Flirts

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Entro na sala de química, procurando uma mesa livre ou a de Noah, já que aparentemente somos duplas. Acho ele sentado em uma, enquanto mexia no celular. Largo minha mochila na mesa e sento ao lado dele, que levanta o olhar para mim.

— Não vai sair correndo hoje? — Pergunta risonho.

— Hoje não, tô muito cansado! — Brinco e ele ri, deixando o celular de lado para conversar comigo.

— Pensou sobre o convite?

— Minha resposta é a mesma. — Digo, desviando o olhar dele e focando na porta da sala, desejando que o professor ou professora entre logo.

— Que pena! Vou ter que recorrer a outros métodos. — Olho para ele sem entender. — Não se preocupe… Acho que você vai gostar no fim.

Teve um sonho meu, em que o meu garoto disse essas palavras: "Não se preocupe, você vai gostar". 

Por que parece que o que eu sonhei a minha vida inteira, está acontecendo agora?

— Você diz que eu sou familiar… Como? — Pergunto baixinho.

— Não sei. — Dá de ombros. — Eu me sinto estranhamente em casa quando eu converso com você. Como… Se eu já conhecesse você antes.

Eu me sinto assim também, mas é por causa dos sonhos. Não faz sentido ele se sentir assim.

— Você nunca veio para cá antes? — Pergunta e eu nego com a cabeça. — Então… De onde eu conheço você?

Eu tenho uma ideia, mas não sei se quero sugerir isso para ele.

A professora entra na sala, chamando nossa atenção, ou a minha atenção. Ela explicava algumas fórmulas e passa os passos de um experimento que teríamos que realizar. 

Noah despejava os líquidos e eu dizia a quantidade e ordem certinho, para que não acontecesse de explodirmos a escola por acidente. — Agora precisa queimar. — Digo e ligo a chama, vendo que nada explodiu.

O líquido fica azul e ferve, como deveria, e eu fico feliz que fizemos o certo. — Mandou bem, dupla! — Noah diz no meu ouvido, fazendo novamente aquele arrepio passar pelo meu corpo.

— Você que colocou os líquidos. — Digo.

— Mas você que estava orientando.

— Fizemos juntos. — Dou a discussão encerrada. Até porque, se for mesmo a personalidade do meu garoto, ele ficaria até amanhã discutindo para me elogiar.

Noah sorri e pega meu caderno, com a desculpa que era para ver minhas anotações. Só que quando ele voltou para as minhas mãos, tinha um número de telefone no cabeçalho.

— É para você me mandar foto do caderno e conversarmos sobre outros trabalhos. — Levanto as sobrancelhas em dúvida, porque eu sei que não é só para isso. — E caso você decida, finalmente, aceitar meu convite.

Aí está!

(...)

Não é que eu odeie futebol. Hóquei é até parecido, só que no gelo. O problema é o sol quente. O problema é a grama. O problema é o suor que molha minha camiseta.

Hoje estava especialmente quente. A sombra não era suficiente e com certeza deitar na grama não estava tendo muito efeito refrescante. Eu queria me afundar numa piscina e só sair quando meus dedos estivessem enrugados. Eu conseguia me imaginar fazendo isso.

— Você está vermelho! — Ouço a voz do Noah e abro os olhos, vendo ele de pé me olhando. Ele tampava o sol, então conseguia ver o sorriso dele claramente. — Você não está queimado, está?

— Eu sempre passo protetor e estou na sombra. — Respondo, voltando a fechar os olhos.

Fica tudo em silêncio e eu chego a pensar que ele foi embora, até abrir os olhos novamente e ver ele deitado do meu lado, do mesmo jeito que eu, de olhos fechados.

Como em um dos meus sonhos…

— Me encara tanto e nem aceita sair comigo, tô começando achar que é ódio. — Rio do que ele diz e me sento, vendo meu pai ainda treinando o pessoal. Eles jogavam uma partida, mas aparentemente Noah ficou no banco de reservas. 

— Só está você no banco? — Estranho, porque eram para estar outras pessoas.

Noah se senta e aponta para a arquibancada atrás de nós. Eles estavam ali, debaixo de um gazebo. Noah escolheu ficar comigo, mesmo que os amigos dele estejam me encarando lá de cima, com cara de poucos amigos. — Não liga pra eles!

— Acho que eles não gostam de mim.

— Eles não sabem separar as coisas. Eles estão bravos com seu pai porque vão ser reservas no jogo de sábado e acham, que de alguma forma, você é o seu pai. 

— Que nem as líderes de torcida. — Lembro da história que Kevin contou.

— Ah, você já sabe das líderes de torcida então.

— Kevin me contou. — Olho para ele. — Você nunca mandou elas se ferrarem?

— Mentalmente. — Ri. — Na verdade, a minha vida amorosa não interessa para elas. Não preciso namorar alguém para provar que eu realmente sou gay. Eu só não gosto quando isso afeta Alysson.

— Você tem toda a razão. — Fico de pé e vou até a caixa térmica, pegando uma água. — Então… Jogo sábado?

— É, com sorte alguém se machuca e eu entro em campo. — Diz e eu volto a me sentar do lado dele. — Gosto como você está ficando mais falante.

Eu estou? Eu nem tinha reparado.

Acho que estou me acostumando com tudo e me sinto bem com ele.

— Acho que me sinto à vontade com você. — Noah sorri e pega a garrafa do meu colo, bebendo um longo gole. — E se eu tiver alguma doença? — Me refiro ao fato dele ter bebido da garrafa que eu encostei na boca.

— Um dia a gente vai se beijar. Isso aqui é o de menos. — Sinto minhas bochechas quentes, assim como meu interior, quando as palavras entram nos meus ouvidos.

Eu até fico sem saber o que falar, mas dessa vez eu deixo o sorriso bobo escapar dos meus lábios. O que faz com que ele sorrisse também. Como em um dos meus sonhos…

Dream Of You (Nosh)Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt