Capítulo 9: Aterrorizado

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Red despertou, abrindo os olhos. Sua vista ainda estava se acostumando com a escuridão quando seu rosto se contorceu em uma careta com o cheiro de carne podre, ela quase vomitou com aquele odor tão forte e pútrido.

Sua cabeça estava dolorida, seu corpo totalmente dormente.

O cômodo era praticamente a meia-luz, devido a um castiçal solitário em uma das paredes, as quais ela continuava a olhar para tentar se achar.

Tentou levantar, mas falhou miseravelmente, seu corpo parecia estar pior do que pensava. Só conseguiu ouvir o barulho que as correntes fizeram, estas que estavam em seus braços e pernas, prendendo-a.

O que aconteceu?, Ela pensa em completo desespero. Suas orbes claras olham os arredores em mais profundo pânico. Tentando se mover e se soltar, suas correntes fazem mais barulho.

— Não vai funcionar.

Red desvia o olhar das paredes assim que ouve aquela voz, seus olhos se arregalaram quando ela visualiza Philip Pirrip do outro lado daquele cômodo, tão preso quanto ela, contudo, ele parecia sujo e possuía uma expressão de absoluta morte em seus olhos.

— Pip... — Ela murmurou, em profundo choque — O que... Como?

— Você demorou para acordar, os pássaros já pararam de cantar e o sol que vem da janelinha já até passou — Pip parecia conseguir movimentar um pouco os braços, tentando apontar para uma janela bem alta em uma das paredes — Deve estar dormente, mas é melhor não fazer barulho. Ela não gosta disso pela manhã e você deu bastante trabalho durante a noite, então, estará de mau humor.

Red sente que seu próprio corpo está tremendo quanto mais ouvia Pip falar.

Esse é o Pip? O que aconteceu? A voz dele era sempre tão alegre e feliz, por mais que tudo fosse uma merda. O tom dele está morto, está morto, está morto, está morto.

— Ela...? Quem, quem é ela?

O tom de Red é completamente aflito.

— Você vai se acostumar com o cheiro da carne podre — Pip não a respondeu, apenas continuou falando, aquelas supostas instruções — Ela só aparece aqui embaixo quando o barulho dos adultos lá fora começa, ela traz sempre em vasilhas. Não pergunte por talheres ou o que é a comida, ela não será violenta, mas o silêncio é pior. Comemos uma vez por dia.

— Pip, quem é ela? Por que você está tão calmo?

O tom de Red aumenta.

— Red, não fale alto — Pip pediu — Ela? Ah, é a professora Stephenson.

[ ... ]

Todos se reúnem no terreno de Kenny, exatamente por volta das oito da manhã. Até mesmo Cartman e Damien estão presentes, por mais que esse último esteja ali apenas com o intuito de conseguir achar o próprio namorado.

Todos estão discutindo, praticamente gritando várias teorias sobre o que aconteceu. Exceto por Tweek, ele está em silêncio em um canto, tomando sua garrafa térmica como alguém que vira um shot.

— Calem a boca — Damien grita mais alto que todos, seus olhos chegaram a brilhar e o chão tremer. Os poderes demoníacos realmente fizeram ele conseguir a atenção dos presentes — Se tivessem me ouvido quando Pip sumiu, talvez Red não tivesse sumido, só se importam agora porque é a maldita da prima do amiguinho de vocês e porque metade dos rapazes já ficou com ela.

— O que? É mentira! — Heidi interrompe — A mãe dela não pode saber que ela sumiu, a situação dela já tá uma completa merda e...

— Não me importo, não dou a mínima para o que acontece ou deixa de acontecer dentro da casa dela — Damien interrompe mais uma vez e seu olhar irritado faz Heidi se calar — Eu vou deixar bem claro para todos vocês que eu só estou a procura do meu namorado, do Philip e quando eu o achar, não terão mais a minha ajuda. Agora sim, podemos dar continuidade.

Todos se encararam, continuando em absoluto silêncio até que o barulho da garrafa vazia de Tweek é ouvido.

