Capítulo 26

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Uma mão pesada se agarrava ao seu ombro encolhido, enquanto murmurava palavras de apoio para sua cabeça vazia.

Como era possível uma alma brilhosa se apagar em instantes? Kara não sabia, tampouco Kai ou Morrigan que a levou até ali.

Toda sua vida foi cercada por desafios, provas de fogo, e, com uma quantidade significativa de esforço, ela passou todos eles com louvor. Entretanto, todos essas situações não tinham um início, meio e fim esperado, Kara sabia e entendia que todos eram ruins, não tinha esperança neles. Sua infância conturbada, seus esforços, sua própria morte, mas, e Rhysand? Ela não tinha esperança nisso? Ela tinha, e tinha muita.

Seus olhos piscaram brevemente para a iluminação do local, acostumando a escuridão que se apossava dos seus pensamentos.

— Vai ficar tudo bem — Morrigan apertou o lado esquerdo de seu ombro.

A sombra de um homem alto parou diante do seu rosto, Kara pensou que talvez ele estivesse falando, não com ela, talvez com Kai ou Morrigan, bem, ele deve ter percebido a sombra em seus olhos.

— Posso falar à sós com ela? — Perguntou, a voz grossa e masculina.

Kai olhou para sua irmã, o olhar apagado olhando para qualquer lugar, estava frio, vazio e sombrio. Ele temia por isso, sentia medo dentro do seu ser, medo de que, depois de tanto tempo, isso a derrubasse. Morrigan tinha partido há pouco, deixando ambos os irmãos sozinhos.

— Sim — respondeu ele — só... Tome cuidado com as palavras.

— Acredite. — Sorriu brevemente. — Eu vou tomar.

××××

— Eu não esperava sua visita tão cedo em minha corte, querida.

Kara movia os ombros com a respiração uniforme, piscando os olhos sempre que a ardência vinha e a trazia uma dor estranha no topo da garganta.

— Eu também não — ela murmurou, falando pela primeira vez desde que saira da Corte Noturna.

Seus dedos tremiam quando ela abaixou a cabeça e segurou a cadeira, apertando a madeira, sua mão livre parou na boca, sufocando qualquer som.

— O que aconteceu? Se me permite saber...

Ela tomou fôlego, passando a mão entre as mechas avermelhadas, fungando silenciosamente, era comi sentir um aperto infinito envolvendo seu coração. O amor, o amor era destrutivo quando não correspondido, destruidor.

— Usei as palavras erradas, Helion.

O Grão-Senhor da Corte Diurna abriu a boca, levantando o braço direito, ele pensara em falar, mas não tinha palavras para a jovem feérica com aquele semblante destruído. Então, se aproximou lentamente, sua mão grande e quente repousando sobre as costas de Kara, que tremeram com o toque; aguentara tantas horas, sem choro, sem som, sem demonstrar nada.

— Eu sinto muito, Kara — Helion disse, um verdadeiro pesar na voz, como se entendesse. — Toda e qualquer ajude que precisar... Estarei por perto.

— O acordo, você o presenciou. Não tenho para onde ir e Rhys... Rhysand — se corrigiu. — Não pode nem imaginar onde estou.

— A Corte Diurna está aberta para você e o seu irmão. Não se preocupe com isso.

— Por que faria isso? — Ela sussurrou. — Por mim... Não sei se mereço.

Helion sorriu, ajeitando a postura de Kara, ele levou uma das mãos para os ombros caídos e a outra para o queixo dela.

— Você chegou aqui com uma sombra ao seu redor, era como uma maldição te cercando, esse medo, seus segredos... A informação sobre Beron. Ah, Kara, existe algo em você e só olhos observadores conseguem ver, você sabe de algo que ninguém sabe, e esse algo, protegeu todos nós. Eu sinto isso.

Lágrimas escorregam pelo rosto da jovem. Escondeu tanto, protegeu tanto.

— É com um enorme prazer que a protego, Kara, A Salvadora de Prithyan.

Ela se jogou em seus braços, e no resto daquela noite. Helion afagou aquelas tormentas que ele mesmo, sentira por anos.

××××

Rhysand ouviu Morrigan chegar, todos ouviram. O Grão-Senhor desejava ficar sozinho, entretanto, sabia que seria difícil quando todos o olhavam daquela maneira. Não o culpavam, mas queriam saber o motivo.

— Está feito — a loira disse, os olhos vermelhos.

— Nunca mais vamos vê-la? — Cassian perguntou.

Ela abriu a boca para responder, mas sequer sabia quais palavras usar. Essa escolha não fora entregue em suas mãos.

— Eu tenho uma parceira — Rhysand se pronunciou pela primeira vez. — Eu ouvi quando ela disse.

— Parceiros não são nada sem amor — Amren estalou a língua, girando o líquido na taça. — Sabe que expulsou uma das nossas maiores potências, e claro, acabou com seu próprio relaciomento no caminho.

— Parceira — Rhysand repetiu. — Sabe o que significa? Eu poderia ficar anos ao lado de Kara, e se um dia encontrasse o laço? Eu ficaria poderia ficar dividido entre isso.

— Dividido? — Amren piscou. — Seus pais eram parceiros, Rhysand e não existia amor entre eles. Qual seria o motivo de estar dividido?

— Isso não é da conta de nenhum de vocês.

— Você a enfiou em nossas vidas — Cassian argumentou. — Poderia treinar Kara longe de nós, mas decidiu nos apresenta-la.

— Isso torna Kara da nossa conta — Azriel murmurou.

— Rhys... — Morrigan virou o rosto. — Você sequer sabe o que fez?

Ele parou, nenhuma palavra. Sabia que parceiros eram raros, entretanto, qual seria o significado de uma parceira sem amor? Por mais forte, o amor não era uma garantia, por esse motivo existia a rejeição, ele não sabia o que tinha feito, mas sabia a profundidade das suas ações ao expulsar Kara, sentiu o próprio peito rasgar com aquilo, mas também sentiu a dor da mentira. Ela poderia ter dito... Ou não poderia?

— Me deixem sozinho... Eu preciso disso.

— E Kara? O que vai ser resolvido?

Amren se levantou, suspirando altamente ao se aproximar da porta, um convite para todos saírem.

— A garota também precisa ficar sozinha agora. Ou, longe de nós.

Rhysand caminhou para o quarto de cima assim que a porta bateu, os passos lentos e tortuosos ao adentrar o cômodo que Kara estava horas antes, o cheiro ainda estava ali, chocolate e baunilha. Ele levou a mão até a boca, sufocando os sons de dor, tropeçando até a cama.

O Grão-Senhor se curvou ali, apertando os lençóis entre os dedos quando encontrou o bilhete junto do bolinho.

"Você é a estrela que eu sonhei, e, o meu sonho que foi atendido".

Não tinha visto antes, nem mesmo imaginava que Kara deixara algo antes do baile, e ver isso agora, enchia seu coração de um sentimento horrível. E finalmente, Rhysand se permitiu admitir:

Você também é meu sonho... O sonho que foi atendido.

Rhysand não teve ninguém para afagar suas dores naquela noite.

Notas da autora:

Sinto muito pela demora, eu estou meio que trabalhando, bom, eu escrevo a ideia para uma pessoa e recebo por isso, e me comprometi a escrever todos os dias, tornando um pouco difícil escrever minhas fics, e minhas aulas voltaram, tenho que conciliar isso com a academia todos os dias, espero que entendam;)

Aproveitem o capítulo :)

Sem revisão!!

Corte De Sonhos e Mudanças | ʳʰʸˢᵃⁿᵈWhere stories live. Discover now