#‹19

11 1 21
                                    

Quantidade de palavras: 993
_____________________________________

Eu não fazia ideia do que estava acontecendo quando acordei. Não me lembrava da noite passada, apenas do fato que tentei me jogar da ponte inacabada, o que não era lá uma memória muito agradável.

Senti uma vontade gigantesca de vomitar assim que pus os pés no chão, então corri em direção ao banheiro e lá vomitei.

Sempre odiei vomitar, não por nojo, mas porque me deixava numa posição vulnerável e frágil, então sempre odiei isso com todas as minhas forças. Decidi tomar um banho, afinal, estava fedendo a bebida e a vômito, não era um cheiro agradável para qualquer um que chegasse perto, e até mesmo para mim.

Mas antes, sentei no chão do banheiro e lá fiquei por alguns minutos. Precisava pôr a cabeça no lugar antes de qualquer coisa. Precisava me acalmar. Precisava relaxar. O que me doía era que ainda ia trabalhar, estava tão cansado que a palavra "trabalho" me dava vontade de largar tudo e ir vender arte na praia.

Me recompus e entrei para dentro do chuveiro. Sempre que tomava banho me concentrava na parede, tinha vergonha de olhar para meu corpo. Tinha vergonha de me olhar no espelho.

Saí de lá com um pouco menos de sono. E um pouco menos estressado. Um banho quente certamente era uma grande terapia para mim.

Vesti minhas roupas e estava preparado para ir até a floricultura e começar um dia de trabalho que sabia que não me renderia nada.

Quando saí do meu quarto, por algum motivo, eu fui em direção ao que era o quarto de Aoto. Abri a porta e encontrei um quarto vazio. Meus olhos começaram a lacrimejar, então fechei a porta - confesso que a batida da porta soou um pouco agressiva até para mim - e saí de casa. Àquela hora, tanto meu avô quanto meus pais estavam dormindo, e dava graças aos céus que ainda estivessem na cama.

Como intrometidos profissionais, meus clientes perceberam minhas olheiras mais fundas e meus olhos vermelhos. Me perguntavam o que havia acontecido, e eu respondia:

- Apenas uma noite de sono ruim.

E eles não acreditavam. E me enchiam com mais perguntas. Quase estava mandando todos irem para lugares não muito agradáveis com inúmeros palavrões e xingamentos, mas graças aos céus o bom senso prevaleceu.

Me perguntava por que havia aberto aquela floricultura idiota. Se foi para ganhar dinheiro, o Haruki do passado foi burro. Gasto mais do que lucro com essa merda. Estava a um triz de vender esse barraco velho e trabalhar em qualquer outra coisa que me aparecesse. Menos o Teatro.

A única coisa que me prendia e ainda prende aqui é a paixão que sinto por flores. Acho elas lindas. Mas temo que agora não é o suficiente para me fazer ficar. Em não muito tempo, as pessoas não terão mais a sorte de encontrar Haruki, o vendedor da loja de flores e ex-ator tão facilmente assim.

Uma coisa que percebi ao longo do dia. Todas as pessoas que passavam em frente da loja, ou reviravam os olhos, ou cochichavam para qualquer um que estivesse ao seu lado. Eu meio que me acostumei com esse tipo de coisa, mas agora era diferente. Antes elas cochichavam e davam risadinhas, agora elas olhavam-me enojadas. Não sabia o que tinha dado nas pessoas desta vez.

Depois de mais uma cliente, estava completamente entediado. Quando chegasse em casa apenas comeria alguma coisa e me deitaria para começar tudo novamente.

Apenas de pensar em mais meses disso mais uma vez, uma faca me cortou como culpa novamente.

Se eu não tivesse batido nele, eu teria alguém para quem voltar.

Mãos nos bolsos, morrendo de frio. Caminhei para casa, torcendo para que me descuidasse e qualquer coisa me atropelasse.

Ao chegar, avistei Ren se agasalhando pronto para sair.

- Ah, você chegou.

Ele disse assim que me percebeu. Retirei meu casaco e pendurei no cabide ao lado da porta.

- Para onde vai?

Ele se virou para mim.

- Cuidarei de alguns negócios. Não irei demorar, assim espero...

Não estava com energia o suficiente para questioná-lo, então apenas me despedi e preparei um chá para mim.

- Filho!

Ouvi a última voz que torcia para ouvir naquela noite. Ela correu em minha direção e me abraçou, o que me surpreendeu muito. Esperava que ela me segurasse, acariciasse ou algo do tipo, mas nunca um abraço.

- Você... céus, que alívio vê-lo aqui. Não tem noção da minha preocupação...

Sua voz estava embargada.

- Nunca mais saia daquele jeito novamente, entendeu? Nunca mais.

Ela me apertou ainda mais. Não me segurei, tive que chorar.

- Mãe, por favor... só...

Me ajoelhei diante de seus pés, ainda com lágrimas escorrendo desesperadamente pelo meu rosto.

- O quê... Filho, o que aconteceu!?

Ela segurou meu rosto, surpresa.

- Mãe... me deixe morrer... Não há mais um porquê para permanecer aqui. Todos morrerão, ou irão sumir para sempre, e eu não poderei fazer nada. Para que continuar vivendo uma vida sem sentido, monótona, onde todos fingem te adorar? Para que continuar num mundo onde todos me odeiam e não tenho para quem viver?

Retirei suas mãos do meu rosto e abaixei a cabeça, mas no momento que ergui o rosto, sua expressão se contraiu de imediato, e pude sentir a sua agonia transbordar em forma de lágrimas de seus olhos.

- Todos para quem, em algum momento, entreguei minha vida... se foram. O vovô está morrendo, Ren está se mudando e perdeu sua liberdade, meus amigos me esfaquearam pelas costas. E ele... ele... eu...

Não pude mais continuar. Minha mãe apenas caiu de joelhos junto a mim e me abraçou. Chorando e dizendo:

- Não... diga isso, você não tem que viver por alguém. Meu bem, viva por si mesmo... não diga coisas tão estúpidas... eu vou... eu vou...

Nem ela tinha mais como falar.

- Não posso viver por mim, mãe... não posso viver por alguém que já morreu faz tempo.
_____________________________________

Os dias de glória, cadê vida?

#‹𝑶𝒍𝒉𝒂𝒓 𝑪𝒂𝒓𝒎𝒆𝒔𝒊𝒎˚₊Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora