Capítulo 26

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Pronunciar abertamente a frase ‘meu marido’, tornou-se um pequeno desafio. Ainda estou lidando com a ideia de ser casada com alguém tão poderoso e destemido, como Adriel Lobo.
 
— Eu tentei falar, mas você sempre desconversa.
 
Apertou o lábio ao dizer, num gesto divertido ele levantou às duas sobrancelhas. Interpretei como se ele dissesse "não me julgue, a culpa é sua."
 
— Igor é o recente CEO do grupo B da ‘M&G'Lobos’
 
Fiquei estupefata com a notícia, claro que é uma novidade perfeita para o meu avanço. Eu fui uma ferramenta para os planos malignos da família, agora Igor será a minha ferramenta primordial para os negócios.
 
— Isso é ótimo.
 
Não consegui evitar um sorriso.
 
Se tem algo que estou aprendendo em meio a podridão dos Lobos, é dançar conforme o ritmo da música. Se tropeçar cai, e se cair, eles não pisam, e sim, esmagam. Como se eliminasse um inseto peçonhento.
 
Igor era uma pequena luz em meio ao negrume daquela vasta escuridão.
 
— O seu projeto já é um sucesso! Tenho que parabenizá-la — diz sorridente.
 
— Devo isso a você, pois me deu a oportunidade!
 
Ele sorriu complacente, demonstrando seu agrado.
 
Meu orientador também ganha, afinal, ele é quem me instrui e o nome 'Technew', estará em breve nas primeiras páginas.
 
— Vou aceitar a proposta, com esta condição. Manter minha identidade oculta, e também, quero 6% das ações da empresa subsidiária.
 
— Tudo bem, manter a integridade e a segurança de nossos membros, sempre estará em vigor.
 
Após sair do escritório, fizemos um contrato de confidencialidade e o levei para receber as assinaturas dos superiores da instituição. Ainda pela manhã, a secretária de Igor havia ligado para o Sr. Róger e confirmou a reunião.
 
Meu orientador pediu que ele viesse na ‘Technew’ assinar o contrato, mas ele não sabia. Assim que o empresário entrou no prédio, evitei passar por cada cômodo que ele estivesse, apenas para evitar o contato.
 
Meu corpo estava tenso durante os infinitos minutos de reunião que acontecia no escritório do Sr. Róger. Meus dedos coçaram as palmas das mãos, eu já havia trocado a posição das pernas que descansavam uma sobre a outra mais de 245 vezes, inquieta.
 
— Lis, vai dar certo, relaxa. Se você não ficar calma eu não vou conseguir me concentrar nos cálculos.
 
Olhei para minha parceira em meio a luz fraca e soltei uma respiração pesada enquanto revirava os olhos. Se minha colega ao menos tivesse conhecimento do que está em jogo, entenderia minha ansiedade. 
 
— Tudo bem — pontuei.
 
Quando a porta do laboratório foi aberta, involuntariamente enpertiguei a coluna e encarei a porta esperando para ser chamada.
 
O sorriso do Sr. Róger acalmou meus nervos de imediato.
 
— Pela expressão, deu certo! Estou feliz por lhe representar.
 
Minha colega disse ao meu lado, sua voz que antes estava tão desagradável, agora, parecia música para meus ouvidos.
 
— Você e Ben, são os únicos além do meu orientador que devo o mérito.
 
Demonstrei meu agradecimento a eles e segui o Sr. Róger até sua sala.
 
Como esperávamos, Igor Timberg concordou com todos os termos e assinou o acordo de confidencialidade. A reunião foi remarcada e soube que Adriel Lobo de repente ficou bastante interessado no projeto.
 
Decidi enviar meu mediador e minha parceira para apresentarem o Deep-Siber aos compradores.
 
Mesmo que estivesse mergulhada de cabeça no trabalho, num descuido, fico perdida em meu próprio estupor. De certa forma, eram muitas emoções a serem digeridas em um só dia.
 
As palavras que Adriel me disse ainda machucavam. Sempre que me lembrava, a dor invisível esmagava meu peito. Senti-me um objeto descartado, novamente me sinto apenas uma máquina de dar à luz.
 
***
 
Quando saí do prédio o céu estava escuro e a temperatura caia drasticamente à medida que as horas passavam. A violência dos ventos fortes batia vigorosamente contra meu corpo desprevenido.
 
Não estava preparada para aquele clima, envolvi os braços sobre o peito e atravessei a rua mal suportando o frio, as pontas dos dedos estavam dormentes quando abri a porta do carro.
 
Ao entrar em casa senti um perfume diferente no ar. Era adocicado. Quando passei pela sala de visitas, meus olhos congelaram em uma silhueta modelada, corpulenta, que sacolejava inquietante. Batia o pé no chão e olhava o relógio de pulso parecendo apressada.
 
— Anda logo, querido!
 
A voz melosa e o corpo estonteante, pertenciam à Cecília. Continuei no mesmo local sentindo minhas energias se esvair, a respiração estava suspensa.
 
Honestamente, só queria sair antes que Adriel aparecesse e o casal começasse a se pegar diante dos meus olhos.
 
— Olá, você por aqui!
 
O deboche é inabalável.
 
"Ela não podia apenas ficar com Adriel e me deixar em paz? O que mais quer de mim?"
 
