You can't leave

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Após nossa descoberta, ficamos conversando por horas sobre nossos sonhos e todos eles batiam. No inicio, eu costumava anotar as datas dos sonhos e fiz isso até os meus 15 anos, então eu contava como haviam sido meus sonhos e a gente percebia que ele havia sonhado com a mesma coisa.

Só não tínhamos certeza se havia sido na mesma data, mas era tudo muito estranho.

Noah disse que os sonhos dele começaram aos nove anos e como ele é um ano mais novo que eu, isso bate. Ele disse que também se apaixonou pelo eu do sonho dele e que quando me viu pela primeira vez na escola, teve um surto no banheiro. Só que ao contrário de mim, ele resolveu priorizar o real e eu, o sonho.

Quando expliquei isso para ele, Noah ficou um pouco chateado. Eu também ficaria no lugar dele, mas como nos sonhos, ele me perdoou rapidinho quando enchi ele de beijos.

A gente tentou achar uma explicação para os sonhos, mas parece sem solução. Talvez nós sejamos dois malucos.

— E o que vamos fazer agora? — Noah pergunta deitado no meu colo. Estávamos no meu quarto e ele já estava mais calmo, mas apesar da felicidade de saber dos sonhos dele, eu estava triste porque teria que ir embora.

— Eu não sei… — Respondo, sinceramente. Eu realmente não sei o que vai ser da minha vida. — Nós viemos para cá só por causa desse emprego. Meu pai sem ele, provavelmente vai voltar a treinar o time de lá.

— Você não pode ir embora agora que eu encontrei você. — Ele se levanta, sentando no colchão e olhando para mim. — Foram sete anos querendo te conhecer e agora que você está aqui, você vai embora. Não é justo!

— Eu não posso ficar sozinho aqui. Meus pais não tem condições de sustentar duas casas.

Ele fica sério e eu sei que ele tá tentando achar alguma solução. Quando Noah está pensativo, ele fica com uma cara brava e pode meter medo em muita gente, se ele quisesse.

— Se seu pai tiver outro emprego aqui, vocês ficam? — Pergunta.

— Se o salário for igualmente bom ao da escola.

— Eu acho que já sei o que fazer.

(...)

Meu pai estava tentando não se mostrar abalado. Ele dizia que fez o certo e que se os outros não aceitam isso, ele não quer ficar. Mas eu sei que ele não está totalmente bem com isso. Ninguém gosta de uma demissão, ainda mais injusta desse jeito.

Noah disse que daria um jeito, mas eu não sei se ele vai conseguir. Se bem, que nos meus sonhos, ele sempre dava um jeito de conseguir o que queria. E ele já me provou que é igual aos sonhos, ao tentar me conquistar na vida real.

Estava jantando com os meus pais e meu irmão. O clima era tenso e parecia que estávamos num velório. A real é que foi uma mudança boa e agora, vamos voltar para lá, onde eu mesmo não tinha amigos.

Quase para o final do jantar, a campainha de casa tocou e nós quatro nos olhamos estranhando. Noah não me disse que viria, então… Era estranho!

— Eu atendo! — Me levanto da cadeira, indo até a porta. Meus amigos estavam lá e no mesmo minuto que a porta abre, Camila já está me abraçando.

— Você não pode ir embora! — Ela fala.

— Quem contou para vocês?

— Seu namorado não namorado oficial. — Kevin explica. — Você ia ir sem se despedir?

— Não vou embora hoje. Eu ia contar pessoalmente para vocês. — Todos eles fazem biquinho e me abraçam.

Eu nunca me senti assim antes. Eu nunca tive amigos verdadeiros que sentissem minha falta. E agora, eu vou voltar a viver sozinho, porque ninguém gosta de mim lá.

— Quem é? — Minha mãe aparece na porta e nota aquelas quatro pessoas me abraçando. — Oh, são seus amigos?

— Mãe, esses são Kevin, Sam, Camila e Linda. — Apresento cada um deles para minha mãe.

— É um prazer conhecer vocês. — Ela sorri simpática. — Entrem! Não fiquem aí na porta!

Eles entram e se sentam no meu sofá, um do lado do outro. Dava para notar que eles estavam tristes.

— Tia… Não tem uma maneira de vocês não irem embora? Talvez… Deixar o Josh? — Linda pergunta, na maior cara de pau. Eu já percebi, em pouco tempo de amizade, que ela não tem papas na língua.

— Infelizmente, não. — Minha mãe responde, com um sorriso triste. 

— Droga! — Kevin resmunga. — Tudo culpa daquela família metida! Odeio eles! 

— E se a gente fizesse um abaixo-assinado para seu pai voltar? — Camila sugere. 

— A escola está irredutível. — Digo, me sentando no chão mesmo.

— E se a gente se juntasse para expor eles. — Linda foi além.

— Noah fez isso e levou suspensão. Vocês não podem se prejudicar para nos ajudar. 

— O diretor não pode suspender a escola toda. — Sam diz e eu olho para ele. O garoto sempre foi o mais sensato e agora tá entrando na pilha deles?

— Gente…

— Com certeza, Noah, com a influência dele na escola, pode conversar com os outros alunos. — Linda continua o raciocínio.

— Eu não quero que vocês façam isso! — Digo e os quatro olham para mim. — Se não der certo, vocês podem ser castigados e eu não me sentiria bem com isso. Agradeço pelo carinho, mas infelizmente a vida quis assim.

Os quatro olham para baixo, entendendo o que eu disse. Eu admiro e me sinto amado por eles, mas não quero que eles se prejudiquem por minha causa. Noah já fez isso e a minha consciência já tá pesada o bastante.

Dream Of You (Nosh)Where stories live. Discover now