Capítulo 3: O anjo e o demônio

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As aulas já haviam terminado àquela altura, os alunos começavam a sair do colégio de maneira rápida, ninguém querendo passar nem mais um minuto naquele recinto.

E, obviamente, os alunos do último ano pareciam devastados, quase como se tivessem acabado de serem pisoteados por uma manada de elefantes dançadores de tango, ou algo parecido. Sentiam-se derrotados e extremamente cansados, precisando urgentemente relaxar.

Kenny, Stan e Kyle estavam no estacionamento, à espera de Eric Cartman para todos irem de volta para casa no carro que ele havia ganhado de presente de sua mãe em seu último aniversário. Sabendo que, muito provavelmente o garoto demoraria, o trio conversava sobre trivialidades do dia a dia, além de falarem sobre aquele dia escolar desastroso e, também, faziam comentários sobre a última festa.

— Caras, eu preciso fazer uma pergunta que está me consumindo o dia inteiro.

Stan interrompeu o diálogo de Kenny e Kyle acerca do beijo que Red e Heidi teriam trocado em meio ao jogo de verdade ou desafio, na noite passada e isso fez os dois amigos do moreno lhe lançarem um olhar questionador, um indicativo mudo que ele podia prosseguir.

— Será que o Damien, da nossa sala, comemora o Natal?

Kyle franziu o cenho, pensativo sobre aquela questão, mas antes que pudesse responder a voz de Cartman anunciou sua chegada.

— Talvez ele comemore a festa judaica do Kyle.

O ruivo bufou em um revirar de olhos, cruzando os braços e mantendo-se à frente do rapaz.

— Ele é literalmente o filho do Diabo. Por que raios comemoraríamos a mesma festa? Isso sequer faz sentido!

— Junte ele, o pai e a sua família e pronto! Terão um ótimo feriado.

— Eu não vou gastar minha saliva com você, Cartman...

Foi a única coisa que Kyle se dispôs a dizer sobre aquele assunto, já abrindo a porta detrás do carro e entrando no veículo.

[ ... ]

Já era fim de tarde e Tweek Tweak andava ao lado de Butters pelos corredores, ambos conversando sobre filmes e músicas apenas para passar o tempo enquanto esperavam Craig, Tolkien e Clyde saírem de suas atividades extracurriculares. A dupla de loiros também fazia parte de um clube, mais especificamente o de artes, mas ele não funcionava às segundas.

— O pessoal falou sobre seu sumiço no almoço — Comentou de forma despretensiosa, olhando alguns panfletos de desaparecido no mural do colégio — Espero que tenham achado o gatinho... É realmente triste quando essas coisas acontecem.

Leopold suspirou em um sorriso, colocando as mãos atrás de sua cabeça.

— Podem perguntar à vontade! — Seu riso parecia ter certo ar de malícia — Eu e Kenny estávamos conversando atrás da escola, Stan e Kyle até se juntaram à nós depois.

Os olhos azulados de Butters se locomoveram até a imagem do gatinho desaparecido que Tweek havia citado.

— Já fazem uns quatro meses, acho que a família já arranjou outro gato. Eu passei perto da casa deles esses dias.

Os olhos dos dois se encontraram e Butters soltou uma gargalhada com as feições no rosto do amigo que, nitidamente, estava pensando mais do que deveria sobre o fato dele e Kenny estarem conversando atrás da escola.

— Tem que parar de pensar tão sujo Tweek.

As expressões de Tweek mudaram para algo mais envergonhado enquanto as bochechas ficaram levemente rubras, como se tivesse sido pego no flagra.

— Não tem graça, Butters! É fácil pensar isso de você e do Kenny, estão sempre sumindo e fazendo esse tipo de coisa em locais que não deveriam!

— Diz isso pra árvore no jardim do Cartman.

— Esquece isso!

— Está na internet, é impossível esquecer.

Os dois continuaram a falar e a rir das piadas diárias, voltando a caminhar pelo corredor e chegaram até ver Elizabeth entrando na sala dos professores. Ambos os adolescentes sentiram um arrepio horroroso percorrendo por suas respectivas espinhas.

— Ela parece uma vilã dos filmes da Disney, usa até a mesma paleta de cores!

Butters contorceu o rosto em uma careta.

— Por favor, vamos esquecer isso. Podemos ir ver o Craig no clube de astronomia e esquecer essa... Bruxa.

[ ... ]

O dia passava de forma preguiçosa, os adolescentes andando pela cidade enquanto conversavam e brincavam com a neve, todos eram eternas crianças.

Contudo, em uma das lanchonetes locais, estavam Damien Thorn e Phillip Pirrip comendo um lanche. Como nenhum deles gostava de comer a comida terrível do refeitório do colégio, sempre resultava nos dois comendo o que traziam de casa e que, normalmente, era significativamente pouco.

Então, quase todo dia eles comiam após a aula.

Pirrip deu uma risada com um comentário de seu namorado, limpando seus lábios sujos de milkshake de morango.

— Você tem certeza que eu tenho um lado obscuro, Damien?

— Com certeza, francês.

Seu tom era debochado e ele possuía um pequeno sorriso de canto, com tudo indicando que era apenas uma pequena provocação. O jovem loiro franziu seu cenho, em uma clara frustração.

— Eu já disse que sou britânico, Damien.

— É, eu sei disso — O sorriso dele se mantinha — Seu lado obscuro deve estar escondido por detrás desse lado meigo e que aceita ser pisoteado por aqueles imbecis.

— Me acha meigo?

O sorriso e o olhar apaixonado de Phillip Pirrip deixam nítido que ele parecia ter ignorado boa parte do discurso de Damien, que riu baixo, quase inaudível.

— Não preste atenção só nos elogios, Phillip.

— Está bem.

Suspirou, dando-se por vencido e enlaçando sua mão com a de Damien e o encontro prosseguiu. O demônio sempre tentando convencer o pequeno loiro a falar mais sobre o que lhe incomodava e a lutar contra, até realizando brincadeiras, dizendo que queria fazer o pior lado daquele doce anjo florescer.

Phillip tinha noção sobre a verdade nas palavras de seu amado, até naquelas brincadeiras que poderiam ser mal vistas. Mas, também sabia que aquela era a forma que o outro demonstrava sua preocupação.

O telefone de Damien interrompeu o momento romântico de ambos. O moreno visualizou a mensagem e fez um som de irritação.

— Eu tenho que ir. Você vai ficar bem?

— Claro. Você sempre vem quando eu estou em perigo.

PadecerWhere stories live. Discover now