Capítulo 12: A forma que tudo respinga

16 5 28
                                    


Phillip Pirrip continuava a correr, esbaforido. O inferno era gelado, o típico frio capaz de matá-lo se ele já não tivesse morto.

A mente do rapaz girava em círculos, não sabendo o que era real ou não, aquele lugar parecia que era capaz de pregar peças nele o tempo inteiro, ouvindo sem parar as falas que tanto lhe perseguiram a vida inteira; sobre como ele era horrível, que jamais seria amado.

Era tudo igual, não importa quantas ruas virasse, quantas casas entrasse. Phillip sempre terminava do mesmo jeito que começou: No corredor do colégio, com toda a sua turma apontando o dedo, rindo, para então Eric Cartman gritar "Ei, por que a gente não vai atrás dele?"

O loiro caiu ao chão, chorando. Abria a boca na tentativa vã de gritar e isso só fazia seu falso pulso acelerar ainda mais. Como era possível que ele sentisse o suor escorrendo por sua testa, mesmo naquele frio de ranger os dentes? Ou, pior, como ele era capaz de sentir seu coração batendo de forma agoniante se ele já havia morrido?

Damien, por favor...

Você é o príncipe de todo o inferno, tem de me salvar. Me tira daqui.

Socorro.

Socorro.

Socorro.

[ ... ]

O sol saía por detrás das montanhas de South Park de forma preguiçosa, nem ele parecia querer dar as caras naquele dia tão lamentável.

Os estudantes do último ano adentravam pelos portões como cadáveres sendo manipulados por cordas, falsas marionetes. Nenhum deles parecia querer ter o prazer de estar vivo e nada era capaz de explicar aquele sentimento melancólico.

O sumiço de Red havia deixado todos preocupados e ninguém dormia direito desde a última festa, três dias antes. Procuravam sem parar, em todos os cantos enquanto Craig Tucker mentia sem parar para sua tia, assegurando-lhe para a mulher doente que Rebecca estava bem, apenas estava passando uns dias na casa de Wendy Testaburger para realizar uma surpresa!

— Craig, alguma notícia?

Wendy se aproximou de sua mesa, os braços cruzados e a expressão abatida. A garota sempre havia sido forte, determinada e até bem vaidosa, entretanto, as olheiras fortemente marcadas e a ausência de maquiagem determinavam como se sentia.

— Não, nenhuma. E o Damien desapareceu também né...

— Não julgo ele por ter desaparecido, deve estar procurando o Pip — Lamentou ela, sentindo seus olhos arderem em vontade de debulhar-se em lágrimas — Ah, se tivéssemos escutado antes.

Craig não a acolheu, tão pouco abraçou-a ou lhe disse palavras de conforto. Primeiro que ele já não tinha esse costume (exceto por Tweek, aquele rapaz era sua exceção em tudo, praticamente) e segundo que sentia-se incapaz.

Sentimento de fracasso lhe dominava por completo, como algo batendo em sua cabeça sem parar. As promessas que fez para Red sobre sempre protegê-la e estar ao seu lado acima de tudo e qualquer coisa.

Mas eu não estive lá quando ela mais precisou.

O barulho da porta abrindo lentamente, chamou a atenção de todos para a professora Stephenson. Desta vez ela usava tons de azul marinho e lilás, além de um arco enfeitando seus cabelos, sendo da cor vermelha.

Tão familiar.

Por que dói?

A pele dela também parecia mais brilhante, a professora parecia radiante.

— Bom dia, turma. — Craig visualizou a forma que seus olhos afiados andaram pela turma e o jeito em que franziu o cenho — Onde estão os alunos Kenneth McCormick,Eric Cartman e Damien Thorn?

Craig olhou ao redor, apoiando-se em sua cadeira para virar o olhar até Stan Marsh, que sentava-se logo atrás de si.

— O que eles vão inventar dessa vez?

Segredou, visualizando Wendy se abaixar para escutar o que diziam.

— Nem ideia cara, eu e Kyle estivemos com eles e o Butters...Ontem de tarde, eles começaram a discutir que porra, entendi nada.

— Cartman é um merda, mas o Kenny não é como se fosse o mais perto que ele tem de um melhor amigo? — Foi a vez de Wendy sussurrar e, bom, errada ela não estava — Sempre tão juntos fazendo alguma bosta, apesar de que desde que Kenny e Butters começaram a namorar eles se afastaram um pouco... Com razão, aliás.

Craig suspirou e voltou a sentar-se normalmente, entrelaçando seus dedos com os de Tweek, este que mantinha a cabeça abaixada. Dormindo.

— Já já a gente tem a notícia que eles tão no Japão, vão vendo.

[ ... ]

— Espera, vamos recapitular... Sua grande ideia é me usar de isca para que possa destruir o seja lá o que for que matou o Pip?

Kenny soltou a fumaça por seus lábios, seu tom extremamente manso e calmo. Provavelmente já teria fumado demais para que sua voz soasse questionadora o suficiente para atingir a indignação.

— Exato. Qual foi a parte difícil de entender, McCormick? Estou tentando fazer um trato aqui, não é como se sua alma fosse perdurar muito no inferno.

— Eu não entendo é o Cartman estar aqui! — Apontou para ele com o cigarro, seus olhos azuis com fundo avermelhado, encarando as orbes bicolores de Cartman — Ele só lembra de tudo porque tem a porra de um olho meu e comeu as minhas cinzas, esse gordo maldito.

— Justamente por isso, eu lembro de tudo! Inclusive de como morreu para aquele bicho papão que agora voltou para atormentar nossas vidas e isso pode ser a porra da chave para tudo.

Kenny debocha do jeito que Eric falava, se erguendo do chão e agarrando-o pela camisa com violência.

Damien voltou-se ao silêncio, seus olhos fechados e McCormick tinha a certeza de que ele estaria utilizando seus poderes demoníacos e estaria buscando por Pirrip.

— Escuta aqui, Cartman — Balançou-o, vendo o riso irônico nos lábios dele — Nós dois sabemos que você comeu a porra das minhas cinzas porque era uma criança estúpida e que pegou o caralho do olho do meu cadáver por egoísmo. Você não é um gênio e a gente também sabe que eu não falo mais contigo por conta daquela última vez, né?

— Kenny, deixa isso! É passado, vai reviver tudo agora, cresce logo porra — Cartman atirou de volta, falando quase de bom humor — Eu salvei o mundo, nós salvamos! E ninguém se lembra, pronto, fim de história.

Kenny largou-o e o empurrou. Torceu o nariz e soprou novamente uma fumaça em seu rosto.

— Você me deixa enojado. Nunca vai entender o que é morrer tantas vezes e a única pessoa que sabe, não se importa! Ninguém se lembrar do seu sofrimento, Eric, você nunca vai entender a porra do meu vazio e jamais vai saber de que o caralho da nossa vida não significa merda nenhuma.

Kenny sentiu toda a energia demoníaca vindo de Damien, moveu seu rosto de forma mecânica até ele e visualizou a forma que seus olhos praticamente brilhavam em vermelho vívido.

— Achei.

E, com aquele murmurar, Damien Thorn sumiu com um rastro de fumaça.

Je hebt het einde van de gepubliceerde delen bereikt.

⏰ Laatst bijgewerkt: May 02 ⏰

Voeg dit verhaal toe aan je bibliotheek om op de hoogte gebracht te worden van nieuwe delen!

PadecerWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu