Divergências

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Sinto um tapa em meu rosto e abro um dos olhos.
— Não conte a ninguém que você dormiu comigo - digo com voz de sono fazendo Sammy rir, ela deita no meu abdômen, passo meus dedos pelos ralos cabelos dela - O que quer?
Ela puxa minha blusa mostrando que está com fome. Ajeito-a no meu peito e ela segura firmemente enquanto mama.
— Como lidaremos com seu pai hoje? - pergunto e ela apenas me encara com seus cílios gigante - Mamãe merece um hamburger de tantos neurônios que gastei.
Termino de amamenta-la e dou-lhe banho.
Phillip aparece por trás de mim e beija meu pescoço.
— É a primeira vez que vejo-a tomando banho - ele diz.
— É o momento favorito dela - digo.
— Não queria te irritar ontem - ele diz.
— Espero que nunca queira - digo.
— Será que conseguimos uma consulta com o pneumologista da Sammy hoje? - ele pergunta.
— Não sei - digo - Talvez por ser ela, ele abra uma exceção.
— Andei pesquisando - ele diz - Mas como sei que prefere uma segunda opinião, quero discutir minhas conclusões com ele.
— Sobre o que? - pergunto.
— Viagem de volta - ele diz me fazendo encara-lo.
— Não vou discutir com você de novo - digo desviando minha atenção para Sammy.
— Pelo menos pode ouvir o que o médico vai falar? - ele pergunta.
— Se vai te deixar feliz, com certeza - digo - Mas isso não significa que vamos voltar.
— Deixe sua resposta em aberto - ele diz.
— Você está muito nervoso - digo enrolando Sammy na toalha - Precisa ir para o hotel de novo?
— Não, não quero machucar você.
— Você não me machucou, só estou desacostumada - digo.
— Você quer tentar de novo?
— Prefiro a ir num consultório médico - digo.
— Não, você disse que iria, vou pessoalmente tentar marcar.
— Faça como quiser - digo.
— Não podemos fazer as duas coisas? - ele pergunta.
— Até poderíamos, mas preciso ficar com Sammy - digo.
— Você está se fazendo de difícil por causa da viagem - ele diz me pegando por trás e beijando meu pescoço.
— Phillip eu preciso vesti-la - digo tentando ignorar o arrepio em minha pele - Pegue uma fralda por favor.
Visto Sammy e ele tira-a dos meus braços a colocando no berço.
Em seguindo sou empurrada para a cama, a mão dele desliza sobre a minha perna levantando minha camisola.
Mas como previa isso não dá certo, porque Sammy começa a gritar. Empurro de lado e levanto para pega-la.
— Você realmente achou que ela ficaria no berço tranquilamente? - pergunto.
— Olha quantos brinquedos tem aí - ele diz - ela pode se distrair por horas.
— Não é tão fácil assim - digo.
— Será que consegue ligar pro médico agora? - ele pergunta.
— Você acordou com um pouco de pressa hoje - digo.
— Vem com o papai - ele diz tirando Sammy dos meus braços.
— Vou procurar o número dele, mas não prometo nada - digo selando os lábios dele rapidamente.
— Estive pensando - ele diz.
— Poupe-me dos seus pensamentos por agora.
— Basicamente, seu apartamento está abandonado - ele prossegue sem se importar com meu comentário - Pensei em vendê-lo.
— Meu apartamento? - pergunto encarando-o.
— Não é como se estivesse usando - ele diz.
— Está insistindo pra eu voltar, mas quer vender meu apartamento?
— O melhor agora seria vocês ficarem no meu...
— Não acho uma boa ideia - digo.
— Pense bem, isso seria o melhor pra todos nós.
— Estou cansada de morar na casa dos outros - digo.
— Não sou qualquer um - ele diz.
— Não importa Phillip, preciso do meu lugar - digo.
— Pense um pouco em como será incrível nós três juntos?
— Por favor - digo tentando tirar Sammy dos braços dele, mas ela vira o rosto para mim e deita a cabeça no ombro de Phillip.
Isso quebra meu coração, me fazendo arfar. Perco todas as palavras e não sei o que fazer.
— O que foi? - Phillip pergunta me encarando.
— Nada - digo engolindo minha indignação e voltando pro meu caminho.
— Poderíamos ir ao parque todos os dias, já que fica muito mais perto do meu apartamento.
— Eu tenho carro - digo sentando á mesa.
— Não iria precisar dele - ele insiste.
— Phillip, vou pensar - digo tentando calar a boca dele.
— Poderíamos levar Sammy no parque hoje - ele diz mudando de assunto.
— Meu amor, estamos em São Paulo, o ar aqui é cinza, como posso sair com um bebê na cânula pra um ambiente poluído desses?
— Shopping?
— Muita gente - digo.
— Quando acaba a prisão domiciliar dela?
— É pra segurança dela - digo.
— Deixe-me sair com ela - ele diz.
— Quer saber? - digo anotando o telefone no médico num guardanapo - Faça o que quiser.
Levanto-me e volto para meu quarto. Meus olhos não esperam eu ficar sozinha para escorrerem.
