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O som do mundo era um ruído – um fragor que se aproximava enquanto seus olhos arregalados percorriam a extensão da espada de nanquim que se irrompia do peito de Melanie.

― Me... – Selene quase não ouviu a própria voz sair pela garganta, e abaixou-se para a amiga. – Melanie, pelos anjos, você...

A garota a encarou com os olhos arregalados, a boca balbuciando em uma fala sem som, o peito subindo e descendo em busca de ar.

O coração de Selene parecia se desintegrar pelo corpo, os batimentos correndo pelas veias como tambores de guerra.

― Espera, eu vou te ajudar, eu vou... – ela engasgou e olhou para as próprias mãos; estavam rígidas, pálidas pelo frio, mas nada saía delas.

Selene agarrou o cabo da espada, um comichão formigando em sua pele com o contato – um contato familiar, como se tocasse nas mãos de um conhecido −, e tentou arrancar a lâmina. O toque era errado e apropriado ao mesmo tempo, como se estivesse segurando o cabo de Artemisya, mas havia algo ali, o equivocado – uma extensão que seu corpo entendia e não entendia, uma inversão daquilo que ela já empunhava há muito tempo.

Selene trincou os dentes, saliva gelada e amarga escorrendo pela garganta, os músculos dos braços ardendo enquanto tentava tirar a espada do peito de Melanie, a mão da amiga tateando a lâmina como se para tentar retira-la também, como se doesse.

Selene grunhiu, jogando o próprio corpo para trás; a espada continuava fincada lá como numa rocha congelada.

― Celenia... – ela murmurou, os olhos queimando em lágrimas quando viu o olhar sonolento de Melanie, os braços afrouxando até tombarem ao lado do corpo, desacordada. – Celenia, eu estou chamando você. As Trevas... as Trevas são suas!

Nada respondeu – nem as árvores que assistiam debruçadas nas sombras, nem o lago inerte atrás de si, nem a espada cravada no peito da garota como uma garra saída do Inferno. Selene apertou os dedos ao redor do cabo da lâmina preta opaca, o coração trotando no peito, o terror reverberando em seus ossos.

Khurbnium.

Ego Lux. Ego Lux. Se as sombras se diluíam para fora dela com tanta facilidade, a luz também deveria. As Trevas não pertenciam a ela, estava do outro lado, no outro Polo; não deveria atravessar uma porta quando a chave estava com Selene, mantendo tudo sob controle.

Tudo sob...

Ela buscou o pulso de Melanie, tomando-o para si, repousando dois dedos sobre a pele, e desviou o olhar para o pescoço da amiga na espera de sentir algum eco de batimento, de vida. A Marca já não brilhava mais, carecida do tom púrpura cintilante; a pele ao redor estava se acinzentando, como se estivesse rejeitando o símbolo, deixando-o levemente relevado sobre a pele escura de Melanie.

Elementais das Trevas - Falsos Deuses #4Where stories live. Discover now