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Selene acordou com a língua seca, balbuciando as últimas palavras de Luther.

Mas Celenia jamais me odiou.

Ela acreditaria naquela mentira. Não queria se frustrar ou sair gritando às árvores de raiva só por aquilo.

Se Celenia amou ou deixou de ama-lo, aquilo não importava mais. Havia ódio quando Selene lutou contra ela – seu ódio e o ódio da guerreira −, e aquilo era o suficiente.

Verdadeiro o suficiente.

Selene ergueu a cabeça devagar para o que havia ao redor; árvores e folhagem meio iluminadas pela claridade da aurora pálida e acizentada como aço esbranquiçado, bruma pairando baixa acima do gramado tostado de marrom, salpicado com o primeiro orvalho. O ar estava úmido e frio, fazendo-a fungar baixinho e, ao abaixar os braços nos quais ainda abraçavam os joelhos, o corpo reclamou de dor de ter ficado por tanto tempo em uma única posição.

Selene passou os dedos sobre a bochecha, sentindo a baixa saliência da cicatriz. Então ela realmente havia dormido ali e sonhado.

Fitando a grama salpintada como neve, um sopro de alívio circundava seu peito; afinal de contas, esperava ter sonhado, não, esperava ter pesadelos com qualquer coisa após ver Luther. Esperara que ele transformasse seu sonho em pesadelo, remexido em suas memórias e tê-las incendiado. Como enviara aquele anjo para atirar em seu avô.

Melanie – ela sussurrou, levantando rapidamente, o corpo endurecido e lânguido pelo sono, os pés a levando para fora da floresta. Os galhos pareciam terem se retraído com a chegada da manhã, dando mais espaço à passagem para fora do arvoredo, e ela estava de volta à Academia.

A névoa era como um manto acima do chão, espiralando sobre as pedras das construções como uma criatura tomando para si aquele lugar; fina e fantasmagórica. O silêncio alfinetava os tímpanos de Selene como um sinal estranho; dia e noite escutava o eco das explosões, dos berros de demônios morrendo ao longe. Mas havia a calmaria ali, como um dia comum em um mundo comum, como nos seus primeiros dias na Ager, onde tudo era tão novo e quase quimérico se ela não soubesse que era real.

O frio ameaçava balançar seu corpo, mas Selene seguiu às pressas até a enfermaria, o cheiro metálico de sangue e icor, e rumou em direção à uma cama encoberta por cortinas, contornando enfermeiros até seus dedos recostarem próximos ao tecido verde-turquesa. Ela poderia ter sonhado com tudo aquilo – desde sua conversa com Melanie até o sorriso de Luther. O mundo seria bondoso, e o pouco barulho dentro da ala de enfermidades só alegaria que o caos estava tão plácido quanto parecia estar.

Os dedos de Selene afastaram devagar as cortinas, seus olhos vacilando ao reconhecerem o braço do cabo da espada despontando do peito de Melanie. A amiga estava lá, deitada sobre a cama, inerte e a pele desprovida de vivacidade, os lábios num tom lilás doentio e seco.

Elementais das Trevas - Falsos Deuses #4Where stories live. Discover now