XXIV

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Estamos no nosso café favorito.

Talvez mais meu do que dela.

Mas tão meu quanto dela.

Estávamos na mesa de sempre.

A minha mesa de sempre.

Eu usava meu sobretudo marrom de sempre, aquela manhã manha era fria, mas aqui dentro era confortável, a neve já tinha dado as caras, eu não gostava de neve.

Meu lado da mesa era perfeitamente arrumado. Com os talheres nos lugares e a xícara milimetricamente posicionados, assim como o guardanapo.

O dela era uma mistura de "a garçonete me deu e eu coloquei na mesa" sem prensar muito numa etiqueta ou ordem.

Ela puxou a xícara, sorriu e pegou o potinho de cerâmica com o açúcar.

Ela gostava de café com açúcar. Já eu tomava puro.

Ela dizia que quem tomava café puro já não tinha mais medo da vida.

Mas eu tinha um milhão de medos e incertezas.

Talvez eu não fizesse o típico padrão de quem toma café puro.

Talvez eu seja um café com leite, bege.

Com calma ela abriu o potinho e pegou um bocado.

Três colheradas.

Enquanto ela colocava eu contava na cabeça.

Ela parou na terceira. Não gostava dele muito doce.

Ela sorriu.

Eu sorri de volta.

Eu sabia que ela ia parar na terceira colher.

Acho que o amor está nos pequenos detalhes, certo?

Como saber quando a pessoa vai dizer "tá bom" na hora de colocar refrigerante no copo.

Ou quando os olhares se cruzam numa festa quando alguém falou algo muito ruim na nossa linha de raciocínio, e se falar por ali.

Saber se ela gosta de pipoca com muito sal ou pouco, e tentar achar um meio termo entre o seu gosto e o dela.

Ou coisas simples como quantas colheres de açúcar ele põe no café.

Roseanne me mostrava todos os dias que o amor deve ser cultivado nos pequenos detalhes.

Eu devia prestar mais atenção aos pequenos detalhes.

As vezes só olhar não basta, só ler não basta, só ouvir não basta. Precisa-se prestar atenção.

Eu me perguntava todos os dias se estive prestando atenção.


Não mais te amo tanto                          📚Chaelisa☕Where stories live. Discover now