Capítulo 10: Exício

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O grito de Red é ensurdecedor. Seu choro é tão agoniante e repleto de dor quanto de uma criança perdida no mercado.

Seu rosto estava completamente petrificado, visualizava a cena nojenta e horrenda que se desenrolava na sua frente.

Pareceu ser feito em câmera lenta. Aquela coisa os encarou. As costas curvadas e repletas de espinhos, a pele cinza e o sorriso enorme e pontiagudo, Red achou, a primeiro momento, que nada poderia ser pior do que aquela visão tão infernal e diabólica.

As escadas rangeram tortuosamente a cada passo que Elisabeth Stephenson deu nos degraus, até finalmente pisar no chão frio.

Red não sabia o que aconteceria nos próximos minutos, então chegou a tentar se mover em vão. Havia esquecido a conversa que teria tido com Pip, não fazem muitos minutos.

Elizabeth respirou fundo, gargalhando ruidosamente, passando seus próprios dedos no cabelo que caía. Era uma figura tão horrenda que ninguém teria palavras.

— Phillip... Está pronto, seu cheiro está ideal.

Red negou com a cabeça, em pânico. Seus lábios se abriram e fecharam diversas vezes, sem saber como colocar aquele sentimento agônico para fora.

Ela jamais sentiu apreço por aquele garoto, mas nunca chegou a passar por sua cabeça que ele mereceria a morte.

Então Red gritou e seu berro foi ensurdecedor.

Elizabeth agarrou Pip pelos ombros e o puxou para cima. Os olhos do menino, que um dia já haviam sido tão brilhantes, otimistas e ingênuos como os de uma criança a ver um doce em uma confeitaria, agora eram apagados e mortos, não havia mais nenhuma sombra de vida ou inocência.

O momento em que a professora virou de uma vez o pescoço de Phillip foi grotesco, como uma galinha. Red sentiu-se paralisada, seu coração estava extremamente acelerado. Não haviam palavras passando por sua cabeça naquele momento em que viu o pescoço do menino virar daquele jeito tão anormal, ninguém deveria torcer tanto o próprio pescoço.

— Pip... PIP! PIP!

Essas três letras eram a única palavra que era capaz de proferir, com tanto desespero e de forma tão alta que já sentia sua garganta arranhar.

Visualizou tudo de forma tão lenta que ficou se repetindo em sua cabeça, de novo e de novo.

A cabeça dele caiu para trás, seus olhos continuavam bem abertos e arregalados a última dor de sua vida expressa naquele cadáver.

— Já está morto, não adianta tamanha algazarra — Elizabeth foi se transformando para sua forma humana novamente. A voz deixando de ser parecida com estática e voltando para o tom monótono e gelado, fino. Os espinhos desapareceram, o cabelo pareceu que sempre esteve ali, mas o sorriso pontiagudo continuava firme e forte em seus lábios — Na verdade, gritei à vontade. Sabe, Red... Você não estava nos meus planos, apenas alguém de emergência, mas acho que ficará pronta bem rápido. Seus traumas transpiram por sua pele.

Elizabeth ainda tinha o corpo pequeno de Pip consigo, carregando-o com ambos os braços. Red não conseguia olhar para nada além dele.

— Posso ficar com o cachecol?

A mão trêmula de Red se ergueu, apontando para o tecido que embelezava o pescoço retorcido.

Elizabeth riu, baixo. Despejou seu olhar em cima de Red.

— Rebecca McArthur, mais conhecida como Red... Garota popular, se dá bem com todo mundo, principalmente com a dupla Bebe Stevens e Wendy Testaburger — Elizabeth anda até as escadas, sem parar de falar — Assim como todo mundo, sempre judiava desse garotinho em meus braços, mas eu agradeço tanto a vocês... Deixaram ele tão perfeito, precisei de pouco para prepará-lo! Mas, garota... Seus traumas te afetam mais, então, aproveite seus últimos dias... Ah e certifique-se de aprender tudo depressa, em breve terá companhia.

Elizabeth retirou o cachecol amarronzado do pescoço de Phillip Pirrip e jogou nos pés de Rebecca.

A ruiva pegou-o de forma apressada, tremendo e agarrando aquele pedaço de pano como se fosse o bem mais precioso de sua vida, pouco importava-se que estava sujo. Beijou-o repetidas vezes, chorando de forma silenciosa.

[ ... ]

Todos permaneciam em silêncio, já faziam quase trinta e cinco minutos. Todos estavam processando a história que Kyle, Cartman, Stan e Kenny teriam contado, de forma porca e com ausência de detalhes.

Wendy levantou, coçando os olhos. Sentia a exaustão física e mental lhe dominando pouco a pouco, toda vez que piscava parecia que demorava mais, como se tirasse pequenos cochilos quase imperceptíveis.

— Então, a culpa é de vocês... De novo?

Sua voz é trêmula. Ninguém consegue perceber a linha tênue do cansaço e da raiva em seu tom, os passos tortos de Wendy na direção de Stan são dados sem que ela desvie o olhar dele.

— Ei, não! Nada disso. A gente não chamou aquela merda para cá, pelo contrário, tentamos livrar as crianças de South Park daquilo!

Wendy rangeu os dentes com a resposta, que na verdade havia sido dada por Kyle e não por Stan.

Bebe foi até a amiga, trazendo-a para se sentar novamente. A jovem Stevens depositou a cabeça da morena em seu ombro, começando a sussurrar

sussurrando para que ela tentasse descansar, que tudo terminaria bem. Nada iria acontecer.

Eles estavam em South Park, coisas estranhas aconteciam o tempo inteiro.

— Wendy,... Descansa, vai dar tudo certo! — Segredava para a amiga, tentando manter o otimismo na voz — Red é forte, vai tudo terminar bem, nada vai acontecer... A gente vive em South Park, lembra? — Todos estavam tão quietos, que eram capazes de ouvir a voz de Bebe relaxando e acalentando a amiga, mas, parecia que o efeito estava repercutindo em cada um dos presentes — Isso acontece o tempo inteiro por aqui! E depois tudo se ajeita, ninguém lembra de nada. Nós vamos ter Pip, vamos ter Red...

Damien não sabe dizer o que aconteceu. Talvez algo naquele tom mórbido, no falso otimismo de Bebe.

Também podia ser o fato de que, pela primeira vez, parecia estar visualizando a união que todos sempre falavam.

Damien não sabe dizer o que foi, mas sentiu seu peito apertar, como se fosse morrer, parecia fraco. Seus olhos começaram a arder e ele, então, se viu chorando.

Um berro quase gutural rasgou sua garganta, pressionando as mãos no rosto. Não entendia o que estava ocorrendo. Conhecia os sentimentos, contudo, aquela sensação de morte...

Só tinha uma certeza: Seu choro desencadeou os dos outros. Apenas ouvia os barulhos de diversas pessoas chorando, tanto quanto ele.

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Esse foi um dos capítulos mais difíceis de escrever, eu confesso. A morte totalmente agônica de Pip, torna-se ainda pior por ser narrada no ponto de vista desesperador de alguém que não estava preparado para o que viria.

Infelizmente, apesar de todos sabermos que isso aconteceria, eu prometo que terão novidades... Promissoras e esperançosas!

É só todos se lembrarem, quem é o namorado do nosso amado Pip.

PadecerWhere stories live. Discover now