My dream boy

979 62 9
                                    

Eu gosto de dormir. Acho que não existe alguém que não goste, mas especialmente para mim, é algo único. 

Eu sempre tenho o mesmo sonho. Desde dos meus 10 anos, eu sonho com esse rosto. Antes, era um garoto, da minha idade, de cabelos castanhos e olhos verdes. Ele cresceu junto comigo e se tornou um adolescente lindo. Claro, era tudo fruto da minha imaginação.

Mas foi inevitável não me apaixonar pelo cara do meu sonho, mesmo que ele não existisse. E eu sei que isso é loucura.

Nesses sonhos, ele me tratava bem. Às vezes parecia que namoravamos. Tinha outras vezes que parecia que éramos melhores amigos. Eu não entendia tudo isso, muito menos porque era com ele.

Por todos esses motivos, eu amo dormir, porque é quando eu posso me encontrar com o garoto dos meus sonhos, já que a minha realidade não é nada legal.

Eu sou gay assumido, só que meus pais ainda não enxergam isso como algo bom. Eles dizem que tudo bem, mas eu sei que eles ainda não se acostumaram e me tratam meio diferente dos meus irmãos por isso. Antes, eu dizia não ligar para isso, mas se tornou difícil de fingir.

Além disso, na escola eu sempre fui meio excluído. Parecia que as pessoas não queriam ser minhas amigas e eu não sabia se era por causa da minha sexualidade, ou outra coisa. 

Só que meus pais resolveram se mudar. De país. Saímos do Canadá e agora estamos na Califórnia, Estados Unidos. Orange County, para ser mais específico.

Se trata de uma cidade pequena e meu pai recebeu uma boa proposta de emprego como treinador do time de futebol local. E aí está outra diferença entre a gente, enquanto meu pai ama futebol de paixão, eu prefiro assistir jogos de Hóquei e ele sempre odiou isso em mim.

Meu irmão mais velho ficou no Canadá, porque já está na faculdade e ele não quis abandonar tudo pra viver essa loucura. Meu irmão mais novo veio com a gente, mas ele é muito mais sociável que eu e com certeza, vai fazer vários amigos na escola nova. Enquanto eu continuarei sendo excluído.

— Você volta com seu pai, porque eu vou levar a outra chave. E só até tiramos cópia. — Minha mãe dizia, enquanto arrumava a bolsa dela. Minha mãe é fisioterapeuta e já conseguiu um emprego no hospital. — Jaden volta mais tarde, então você vai até o campo e espera seu pai. — Até meus pais sabem que eu vou ficar sozinho, porque sempre foi assim. 

— Certo… — Digo, colocando a mochila nas costas. — Até a noite!

— Até! Boa aula! — Apesar deles me tratarem meio diferente pela minha orientação sexual, tem momentos que parece que isso não afeta minha mãe. 

Na verdade, eu acho que ela segue a influência do meu pai. E quando ele não está junto, ela até é carinhosa comigo.

Caminho até a escola, que não era tão longe, por se tratar de uma cidade pequena. Eu realmente não queria ir à escola, porque eu odeio estudar e saber que vou viver aquele inferno de novo, me cansa. Eu queria estar dormindo e sonhando com o cara que eu gosto e nem existe.

Entro na escola e procuro o meu armário, colocando minhas coisas dentro e percebendo que tô passando despercebido. Nada mudou! Depois, procuro minha sala… Matemática. Nossa, matemática no primeiro horário da segunda-feira é tortura!

Me sento na fileira da parede, no fundo, tentando me esconder de todos. Poucos alunos estavam na sala, mas aos poucos ela foi enchendo. O professor ainda não havia entrado, então aproveitei para tirar meus materiais da mochila.

Sinto alguém me observando e quando levanto o rosto, uma menina estava sentada na minha frente, sorrindo para mim. — Oi! Você é novo? — Assinto com a cabeça. — Meu nome é Camila! Qual o seu nome?

— Josh…

— Oh, Josh! É um prazer conhecer você! — Me estende a mão. — Veio de onde?

Ela realmente tá conversando comigo? — Edmonton, Canadá!

— Uau! Canadá? Eu nunca estive lá, mas sempre ouvi dizer que tem paisagens lindas. — Ela era muito sorridente e falava muito. — Você parece um pouco tímido…

— Eu… — Dou de ombros. — Acho que sou.

— Não tem problema! Vamos ser amigos mesmo assim. — Levanto uma das sobrancelhas, ao mesmo tempo que o professor entra e ela se vira para frente, não me dando tempo de questionar.

Amigos? A última vez que tive amigos, foi quando eu tinha 8 anos… É uma piada porque sou novo?

Resolvo ignorar e prestar atenção na aula, mas eram tantos números e esse professor é um carrasco. Quem passa essa quantidade de matéria no primeiro dia de aula do ano letivo? 

—  Eu acho que esse professor odeia adolescentes. — Ouço a voz de Camila e levanto meu olhar para ela, que estava novamente virada para mim. — Desde que entrei no ensino médio ele faz isso, começa a passar um monte de matéria no primeiro dia. 

— Um pouco cruel! — Comento e ela sorri, assentindo.

— Ninguém gosta dele, nem quem gosta de matemática. — Cochicha. — Acho que é por isso que a esposa largou ele. — Seguro a risada pela fofoca.

Cheguei hoje e já sei fofocas de professoras. Típico de cidade pequena.

— Qual a sua próxima aula? — Ela pergunta, assim que o sinal bateu, indicando que a aula (finalmente!) acabou.

— Espanhol… — Respondo, após olhar no papel que me deram.

— Que sorte! É a minha também! — Sorri e após guardar as coisas na mochila, sai me puxando pelo braço. O que tá acontecendo? — E sua sorte é que meus pais são mexicanos, então sou fluente no espanhol e posso ajudar se você tiver dúvidas. 

— Ok! 

Ela continua me arrastando pelo corredor, quando meus olhos batem num garoto alto de cabelos castanhos. Ele era parecido com o garoto que eu sonho, mas não tive muito tempo para avaliar ou pensar sobre isso, porque Camila continua me puxando em direção a sala. Talvez fosse só meu cérebro cansado de matemática desejando sonhar com ele de novo.

Dream Of You (Nosh)Where stories live. Discover now