Capítulo 6: A beira da felicidade

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A Lua estava parecendo um sorriso naquela noite, a cidade estava cheia de adultos bêbados e irresponsáveis pelas ruas, além dos adolescentes que sempre se reuniam em algum lugar para fazer algo semelhante.

Mas Elizabeth Stephenson não gostava de estar no meio deles. Ela preferia ficar exatamente ali onde estava; carregando uma bandeja vazia de ferro enquanto jazia sentada em uma cadeira velha de madeira com as pernas cruzadas.

Seu porão tinha um cheiro forte de carne podre, ossos jogados em um canto mas, no geral, era perfeitamente limpo. Não havia pequenos animais ou poeira, ela fazia questão de tudo estar impecável.

Naquele momento ela observava Phillip Pirrip devorar a comida que havia trazido, com um sorriso doce emoldurado em seus lábios. Conseguia sentir em sua pele o quão amedrontado ele estava, isso fazia sua boca se encher de vontade de devorá-lo, sem preparo nenhum.

Mas sabia que não estava no ponto ainda, ela precisava de mais tempo com ele, além de arranjar outros para se juntarem ao pequeno e excluído Phillip Pirrip.

— Está boa?

Ele ergueu os olhos em sua direção, concordando com a cabeça, aparentando certa pressa. Elizabeth sorriu, preferindo não dizer que aquilo não era carne de boi, frango ou porco.

Adultos e animais não a alimentavam tanto, isso a deixava irritada e, consequentemente, mais propensa a ter um descontrole em sua forma física.

Mas ela, Gabrielle Willow, até que deu para o gasto. Sua maciez denunciava quão ingênua e bondosa era, mas seu amargor deixava nítido que a carne estava passada, mas ela lhe deu tanto trabalho que faria questão de comer cada pedaço, até que não sobrasse nada.

Stephenson teve que estudá-la por semanas, a rondando para saber quando atacar e o que usar como desculpa para retirá-la de seu posto como professora do último ano. Fazia questão de dar aula para aqueles pirralhos mimados e imaturos.

No final, tudo que teve de fazer era recomendar um emprego na cidade vizinha onde ela, supostamente, teria que ajudar uns adolescentes que pareciam ser um caso perdido, então, a emboscou na saída da cidade.

Só lhe restou seu carro — ao qual tirou a placa para dificultar a identificação — seus ossos e as roupas de Elizabeth ficaram ensanguentadas, obrigando-a a se trocar no meio do mato. Era realmente tenebroso quando eles se mexiam e sujavam sua roupa com todo seu sangue.

— Se tudo der certo, em poucas horas não estará mais tão sozinho — Seu sorriso aumentou — Meus preferidos são os excluídos e os problemáticos, por isso você veio primeiro... Phillip.

Elizabeth se ergueu, recolhendo o pote que havia utilizado para alimentá-lo e subiu as escadas, apenas anunciando que em breve estaria ali para limpá-lo e lhe entregar um travesseiro para que pudesse repousar melhor.

Sua felicidade durou por pouco tempo, transformando-se em raiva no instante em que visualizou Satã sentado em seu sofá, bebericando algo que com certeza teria roubado de sua geladeira.

— Eu avisei que lhe visitaria em breve — Ele sorriu, erguendo a taça — Sabe, Elizabeth... Sinto em dizer que em breve sua alma será minha, principalmente por ter decidido pegar o namorado de meu filho.

Ela rangeu os dentes, sentindo eles se tornarem pontudos e as garras já apareciam.

— Sinto lhe dizer, Satã... não colherá minha alma — Ela aproximou-se dele, tomando a taça de suas mãos — Estamos nessa há, duzentos, quinhentos anos... não? E até hoje não descobriu uma forma de pegar a mim ou os da minha espécie. Nós, monstros, somos os mais inteligentes da Terra — Ela riu disfarçadamente — Mas devo dizer que eu sou o melhor de todos, agora me dê licença que estou me preparando para caçar novamente.

[ ... ]

Os adolescentes do último ano decidiram que ficariam no terreno da família McCormick aquela vez, afinal, os pais e irmãos de Kenny não dormiriam em casa naquela noite e isso deixava tudo inteiramente limpo para eles fazerem o que quisessem.

A maioria estava sentada no chão, bebendo e rindo alto, porém, tinham algumas exceções espalhadas pelo terreno que faziam atos que não precisavam de tanta conversa, por assim dizer.

Kenny estava em pé — com uma garrafa de vidro que estava quase no fim — , próximo de Leopold e estava verdadeiramente feliz dele ter decidido vir, no último minuto. Afinal, Kenny decidiu fazer toda aquela bagunça em sua casa somente por causa dele, queria que ele saísse e se divertisse mais e sabia que se fizessem na casa de Cartman, ele nem estaria por perto.

Também tinha o desejo do McCormick de querer ficar mais tempo com Leo sem ser nos banheiros apertados ou em qualquer esconderijo que possuíam no colégio.

— Cartman não ter vindo foi o melhor da noite.

Stanley pontuou, sentado entre Kyle e Wendy, continuando a esfregar a mancha de vinho, causada por Kyle, que estava em sua manga esquerda. Inclusive, pode-se dizer que ele tinha uma relação complicada com ambos — Kyle e Wendy; gostava dos dois e eles gostavam dele de volta, porém... Kyle e Wendy não possuíam sentimentos românticos um pelo outro.

Mas, recentemente, haviam decidido ter um relacionamento aberto onde os dois não se namoravam mas sim, Stan. E os três também podiam ir atrás de outras pessoas se quisessem, mas ninguém ligava muito para aqueles detalhes e só se importava que eles eram livres para beijar e participar de atividades mais intensas, se assim quisessem.

— Com certeza! É um alívio não ter que me preocupar com as merdas que ele fala.

Sem falar que não tem risco de alguma coisa vazar.

Wendy se ajeitou, tirando sua cabeça do ombro de Marsh e olhou para os arredores com cenho franzido, demonstrando estranheza.

— Alguém viu a Red? Eu fiquei de voltar com ela e a Bebe.

Kenny deu um dar de ombros, terminando de virar a garrafa em suas mãos e a colocando junto com as outras. Conforme se aproximava, abraçou Butters pelos ombros, assim o trazendo mais para perto.

— Ela estava bêbada pra caralho, deve estar dormindo em algum canto. Podemos dar uma volta e procurá-la se quiser.

Wendy suspirou e acendeu a tela de seu celular.

— Vamos esperar um pouco, qualquer coisa a gente vai.

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