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Os gemidos de dor chegavam até Selene como uma onda atordoante de luz ofuscante, impelindo-a de curvar o próprio corpo – para que aquelas vozes e grunhidos parassem, parassem.

Selene respirou fundo, os olhos fechados, impedindo de se vergar. Os dedos suavam frios, um polegar roçando para frente e para trás no laço de seda em seu pulso.

Eram os mesmos murmúrios de antes; aquelas lamúrias, de lábios encharcados de saliva e sangue, o gotejar de algo muito perto dela – mas estava na enfermaria iluminada, quente, abafada. Se haviam engasgos e gemidos sufocados, vinham dali, das outras camas separadas por cortinas verde-turquesas.

Porém, quem sente dor, faz uma prece. Deseja que aquilo cesse, que a dor seja extinguida; tudo em pensamentos ou em falas descoordenadas, quase numa alucinação que só a tortura podia trazer.

E aquilo chegava até Selene aos montes. Como fiéis ajoelhando-se ao seu redor, buscando por seu toque.

Ela entreabriu os olhos, fitando o laço trançado no pulso, sem sujeira, sem sangue. A enfermaria estava movimentada; dava para saber mesmo com tudo em volta acobertado pelas cortinas – passos de lá a cá, murmúrios de ajuda dos médicos e enfermeiros por ferramentas.

Vamos precisar costurar a orelha.

Não tem jeito. Essa perna não vai funcionar mais.

Selene controlou a respiração, olhando para a calça que já não era mais do uniforme que usara em Rediu; haviam trocado por roupas quentes e leves depois que a cirurgia terminara. Ela não ouvira e nem vira nada – a anestesia havia sido forte demais para ela sentir o mundo ou as dores dos outros, e acordara duas horas depois, com as roupas já trocadas. Conseguia sentir um leve repuxo da pele onde a lâmina de Asmodeus havia cortado – da coxa até um pouco abaixo do joelho −, onde a cirurgia fora mais minuciosa, porém favorecida com a regeneração rápida, sem precisar de reposição de musculo de outro lugar de seu corpo. Se ainda não estivesse uns três dedos de profundidade, segundo o que seu pai contara, aquilo teria sido mais um corte superficial do que profundo, ou quase uma amputação.

Selene se inclinou para frente, deitada com as pernas esticadas sobre a cama, e puxou levemente a calça da perna direita até avistar a linha final do corte. Estava avermelhada, mas lisa e seca, a pele se reconstruindo a todo segundo com linhas minúsculas e finas como teias de aranha, se apressando para deixa-la inteira outra vez. Ela dobrou a panturrilha devagar, testando pela milésima vez a dor – eram pontadas esporádicas, alguns leves espasmos como de um corpo acordando de um longo sono. Mas nada igual à dor quando a lâmina afundou em sua pele.

Selene trincou a mandíbula, a raiva sacudindo seu peito. Asmodeus sabia quem era ela. Sabia sobre Celenia dentro de si, sabia sobre a Balança, sabia sobre a Luz – sabia que havia pessoas pedindo misericórdia, pedindo por ajuda, pedindo pelo fim daquele inferno na terra.

Elementais das Trevas - Falsos Deuses #4Où les histoires vivent. Découvrez maintenant