capítulo nove: durante a noite

25 1 2
                                    

A memória era um emaranhado de imagens nebulosas

Oups ! Cette image n'est pas conforme à nos directives de contenu. Afin de continuer la publication, veuillez la retirer ou télécharger une autre image.

A memória era um emaranhado de imagens nebulosas. Às vezes vinha devagar, lentamente acompanhado com altas definições e detalhes tão genuínos que pareciam reais. A sensação era como se estivesse sonhando acordado. Já outras vezes, passava tão rápido, em flashes de luzes, que o fazia despertar com um nó no estômago e uma confusão mental que o deixava atordoado o dia todo.

Adrian nunca conseguia ter uma boa noite de sono. Mas quando as lembranças eram boas, ele gostaria de poder continuar com os olhos fechados pelo tempo que quisesse.

Sua mãe colocou o prato na sua frente. O cheiro dos ovos quentes e recém-cozidos entrou pela sua narina convidativamente. Estava dividido em duas partes, dois círculos irregulares. Logo abaixo, uma fatia de bacon cortada em tiras puxava uma linha sorridente no prato. Sua mãe o observou, esperando pela sua aprovação. Adrian sorriu grande.

– Sabia que você ia gostar, dragãozinho.

Em um instante, a comida desapareceu da sua frente. Ele estava satisfeito. As mãos pequenas levaram o prato até a sua mãe, em frente à bancada da pia. Uma linha calorosa apareceu em seu rosto. Ela aceitou o prato, lavando-o logo em seguida. Adrian gostava de participar da tarefa. Fazer parte. O pano era grande demais para ele e o prato era pesado, uma escorregada e cacos de porcelana decorariam o chão. Mas sua mãe sempre o deixava secar a louça. E ele fazia a tarefa com confiança.

Sentou-se no sofá e ligou a televisão. Um desenho animado prendeu sua atenção, os olhos vidrados nos milhares de pixels coloridos. Ele demorou para perceber que estavam o chamando. Sua mãe entrou na frente da tela.

– Sinceramente, você se perde quando liga essa televisão – balançou a cabeça em desaprovação. Ela passou a mão carinhosamente na cabeça careca e pequena de seu irmão. Ele estava com os olhos fechados e apertados, enrolado em uma manta confortável.

– Mais um pouco, por favor – Adrian disse, juntando as mãos na frente do corpo, praticamente implorando. Sua mãe nunca resistia.

– Só mais um pouco.

Adrian se ajustou no sofá, satisfeito. A tela o prendeu mais uma vez. Era uma TV grande, presa à parede. O resto do cenário costumava ser diferente todas as vezes. Seu cérebro não se lembrava direito todos os detalhes da casa que se perdeu há tanto tempo atrás, por isso substituía as memórias faltantes sempre que era necessário. Naquele dia, a parede era amarela e o carpete branco. O sofá tinha uma coloração cinzenta com os braços grossos e felpudos. A única coisa que nunca mudava era a televisão. A lembrança intacta de quando tudo aconteceu.

Uma falha o assustou, quando pontinhos monocromáticos atravessaram a tela por um segundo. Aquilo acontecia às vezes. Era difícil ter a programação completa enquanto as bombas caíam pelos ares. Sua mãe dizia que ele deveria ser grato por poder estar assistindo àquilo. Voltou a olhar para a televisão, mas a falha estática tomou conta da sua programação matinal. O desenho colorido foi embora, deixando somente a tela adulterada e o barulho de chiado.

PREDADORESOù les histoires vivent. Découvrez maintenant