IX

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Minha casa estava um brilho.

Ela sempre estava na verdade.

Mas hoje eu pedi pra minha empregada caprichar.

A senhorita Maria Gonzalez, que era descendente de cubanos, conseguiu deixar meu apartamento igual um palácio.

O piso do chão estava tão bem polido que eu conseguia ver até meu reflexo.

Eu definitivamente a pagaria a mais por isso, não que seu salário fosse pouca coisa, mas caramba, ela merecia.

Minha cozinheira Marrie me direcionou um sorriso assim que entrei na cozinha, ela estava terminando de fazer o jantar que eu pedi, depois iria embora.

— Tem certeza que não quer mais sobremesa? — perguntou olhando para a única torta de morango que eu havia a pedido.

— Tenho, só o morango está bom, não quero exagerar de novo.

Por mim eu faria todas as receitas existentes no mundo com morango hoje mesmo para Roseanne, mas ela era minimalista, então eu não queria exagerar levando uma caixa quando ela ficaria bem apenas com um.

— Marrie — chamei sua atenção, me sentando num dos bancos próximos a bancada de mármore branco. — Você acha minha casa muito triste?

— Por que essa pergunta de repente, pequena? — ela riu.

Marrie estava na minha família há pelo menos vinte anos, estava lá na casa dos quarenta, mas nem parecia, fora sua disposição de milhões.

— Quando eu olho pro meu apartamento, eu gosto, mas a xasa dela é tão mais vivida... e acolhedora. O meu tem cara de frio e mórbido, já o dela é quente e aconchegante.

— Ela você diz Roseanne, sua namorada? — Marrie implicou.

— Ela não é minha namorada! — a mais velha riu com minha rapidez para negar.

— Se você gosta do seu apartamento do jeito que ele é, por que acha que ele tem que ser igual a casa dela? — deixei minha cabeça cair para o lado.

Por que?

— Acho que ela se sentiria mais à vontade...

— Ela não gosta de você? — balancei positivamente a cabeça. — Esta casa é igual a você, se ela gosta de você, vai gostar da casa.

— Certo.

— Por que está tão preocupada se ela vai gostar ou não?

Mais silêncio.

Por que eu estava?

Ora...

No que isso mudaria?

Ela poderia deixar de falar comigo por minha casa ser mórbida?

— Você vai se atrasar — Marrie me acordou. — Não tem que pegar a garota?

— Tenho! — levantei apressadamente do banco e vi um olhar malicioso crescer em seus rosto. — Não desse jeito Marrie! Vou buscá-la apenas!

— Oras o que custa admitir que gosta da garota? Você só fala dela pelos cantos.

— Que calúnia!

— Hoje eu e Roseane tomamos café; hoje eu e Roseanne discutimos sobre um livro tedioso; hoje eu e Roseanne fomos no jogo de baseball; oh Marrie! Hoje Roseanne segurou minha mão; Marrie você não vai acreditar, Roseanne me abraçou! Ela me abraçou! Algo em mim ficou diferente depois de seu abraço; hoje eu e Rose-

— Tá, já entendi! — a cortei, vendo-a sorrir.

— Vai buscar sua garota.

— Ela não é minha garota! — Exclamei abrindo a porta.

— Ainda.

A ouvi assim que fechei a porta, mas não ia voltar só para contraria-la.

Entrei no meu carro e dei partida até o centro que era onde Roseanne morava.

Eu morava em Bel air, meus pais queriam que eu morrasse em hidden hills com eles, mas eu não queria uma mansão, pra que uma casa tão grande se vou morar sozinha?

Meu apartamento já era grande até demais pra uma única pessoa, mas tinha o conforto que eu precisava.

Já havia morado em Malibu e em Santa Mônica, e agora estava em Bel air. Não gostava dessa ideia de morar em somente um lugar pro resto da vida.

Quando finalmente cheguei em sua casa, peguei meu telefone e mandei uma mensagem avisando que tinha chegado.

Antes de sair do carro, me olhei no espelho ajeitando meu cabelo e minhas roupas, acho que eu estava bem.

Peguei um pente do meu casaco grosso e penteei minha franja para deixa-la o mais alinhada possível.

Respirei fundo e me olhei mais uma vez.

Certo.

Não entre em pânico.

Ela vai conhecer sua casa e é só.

Ela vai gostar.

Claro que vai.

Batidas no meu vidro me assutaram e eu dei um pulinho colocando a mão no peito.

Ao olhar para janela Roseanne gargalhava no lado de fora.

Abri minha porta para ir falar com ela e a primeira coisa que fez quando eu saí foi me abraçar.

— Tá devendo? — brincou ainda falando sobre o susto.

Infelizmente ela separou nosso abraço.

Queria abraça-la de novo.

Eu gostava tanto...

— Não se faz isso.

— Você é jovem, ainda pode tomar muito susto — apenas concordei e me encostei no carro.

Ela estava linda hoje.

Estava linda todos os dias.

Ela era linda, na verdade.

Hoje ela estava toda de preto e com um sobre tudo marrom claro.

Estava simplesmente linda.

— Vamos? — me acordou de meus devaneios.

— Vamos.

Não mais te amo tanto                          📚Chaelisa☕Onde as histórias ganham vida. Descobre agora