Capítulo 5: Fome

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A pequena Elizabeth, no auge de seus cinco anos, estava sentada em frente a sua penteadeira enquanto tinha seus fios sendo gentilmente penteados por sua mãe. O rosto da menina estava um pouco inchado e vermelho, além dos olhos ainda estarem cheios de lágrimas.

— Mamãe, por que eles têm medo de mim?

Ela perguntou, a voz levemente trêmula, seus dedos brincando com os prendedores de cabelo.

— Você é diferente deles, meu pequeno coração. E os humanos temem isso.

A mãe respondeu, apesar de ter a palavra "monstro" presa entre seus dentes e realmente querendo pronunciá-la ao invés de "diferente". Elizabeth Stephenson era um grotesco monstro desde quando nasceu, no dia seis de junho às exatas seis horas da manhã.

A bruxa se arrependia amargamente do dia que, anos antes, decidiu deitar-se com um demônio. Ela não imaginava o que nasceria de tal união incomum.

Sua menina possuía uma aparência normal na maior parte do tempo, porém, sempre que ficava irritada... Tudo mudava.

Ela se descontrolava totalmente.

Seus dentes tornavam-se pontiagudos, as costas ainda mais arqueadas e destas, surgiam enormes espetos venenosos.

A princípio, ninguém sabia que seus espetos eram venenosos. Entretanto, o pai de criação da garotinha — e marido da bruxa — acabou tendo uma pequena prova que resultou em uma morte agonizante.

Com o passar do tempo, ela se controlava melhor mas, em contrapartida, a face de sua mãe caía por completo, passando a dizer tudo que passava em sua mente.

A garotinha não conseguiu aguentar palavras tão cruéis por tanto tempo.

— Mamãe, eu estou com fome.

— Certo filhinha, irei buscar alguns camponeses para você.

Elizabeth sorriu largamente, os dentes já pontiagudos e toda sua forma mudando.

E devorou sua mãe por inteiro.

— Adultos não me alimentam tão bem.

[ ... ]

O terceiro ano estava em mais um intervalo, falando sobre a professora. Porém, desta vez estavam todos presentes, até mesmo Damien que escutava silenciosamente. Ele tinha problemas maiores no momento do que expor o que pensava acerca daquela professora estranha.

Sua mente estava distante, mal prestava atenção no que os outros falavam. Só conseguia concentrar-se em Phillip Pirrip.

Discretamente, Damien respirava fundo e tentava se concentrar nas energias que tinham pela região e até tentando ver se sentia algum chamado do namorado ou algo do gênero.

Ser o anticristo tem algumas vantagens; pensou o Thorn e logo suas expressões entediadas sumiram de sua face, ele havia conseguido sentir uma energia, contudo, não era a de Phillip.

Era algo sombrio, uma energia totalmente estranha.

— O que foi, Damien?

Butters questionou, ao visualizar a reação esquisita do rapaz, e a voz suave de Leopold acabou atraindo os olhares para o anticristo em questão.

Ele suspirou, decidido a falar sobre o assunto.

Apesar de achar que eram todos meio imbecis, sabia perfeitamente que, desde sempre, eram aqueles idiotas que resolviam as esquisitices que volta e meia aconteciam em South Park.

— Senti uma energia estranha por aqui... Parece algo sombrio e faminto.

— Estamos no refeitório, é normal sentir algo que esteja com fome — Kyle pontuou, terminando de engolir seu almoço — Não é?

Damien negou com a cabeça, cruzando seus braços em cima da mesa.

— Não, é diferente. Me parece algo mais similar a um problema.

Todos ficaram tensos de imediato, contudo, o resmungo cansado de Kenny pode ser ouvido.

— Claro que é um problema! Estamos em South Park, onde toda semana acontece algo novo e que é capaz de matar todos nós.

Ninguém no recinto podia ir contra aquela afirmação.

— Argh, melhor não pensarmos sobre isso agora — Tweek dizia — Podemos tentar sermos adolescentes normais por um almoço?

Então, eles voltaram a conversar sobre futilidades de adolescentes como filmes que estavam em cartaz, a ideia insana de Craig sobre a tatuagem ou, até mesmo, algumas coisas que estavam em promoção nas lojas de jogos da região.

Mas Damien havia voltado para seu silêncio, totalmente inconformado com o sumiço de Pirrip. Ele jamais faria algo assim.

Decidido, eu vou na casa dele depois do colégio; pensou, com seu celular em suas mãos, digitando avidamente uma mensagem de texto endereçada a seu pai.

E, de longe, a professora saía do refeitório.

[ ... ]

Elizabeth Stephenson entrou na sala de aula e sentou-se em sua cadeira, com os talheres que havia pegado emprestado no refeitório, abriu o pote com sua comida e começou a ingeri-la.

Ela gostava de optar pelo vazio e pelo silêncio naqueles momentos, principalmente quando, no dia anterior, os outros professores a olharam com estranheza por seu almoço ser algo além de um sanduíche ou uma pizza.

Detestava ter aquelas múltiplas sensações e sentidos quando estava em seu momento de paz, ou seja, comendo.

Quando depositou a primeira garfada, seu rosto se contorceu levemente.

— Está um pouco passada, mas comestível.

Falou, para ninguém em especial, enquanto seu olhar deslizava pelas carteiras dos alunos com um pequeno sorriso em seus lábios.

— Esse emprego vai me proporcionar uma vida bem melhor... Nunca mais comer comida ruim e podre.

Interrompendo sua linha de pensamento, seu celular tocou audivelmente, fazendo-a bufar por ter tamanha interrupção naquele momento precioso.

Franziu o cenho ao ver o nome do contato na tela, tratando de atender.

— Seja direto, Satã. Eu estava comendo e sabe muitíssimo bem que fico irritada quando estou faminta.

Uma risada foi ouvida do outro lado da linha.

— Elizabeth, precisamos ter uma pequena conversinha... Lhe visitarei em breve, querida.

A professora não o respondeu, apenas encerrando a ligação, seu cenho se franziu e os dentes rangendo em fúria, já se tornando um pouco mais afiados.

Ela respirou fundo na tentativa de se acalmar e ao sentir seus dentes retornando à normalidade, relaxou.

Está cada vez mais difícil... Mas em breve, terei um banquete.

PadecerKde žijí příběhy. Začni objevovat