Dar passos e seguir meu caminho tornou- se um fardo extremamente pesado. Meus olhos injetaram de sangue, contudo, segurei as lágrimas.
 
Supus que ambos revigoraram o relacionamento. Agora entendo a mudança repentina de Adriel.
 
— É, eu moro aqui. É possível que me encontre sempre que vier nos fazer visitas indesejadas — salientei cada palavra.
 
Seu sorriso radiante atenuado por uma cor rosada se desfez. Cecília se sentiu insultada, mas ela não abaixou a guarda facilmente.
 
Fiquei apenas esperando o próximo bote.
 
— Sabe... — se aproxima e deixa o ar negro — Adriel não é tão mal assim, se você quiser sua liberdade, eu posso lhe ajudar.
 
Senti meu corpo ficar tenso novamente durante aquele impasse e minha boca ficar seca. Engoli limpando a garganta enquanto buscava as palavras certas.
 
— O divórcio? Você quer que eu peça o divórcio?
 
Parecia uma piada de péssima qualidade, no entanto, era real. Com um gesto de cabeça Cecília confirmou minhas perguntas. Os poros da nuca e de meus braços enrijeceram com sua proximidade.
 
— A amante do meu marido está me pedindo para me divorciar dele?
 
Sorri em escárnio.
 
Mesmo que eu não tenha o amor e dedicação que ele dá a ela, ainda se sente intimidada? Não dá para entender.
 
— Não seja ridícula — entoei com a expressão dura.
 
— Você não é párea para mim, garota — ela latiu.
 
Não ia ficar ali trocando farpas com aquela mulher por algo tão corriqueiro, apenas dei a volta e passei por ela. Antes de tomar distância da sua figura, senti-me sendo arrastada pelos cabelos abruptamente.
 
— Sua puta barata — o insulto veio trovejante.
 
Senti uma onda de dor no meu couro cabeludo, tão forte e insistente que me fez cerrar os dentes e rosnar atordoada.
 
A dor e a mágoa no peito foi substituída por raiva. Meu instinto de defesa estava gritando. 
 
— Solta...
 
Caí de joelhos devido ao forte puxão de cabelo, no entanto, levantei no mesmo instante tomada pela revolta, por tamanha covardia que estava a acontecer.
 
Qualquer espírito santo que habitava em meu coração desapareceu em segundos.
 
— Me larga.
 
Implorei enquanto os fios dos meus cabelos eram arrancados de forma cruel.
 
— Acha mesmo que vou entregar meu homem a você de mãos beijadas? Eu vou te destruir, Ana Lis. — grunhiu intimidada. 
 
— Não precisa disso, Cecília — tentei convencê-la a me soltar.
 
Meu couro ardia como se tivesse despejado um quilo de pó de pimenta sobre minha cabeça.
 
— Uma puta comprada por algumas moedas.
 
Rosnou entredentes bem próximo a minha orelha. A dor em minha cabeça só aumentava devido à força brutal aplicada contra mim.
 
— Não me compare a você!
 
A tirania de minhas palavras fez com que aumentasse a pressão em meus fios.
 
Tinha que reagir antes que ela me matasse ali mesmo. Girei o corpo fazendo um nó em meus cabelos que estavam presos em suas mãos e a desferi com uma bofetada no lado esquerdo do belo rosto. Tão forte que minhas unhas fizeram um pequeno corte e o sangue fluiu.
 
Cecília cambaleou alguns passos, passou a língua aproveitando o gosto de metal.
 
— Socorro! Adriel, me ajuda.
 
Aos berros clamou por socorro. Sorriu como uma besta enquanto fazia aquela cena deprimente.
 
Sua mão veio contra meu rosto como um relâmpago estrondoso, forte o suficiente para eu cair para o lado direito, esparramada no chão, surda devido à bofetada. A perda de audição passou e os zunidos tomaram conta do meu juízo.
 
Ao pensar que tudo já havia terminado ali, Cecília se jogou no chão, segurou meus punhos e pressionou minhas mãos contra sua cabeça. O que ela pretendia? Que eu puxasse seus cabelos?
 
— Me solta, Lis! Por favor... Adriel!
 
— Você é louca, Cecília? — gritei assustada.
 
— Eu juro que nunca mais venho aqui — ela ria enquanto proferia falsamente.
 
— Maluca! Deixa-me em paz, doente...
 
Minha voz sai trêmula trazendo lágrimas de dor. Fiquei tonta com aquele ataque de histeria que não acabava nunca.
 
“Onde estava Magáh? Onde estão as pessoas dessa casa?”
 
Cecília não queria largar meus punhos, os prendia com força contra seus cabelos. A mulher extraia uma força descomunal, que por vezes dava medo.
 
Todavia, Cecília não estava satisfeita. No acesso de raiva, meu corpo foi girado para cima do dela, neste momento, ouvi um rugido ecoar na sala.
 
Passos apressados se aproximavam e eu senti uma ponta de alívio, pois agora, estaria salva.
 
— Querido, me ajuda!
 
A dramática o chamou em lágrimas e risadas insanas.
 
— Larga ela, Ana!
 
A rapidez da ação habilidosa de Adriel, me fez parecer uma boneca de pano em suas mãos.

A última virgem e o CEO cafajeste Where stories live. Discover now