Acabo por dormir novamente em meio às minhas lágrimas. Acordo meio atordoada, um pouco confusa com que aconteceu.
Sento-me na cama e situo meus pensamentos. Percebo que novamente me irritei facilmente com Phillip. Caminho até a sala na intenção de me desculpar.
— Onde está Phillip? - pergunto a minha avó que tricota na sala.
— Saiu com a bebê - ela diz sem tirar os olhos da sua peça.
— Como? - pergunto - Onde ele foi?
— Ele é pai dela, e médico - ela diz - Não fiquei questionando.
— Meu Deus - digo saindo do apartamento e descendo as escadas o mais rápido que consigo. Vou até o parque do condomínio e vejo que está vazio, começo a puxar meus cabelos e respirar fundo tentando controlar meus pensamentos.
Volto ao apartamento e pego meu telefone, tento ligar para ele, em vão. Começo a me desesperar, não sei o que fazer.
Minha avó calmamente me ignora. Lágrimas escorrem por meu rosto. Penso em ligar para polícia, mas não vai adiantar.
Phillip entra no apartamento e a primeira coisa que faço é pegar meu bebê.
— Onde raios você estava? - pergunto gritando.
— Fui no médico, como você sugeriu - ele diz sem expressar nenhuma reação de arrependimento.
— Você está louco? Como sai com a minha filha - digo - Sem ao menos me avisar.
— Não planejava te deixar assim - ele diz - Mas precisava saber por mim mesmo.
— Arriscando-a?
— Ela está bem - ele diz - Falei com o pneumologista dela, ela pode viajar. Ele me convenceu no oxigênio.
— Como pode fazer isso? - pergunto ainda alterada.
— Está tudo bem - ele diz pegando Sammy dos meus braços - Iremos pra casa.
— Não, vamos ficar aqui - digo.
— Estou aceitando todas as suas decisões a um tempo - ele diz - Mas quanto a isso, se você não quiser ir não vá, mas Samantha vai comigo.
— Nunca - digo - Realmente acha que pode tirá-la de mim?
— Rebecca para de drama, eu preciso levá-la - ele diz.
— Eu já disse não - repito.
— Não tem escolha, ou eu levo ela por bem, ou a Interpol vem pega-lá - ele diz me fazendo encara-lo.
— Como assim? - pergunto.
— O julgamento não anda tão bom quanto eu disse, preciso de Sammy em Boston - ele diz.
Sento-me tentando absorver a informação.
— Por que você mentiu? - pergunto - Todo esse tempo pensávamos que estávamos perto da vitória.
— As coisas são mais sérias do que pensávamos - ele diz - Mas independente você é a mãe dela, e juiz nenhum pode negar isso.
— Do que adianta ser mãe se me tirarem ela? - pergunto.
— Você me disse uma vez que com Sammy cada dia era uma luta diferente - ele diz agachando e pondo a mão no meu joelho - Apesar de guerra estar longe de acabar, temos que focar nas pequenas batalhas que temos a frente.
— Quando vamos? - pergunto.
— O quanto antes - ele diz mostrando-se aliviado - Já que estou sendo sincero, tem mais uma coisa pra te contar.
— O que foi? - pergunto pegando Sammy pra ele se sentar do meu lado.
— Seu apartamento.
— O que tem ele?
— Bem, não é mais seu.
— Como?!
— Os gastos saíram do orçamento, e precisávamos do dinheiro - ele diz.
— Nem ao menos me consultou - digo.
— Rebecca você mal passou uma semana naquele lugar, não imaginamos que tivesse se apegado.
— Meus avós tem tanto dinheiro...
— Você não entende - ele diz dando um sorriso amarelo e coçando a barba rala no queixo.
— Me explique.
— Os advogados são muito caros - ele diz - Se não fosse pelos seus avós eu estaria falido. Seu apartamento além de estar parado, dava razão de fuga. Unimos o útil ao agradável.
— Por que não me avisou? - pergunto.
— Você estava com Sammy, tinha que lidar com a displasia.
— Phillip eu preciso estar ciente de tudo que envolva ela - digo.
— É difícil - ele diz pondo a cabeça entre as pernas e passando as mãos nos cabelos - Cresci com a ideia de que precisava manter minha família.
— Quer ser um provisor - digo - Nós não precisamos que se estingue por nós.
— Preciso fazer isso - ele diz.
— Não precisa - digo acariciando seus cabelos - Está tão estressado que está ficando com fios brancos.
— Parece ter cada vez mais.
— Minha imagem vai piorar ao ficar com um grisalho - digo.
— É possível piorar? - ele pergunta rindo e sou-lhe um soco no ombro.
— Eu te amo - digo.
— Também te amo - ele diz beijando minha cabeça.
— O que faremos? - pergunto.
— Daremos um jeito - ele diz me abraçando com seu queixo sobre minha cabeça.
Sammy em meu colo se aninha ao meu peito, permaneço nos braços de Phillip observando nossa garotinha.

Por AmorWhere stories live. Discover now