Conto 5 - Acaso - parte 1

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~ Cap. 1 - A casa de Tijolos Azuis ~

Era sexta-feira.

A noite começara a pouco mais de uma hora, o céu estava escuro e muito estrelado, pessoas iam e vinham na rua encolhidas em seus casacos para afugentar o frio causado pelos ventos fortes, mas não dentro daquela quitinete no alto da rua de ladrilhos vermelhos.

As janelas de molduras brancas estavam fechadas e as cortinas mantiveram o interior escondido, embora as luzes estivessem acesas. Não era tarde para trancar a casa, naquela cidade tranquila de interior as pessoas costumam se sentar na calçada para aproveitar a brisa em dias quentes e para uns aquecer os outros nos dias frios, colocar as conversas em dia, admirar a noite ou mesmo a tarde, não há pressa para viver ali, mas aquela casa estava trancada e tinha suas razões. Naquela cidade, todos conhecem o que precisam saber sobre os vizinhos de todos os lados e costumam entrar na casa de seus conhecidos apenas se anunciando por um berro.

Não há motivos para trancar as portas porque todos sabem quando devem ou não entrar uns nas casas dos outros, conhecem suas rotinas, pelo menos de modo geral, mas aquela casa de paredes feitas de tijolos pintados a cada seis meses naquele tom bonito de azul que lembra o mar está trancada para garantir que os vizinhos não atrapalhem um momento especial.

Seis anos atrás, antes de Dona Clarinda perder seu marido amado, o Sr. Abelardo, dono da quitanda Abelardo, e transformar sua quitanda num charmoso e aconchegante restaurante de esquina com cadeiras de palha trançada na calçada, naquela mesma casinha simpática no topo da rua de ladrilhos vermelhos residia o Sr. Kaka com sua respeitável esposa, Sra. Kaka, e seus dois filhos e segundo os de boa memória, era uma família feliz de hábitos comuns.

Todos os dias, exceto aos domingos, o Sr. Kaka saía de casa vestido em seu terno, usando quepe sobre os cabelos penteados para trás, e depois de receber um beijo de sua esposa. A Sr. Kaka, como boa mãe e esposa tal como foi ensinada por sua mãe, cuidava das crianças e as enviava para escola, ficando sozinha em casa para seus afazeres. Nos domingos, a família se reunia para passeios ou para apreciar a companhia uns dos outros. Não havia nada de errado naquela rotina, pelo menos era no que acreditavam os vizinhos, pois a Sra. Kaka tinha um amante.

Um rapazote chamado Jorge visitava sempre e quando podia a formosa Sra. Kaka, inicialmente para oferecer seus serviços de faz-tudo e conseguir dinheiro para cuidar de sua mãe doente, como fazia com todos os vizinhos daquela rua. Porém, manhãs e tardes de solidão no coração da Sra. Kaka fizeram aflorar um sentimento ardente pelo rapazote. Um dia, ao retornar do trabalho, o Sr. Kaka encontrou um bilhete na geladeira, "Adeus, querido, fui embora com as crianças para longe. O jantar está no forno. Ass. Sra. Kaka", e saber do abandono repentino, sem por quês, quandos, comos e quens, fez o pobre homem pedir demissão e se mudar para a casa de sua mãe.

Assim, a simpática casa ficou vazia por muito tempo, até que numa manhã ensolarada seu novo morador chegou. Seu nome é Naruto Uzumaki. Ao aceitar o antigo emprego do Sr. Kaka, Naruto ganhou não somente um salário que lhe permite uma vida de solteiro como a casa de Tijolos Azuis. Suas obrigações, além daquelas que envolvem o serviço de motorista particular de um importante empresário do ramo imobiliário, se resumem em zelar pelo estado do seu lar.

Todos os dias, Naruto acorda cedo para preparar o seu café da manhã, arrumar-se para o trabalho e limpar toda a casa, que não é tão grande como se imaginar. Tal qual os modelos mais modestos daquela cidade, sua quitinete possui proporções suficientes para acomodar uma família pequena, como a antiga Kaka, mas levando em conta sua pretensão de viver sozinho por alguns anos, Naruto decidiu fazer algumas modificações. A parte inferior se transformou numa garagem e num horta criada sob uma escada de ferro que acessa a parte superior por fora.

PerspectivasWhere stories live. Discover now