Conto 7 -Romeu e Julieta - parte 3

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Ela se surpreendeu completamente a cada encontro que os dois tinham pela zona neutra, pois havia pouco daquele homem que Naruto enfrentava todas as vezes que encontravam. Sasuke agia com paciência e muito respeito, só tocando nela ou lhe oferecendo a mão quando Menma insinuava algum interesse naquela interação. Após um mês de conversas, o seu adversário declarado se mostrou como um homem de outro tempo, que oferece espaço para Naruto se aproximar ou não dele.

Quanto mais conversava com ele sobre assuntos que não diziam respeito à guerra entre as gangues ou com as corporações, mais se sentia à vontade para expor seus pensamentos, ouvir as opiniões de Sasuke, discordar e - para a sua imensa surpresa - concordar com seu jeito de pensar. Após um mês, quando ele lhe levou para jantar em outra cidade, Menma revelou ser uma mulher trans e acabou mentindo sobre as pancadas no seu corpo - foi a primeira vez que narrou o caso do marido abusivo com quem casou por conta de um acordo comercial. Sasuke ficou pensativo por alguns minutos, o tempo que gastaram para comer, então a convidou para um passeio na praça de frente ao restaurante, onde inúmeras pessoas passeavam, e a certo ponto que lhes deu privacidade, Sasuke perguntou se a esta altura dos encontros ela o deixaria beijá-la.

Menma ficou atordoada com aquela proposta, mas já havia aceitado antes que se desse conta do que implicaria o sim. Foi um beijo tão doce e delicado que achou ruim quando apartaram os lábios. Tomou a atitude de roubar outro, mais outro, mais um e quando já não conseguia parar de beijá-lo, Naruto lembrou que aquela boca era do Uchiha-líder que quase o matou na semana anterior. Decidiu se separar e não pôr mais lenha naquela fogueira, dando um basta de quinze dias, porém de vez em quando Sasuke lhe mandava SMS pelo celular perguntando como ela estava e se o marido a machucou. Era uma preocupação sincera com o seu bem estar que ele não pôde ignorar por muito mais tempo, então respondeu que o encontraria mais uma vez para explicar tudo.

Foram de carro para um mirante dentro da floresta, de onde viam toda a cidade e as duas sedes das duas gangues. Sasuke usava um terno completamente preto sem gravata. Disse vir do enterro das últimas vítimas do último confronto que sua gangue teve com uma corporação chinesa.

-Não podemos continuar com isso, Sasuke.

-Eu sei que somos inimigos quase naturais.

-E mesmo ciente de que quer matar o meu irmão, você me deseja?

-Meu problema é com ele, não com você.

-Mas ele é o meu irmão, os Ryujins são a minha família e você é nosso inimigo.

-Se é assim, por que já não me denunciou para Naruto ou criou uma armadilha para me matar com o dragão dele, pois todas as vezes vim te ver desarmado.

Ela pensou sobre aquela questão em cada ocasião que dizia sim aos convites e nunca encontrou uma explicação racional que não implicasse numa paixão inspirada pela curiosidade anterior. Mexeu na peruca loira que imitava um penteado da Marilyn Monroe, apenas para ter certeza de que não cairia, sentou-se no capô do carro Maverick V8 vermelho - o mesmo tom de sangue vivo das escamas do dragão com quem Sasuke divide a existência - e abraçou o próprio corpo. Sasuke era muito do que ela mais queria num homem para viver ao seu lado, mas, infelizmente, haviam questões importantes no caminho entre os dois, obstáculos altos demais para serem ultrapassados sem...

Sem o quê?

Sasuke colocou-se na frente dela, apoiando as mãos na lataria reluzente, e deixou o rosto tão próximo que sentia a respiração dela ao alcance do nariz, e ela percebia o agradável hálito de menta que ele sempre tinha ao vê-la - e Naruto esteve perto o bastante de Sasuke em brigas mano-a-mano brutais para sentir o hálito de sangue e ferro que ele carregava ao fim de cada combate.

PerspectivasWhere stories live. Discover now