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Quantidade de palavras: 2335
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- Saia.

Eu disse. Àquela altura nem conseguia olhar nos olhos de Haruki. Só consegui permanecer na mesma posição, com uma das mãos na bochecha lesionada e os olhos marejados. Não é como se fosse a primeira vez que apanho, é a primeira vez que apanho de Haruki.

- Aoto... eu não... eu, eu... me perdoe... não foi porque eu quis, eu juro que não foi...

Ele tentou chegar perto, mas eu o joguei para longe.

- SAIA!

Ele saiu de cabeça baixa, e então batendo a porta, encostei na parede, sentei no chão e chorei.

Chorei porque fui estúpido ao ponto de acreditar em Haruki.

Chorei porque fui estúpido ao ponto de acreditar em meu relacionamento com Haruki.

Chorei porque, novamente, apanhara de alguém que jurava amar em toda minha certeza.

Deveria ter desconfiado. Fui burro, extrema, completa, e inteiramente burro. Baixei a guarda a um estranho, e caí na teia do amor desse mesmo estranho.

Meu peito apertava, situações como essa me eram comuns, mas por que estava tão inquieto?

Os soluços começaram a dificultar minha respiração, e cada vez mais e mais difíceis de se conter.

Gradualmente, minhas mãos já iam trêmulas secar meus olhos. Soquei o chão em uma revolta insignificante, não fazia ideia do que estava fazendo.

Aquele sentimento de confusão era terrível, e mais uma vez ele viera me atormentar. Pensava em mais coisas que minha mente era capaz de pensar sem se autodestruir com a incerteza das respostas sem sentido que achava para não colapsar e explodir em um terrível ato suicida. A minha cabeça latejando dificultava qualquer pensamento lógico que quisesse fazer.

Me recusava a pensar naquele ruivo desgraçado. Me recusava a sentir dor por causa dele.

De novo me encontrara em uma situação de uma impotência vulnerabilidade. Quis gritar, mas as forças já se esvaíram.

Olhei para o estilete que usava para cortar papéis na mesinha.

Arrastei-me vagarosamente em sua direção.

Agarrei-o.

Vi aquele objeto perfurocortante entre meus dedos, vi que ele poderia ser um grande alívio, vi que ele poderia ser a salvação para toda aquela bagunça que envolvia meu nome sujo e essa brincadeira sem graça.

Minha respiração desregulada e a forte tremedeira contribuíam em um casamento impecável para eu ter dificuldade em retirar a tampa transparente do item.

Assim que tive sucesso, a afobação era tanta que até mesmo aquele pequeno estilete parecia pesado. De novo comecei a chorar. O desespero tornava tudo sufocante, em todos os sentidos. Minha visão ficava escura, não sentia nada direito.

Respirei fundo.

Sayuri.

Sayuri. Sayuri ajudaria.

Deveria?

Não. Não posso perturbar ela com isso.

Mas ela não se importaria.

Olhei para o estilete e olhei para o celular na mesma mesa que encontrei o outro objeto.

Mesmo com a discussão ocorrendo dentro de mim, agarrei aquele aparelhinho surrado e selecionei o número de Sayuri. Um disque foi escutado e uma voz metálica ressoou como música logo depois.

#‹𝑶𝒍𝒉𝒂𝒓 𝑪𝒂𝒓𝒎𝒆𝒔𝒊𝒎˚₊Where stories live. Discover now