14 DIAS

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14 DIAS, duas semanas esse é o tempo em que eu prometo para mim mesmo que vou falar com Carlos, mas toda as vezes em que estou a um passo de ir lá e falar com ele algo acontece, em algumas vezes é um dos meus amigos ou um professor que atrapalha, e as vezes sou eu mesmo.

Está bem, quem eu estou tentando enganar, estou arrumando qualquer tipo de desculpa para não ir falar com Carlos, é muito difícil você conversar com alguém que sabe que algo horrível aconteceu cm você, e tem aquele medo incessante de que esse assunto pode surgi no meio da conversa.

Como o universo sempre conspira contra mim, na saída, quando estava tentando evitar aquele mar de alunos, acabo por trombar com Carlos. Sinto suas mãos em meus braços, para evitar que eu caia. E por algum motivo suas mãos em mim não me incomoda de forma alguma.

- Me desculpe. – Ele diz, e quando percebe em quem trombou, vejo um dilema passar em seus olhos, como se ele estivesse decidindo se fala comigo ou se vai embora, ele opta por ir embora.

Quando ele dá alguns passos, eu o chamo. Se eu não fizer isso agora, nunca mais eu faço. Ele olha em meus olhos, e o que posso dizer é que algo se agita dentro de mim. Digo a mim mesmo que é por conta das mensagens, e não porque sou gay e Carlos é muito gato e eu passei as últimas duas semanas pensado nele.

- Me desculpe. – Junto coragem e continuo. – Não por ter trombado em você, quer dizer, isso também. Enfim, o que quero dizer é que eu sinto muito por ter ignorado você por algo que não foi sua culpa. Eu realmente não queria ter ignorado você, eu simplesmente não sabia o que dizer.

- TK, não precisa, em momento algum eu fiquei com raiva. Eu só fiquei preocupado. – Eu não sabia o que dizer, durante esse tempo eu montei uma conversa em minha mente para quando essa hora chegasse, mas quando chega o momento de falar é como se não fosse o certo, como se as palavras não fossem o suficiente. Acho que só não quero estragar tudo. – Podemos conversar lá fora.

- Sim, claro. – Ainda estávamos no corredor, nem parei para pensar que alguém poderia escutar nossa conversa. Fica um silêncio incomodo enquanto vamos para fora, vejo Carlos soltar alguns suspiros, parecia que nem ele sabia o que dizer, pelo menos não estou sozinho nesse barco.

Nós paramos em frente a um banco que tem na entrada da escola, eu olho para meus pés sentindo um constrangimento que nunca fez parte de mim. Eu também podia perceber que Carlos estava um pouco inquieto pela forma como ele se mexia. Pensei que eu seria o que quebraria o silencio até que Carlos diz.

- TK, - ele para por alguns segundos antes de continuar - eu não vou tocar no assunto, se é isso que você quer. Eu só quero que você saiba que eu estou aqui, você pode falar comigo se quiser, mesmo que não sejamos amigos.

- Sim. Obrigado, Carlos. – Sinto uma vontade de me dar um soco. É só isso que eu tenha a dizer? Sim, obrigado? Pelo amor, TK diz alguma coisa. – Acho que posso dizer que você é um pouco meu amigo, você meio que é obrigado, você sabe coisas de mais sobre mim.

Foi uma tentativa frustrante de humor, mas fez Carlos sorrir um pouco e tirar uma pouco daquele ar constrangedor.

- Esse fim de semana é o aniversário da minha sobrinha, você poderia aparecer por lá, se você quiser.

- Você tem uma sobrinha? – Digo, e por um momento fico imaginado ele com uma criança o chamando de tio, e como isso seria fofo. – Isso deve ser muito legal, eu amo crianças, sempre quis ter um irmão ou uma irmã mais nova.

- Ser o mais novo é um saco, é bem sufocante, para dizer o mínimo. Tenho quatro irmãs mais velhas. – Fico muito feliz com a mudança de assunto, não aguentaria muito tempo com o foco totalmente em mim.

Estrela Solitária - TarlosWhere stories live. Discover now