O loiro respirava forte e fundo, parando de se encostar na parede e se aproximando do centro da roda. Ele não deixa que Craig encoste nele, por mais que veja o olhar preocupado dele.

— Eu vou ser o próximo.

Tweek Tweak diz isso tão baixo que se não tivessem todos em silêncio, não teriam ouvido. O primeiro a desdenhar, é Cartman com um bufar e um revirar de olhos, recebendo um cutucão forte de Wendy, que sussurra para ele ficar quieto.

Kyle e Stan se entreolham, depois de mover o olhar para Craig, como um questionamento silencioso.

Kenny e Butters se aproximam de Tweek, sem encostar nele, ambos com semblantes preocupados.

— O que quer dizer, Tweek?

Leo questiona, seu tom é calmo, andando devagar na direção do amigo.

— Essa noite, eu tive um pesadelo — Tweek abraça o próprio corpo — Foi estranho e assustador. E vocês estavam lá, todos. Cartman até falava sobre como eu, Kenny e o Pip éramos os favoritos da professora Willow. Mas, teve aquele sorriso...

A voz de Tweek foi ficando trêmula, ele levou um susto quando sentiu a mão de Craig nas suas costas, como se estivesse o incentivando.

— Puta merda... — Kyle murmura, como se tivesse entendido exatamente o que ele queria dizer — O sorriso era largo, pontiagudo?

— Sim. Ela estava parecendo a professora Willow, mas... Era. E ela me disse que eu seria o próximo, mais especificamente "Você, Tweek Tweak é o próximo... Assim que aquele outro pirralho loiro se for, eu virei atrás de você".

— Caralho, porra, puta merda!

Kyle leva as mãos até seus cachos ruivos, pressionando suavemente a cabeça. Ele sabe exatamente o que é que está acontecendo, ele sabe o que é.

E ele percebe que Kenny, Cartman e Stan também tiveram a mesma percepção que ele, por seus olhares.

Damien estreitou ainda mais o olhar na direção de todos, principalmente daquele maldito, maldito quarteto.

Aquela coisa, devia estar morta! Acabamos com ela usando ferro e outro... Não foi?, Kyle pensa, revisitando suas memórias infantis.

— Olha, escutem. Eu e o pessoal, fizemos uma aventura uns anos atrás, para ser a nossa última e encerrar com grande estilo, sabe? Éramos crianças e todas as crianças de South Park estavam com problema de monstros nos armários...

Kyle começa a tentar explicar, gaguejando de nervosismo. Kenny decide auxiliar o amigo e continua a contar.

— Vocês devem lembrar dessa merda, nossos pais não acreditavam na gente, achavam que era apenas uma fase, um delírio infantil. Eu, Kyle, Tweek e algumas outras crianças, tinham o mesmo monstro. Tava sempre sorrindo nos nossos armários e aparecia constantemente nos sonhos, fingindo ser outras pessoas, ai nossa aventura começou. Decidimos ir atrás, até Craig e Tweek estavam nessa...

— Oh, merda... Eu lembro disso.

Craig resmunga, fazendo uma careta e passava a abraçar Tweek, no intuito de confortá-lo.

— Pois sé, galera... A gente achou que tinha matado aquela merda, porque depois daquele dia, sumiu! Ninguém teve mais problemas com os monstros, mas parece que essa porra de filho da puta sorridente do caralho, retornou.

Eric Cartman é quem finaliza a história.

— Então, vamos precisar matar do jeito certo dessa vez.

Damien é quem fala e, infelizmente, todos concordam.

[ ... ]

A porta do porão rangeu, se abrindo.

— Pip, sua hora chegou!

Elizabeth Stephenson cantarola, descendo as escadas. O barulho dos sapatos dela parece uma sinfonia de terror, como uma contagem para o pior.

Os dois adolescentes ouvem barulho de ossos se movendo e se quebrando e se entreolham.

— Pelo menos eu consegui te explicar tudo.

PadecerOnde histórias criam vida. Descubra agora