capítulo oito: presas

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Adam estava atrasado

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Adam estava atrasado.

Foi o único pensamento que passou por sua mente enquanto seus pés batiam contra o chão de concreto frio, abrindo o portão de entrada da academia. O medo correu através dele quando já podia ouvir o golpe nos sacos de pancada. A aula já estava esquentando, o que significava que ele seria repreendido por seu atraso. Ele diminuiu a velocidade, demorando para tirar o uniforme engomado e vestir as roupas de ginástica. Ele cobriu os hematomas da luta de alguns dias antes e passou uma camada de bandagens nas mãos. Em frente ao seu armário, ele pegou as luvas de boxe vermelha e carregou consigo para o aposento.

Ele tentou abrir a porta devagar, mas a dobradiça enferrujada o denunciou. Adam não quis receber o olhar de seu pai e seu irmão, e por um momento, agradeceu por ainda estarem em aula. Isso significava que a repreensão viria longe dos olhos dos desconhecidos.

Ele colocou suas luvas e parou em frente ao saco de pancada. Suspirou fundo e jogou o primeiro soco. O segundo veio logo em seguida, mais fervoroso. Seu coração começou a bater mais rápido à medida em que os socos saiam. Ele se sentiu vivo. Fascinado como o peso se movendo no ar o obedecia. Ele tinha o controle ali. Podia parar quando, diminuir o ritmo, aumentá-lo e o peso continuaria flutuando como um objeto inanimado que apenas obedecia sua força. Ele gostava daquela sensação.

Um tempo depois, quando disparou seu punho contra o saco de pancada, ele não o obedeceu. Ficou confuso, mas sua mente clareou quando seu irmão apareceu atrás do alvo de treinamento, o segurando com as mãos. Adam sentiu o suor escorrer em seu rosto e a respiração descontrolada. Há quanto tempo estava ali, repetindo os mesmos movimentos e cansando seus músculos até a dormência? Ele olhou ao seu redor e percebeu que estavam sozinhos. Seu pai varria o chão despreocupadamente com o fim da aula.

– Onde você estava? – Hugo perguntou, com uma inclinação divertida no canto dos lábios. Adam sempre tinha a sensação de que ele sabia tudo antes mesmo de perguntar.

– Dormi até tarde – murmurou. Adam retirou as luvas vermelhas.

– Ou você estava se inscrevendo naquele teste de soldado? – Adam o encarou. Seus olhos eram castanhos escuros, que nem o dele, e o olhava em provocação. Pelo canto do olho, Adam percebeu que seu pai estava prestando atenção na conversa. Ele estava encurralado. Sabia que não havia como se livrar daquilo.

– Sim.

Hugo riu e trocou olhares com o homem mais velho, que balançou a cabeça em descontentamento e continuou a varrer.

– Você acha mesmo que vai entrar no E.L.E? Só pode ser piada. Você se acha bom só porque está se destacando nas lutas? Ou tenho que lembrá-lo que nunca me venceu em nada?

Adam sentiu o sangue em suas veias borbulhar. Ele viu que seu pai continuava a varrer como um robô que recebeu um comando e nunca mais parou. Sentiu mais raiva. O homem, que o disciplinou rigorosamente a vida toda, estava cada dia mais mecânico e enferrujado. Lecionava suas aulas, comandava seu ringue ilegal às terças-feiras e mal olhava para Adam. Em algum ponto, começou a ignorá-lo. Adam não se lembrava se foi quando ele disse que não queria praticar boxe, aos 12 anos. Ou quando fracassou no seu primeiro emprego e teve que voltar a frequentar a academia. Ou talvez, tenha sido quando nunca se esforçou o suficiente para derrotar seu irmão mais velho. E agora, ele havia se alistado para o E.L.E. Podia sentir o ressentimento de longe. Seu pai parou de aprová-lo como filho há muito tempo atrás.

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