vi ele está bem.
— Vou poder ver-lo? - pergunto.
— Não sei - ele diz.
— Phillip pode finalizar a saturação? - Dr. Albers pergunta tirando Phillip de mim.
Sou levada para o quarto assim que terminam.
— Pai! - digo ao vê-lo.
— Como você está? - ele pergunta.
— Cansada - digo - Mesmo que eu não tenha feito nada.
— Você se saiu muito bem - ele diz alisando meu cabelo suado.
— Como ele está? - pergunto.
— Bem - meu pai sem muita convicção.
— Como ele é? - pergunto.
— Ele se parece muito com você quando nasceu - ele diz - A diferença é que você tinha quase o triplo do tamanho dele.
— Você a viu? - pergunto.
— Ela é linda - ele diz.
— Ela se chama Samantha - digo.
— Imaginei - ele fala.
— Como meu irmão vai chamar? - pergunto.
— William - meu pai diz - Lizzie está com ele.
— Ela sabe? - pergunto.
— Que só tem um filho? Sim
— Ela me odeia? - pergunto.
— Está irritada, mas está feliz por ele - ele fala.
— Como você está se sentindo? - Phillip pergunta entrando no quarto.
— Ótima. Tive o melhor do meu lado - digo.
— Não sei se estou com ciúmes ou enojado por tanta melação - meu pai diz.
— Exagero - digo - Você viu a Sammy?
— Ela está reagindo muito bem - Phillip diz.
— Quando vou poder vê-la? - pergunto.
— Ela precisa ficar numa incubadora - ele diz - E você precisa lidar com os pontos.
— Isso quer dizer que vai demorar? - pergunto.
— Vou ver o que posso fazer - ele diz - Mas não posso prometer nada.
— Você vai ter que esperar pelo bem dela - meu pai diz.
— Vou senti falta dos chutes deles na minha costela - digo.
— Você vai ter muitos chutes ainda - Phillip diz - Principalmente se colocar ela pra dormir com você, já vi que Sammy é bem espaçosa.
— Quero muito conhecê-la de verdade - digo.
— Acho que nesse momento o melhor que você pode fazer é dormir - Phillip diz - São quase 6 da manhã, e você está virada.
— Foi um dia complexo - digo.
— Cheios de surpresa - Phillip diz me dando um beijo - Alias Jackie trouxe as coisas que pediu. E acho que ela está acampando na sala de espera.
— Não seria melhor pedir para ela entrar? - pergunto.
— Você não dormiria com ela aqui dentro - Phillip diz - E você precisa dormir.
— Vai embora? - pergunto.
— Por mais que eu anseie pela minha cama - ele diz - Vou ficar no alojamento do hospital. Venho te ver amanhã.
— Boa noite - digo.
— Está mais pra bom dia mamãe - ele diz e me beija antes de sair.

...

Meus amores
Admito que esse capítulo foi uma surpresa até pra mim.
Quando comecei a escrevê-lo, acho q no final de semana, nem sequer pensei que haveria um parto no final.
Sabia mais ou menos como aconteceria, mas me surpreendi por ser agora.
Qnd as coisas começaram a tomar o rumo do parto me perguntei se era muito cedo, mas cara já estamos no capítulo 28. Tecnicamente estou enrolando vocês.
Mas basicamente nos 3 dias que levaram esse parto (pra vcs foram alguns minutos) não tive muita certeza do que ia acontecer.
Desde que Por Amor começou apitar na minha cabeça sabia que o bebê de Lizzie, ou nosso pequeno William "Will", teria algum probleminha, fiz uma pesquisa sobre hipóxia neonatal ou Sofrimento Fetal, e acabei decidindo por isso.
E nossa Little Sammy,

 E nossa Little Sammy,

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Our babys

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Amo tds vcs
Bj bj
Ana

Por AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora