[Série: Método Abramović.]
Carlos nunca teve muitas certezas na vida, mas a única que teve nos últimos meses é que ela sempre aparecia em seus chamados. Contudo, naquela noite estava atrasada e isso nunca aconteceu antes, não era um grande atraso, s...
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"Pensei estar sonhando quando você disse me amar. Não tive como me preparar, não pude ver você chegando, eu poderia te odiar agora. Está tudo bem me odiar agora, quando nós dois sabemos que, no fundo, o sentimento ainda é bom." — Ivy, Frank Ocean.
Carlos descobriu algumas coisas interessantes enquanto viajava com Leontine.
O primeiro emprego dela foi em uma companhia aérea, a China Southern Airlines, não começou em cargo tão alto como ocupa atualmente, longe disso, era apenas a estagiária em um braço da corporação. Não durou muito tempo, cerca de três meses e esse foi o tempo necessário para entender em quais companhias aéreas ela voaria e quais jamais colocaria seus pés, as melhores são as do Oriente Médio, seu chefe a ensinou, deveria dar prioridade a Emirates, Qatar Airways e a Etihad Airways. O serviço de vistoria da Ásia é mais exigente que o da Europa e o serviço de bordo deixa o passageiro com uma sensação maior de conforto, por mais que seja ilusória.
Cora explicou que não sentia muita confiança em viajar nos jatos fretados que os pilotos adoram pegar, passou longos minutos falando sobre como esse tipo de aeronave não passa por uma fiscalização boa o bastante. Revelou não ter medo de voar, pelo contrário, gostava bastante de observar os cenários bonitos pela janela redonda, mas não sentia a menor segurança em qualquer coisa que não estivesse nos padrões que ela conhecia, Carlos entendeu que aquilo não era apenas sobre aviões, estava bem longe de ser. Também entendeu que a morena não sentia apenas medo de sua mãe, estava nervosa para conseguir sua aprovação, mesmo que não deixasse isso nada claro.
Foi impossível não lembrar do momento em que se conheceram, Sainz sentiu que estava finalmente obtendo um avanço naquela relação. O avião estava sobrevoando alguma cidade indiana quando o moreno se perdeu em suas memórias, não sabia se era um sonho ou apenas uma lembrança muito vivida, conseguia constatar os saltos altos de Leontine batendo no chão que ambos dividiam, era um dia um tanto chuvoso no paddock. Ela usava um daqueles crachás coloridos que entrega o acesso livre ao pit lane de alguma equipe, no caso dela, a equipe austríaca, todavia, Cora estava bem longe de lá, segurando alguns papéis e um sorriso radiante, ela entrou no terreno tifosi como se pertencesse àquele lugar.
Um dos detalhes que mais aprecia na morena é a desenvoltura, consegue entrar e sair dos ambientes como se sempre os frequentasse, Carlos ficou admirado com a maneira dela conversar com os mecânicos e seu chefe, Frédéric Vasseur. O piloto sentiu seu corpo todo paralisado, ficou observando-a por todos os longos minutos que a morena passou dentro do seu ambiente, a sensação fora estranha, ele não costumava ficar assim por ninguém, mas ela tinha algo magnético, como se atraísse qualquer atenção e roubasse corações por onde decidisse passar. Com o moreno não seria diferente, mas ele gostou de sentir aquilo, Leontine foi uma lufada de ar fresco, o período dele não estava sendo dos melhores, mas a morena conseguiu transformar tudo. Tornou-se o fio de esperança que faltava e o espanhol seria eternamente grato.
Nunca soube o motivo que a levou até lá naquela tarde, mas deveria agradecer a todos os astros possíveis. Cora e Carlos jantaram no mesmo restaurante durante a noite e ele estava tão cheio que acabaram dividindo uma mesa, gostavam de pensar que o acaso proporcionou uma situação como aquela, poderiam culpar o destino, mas ainda não sabiam o que esperar do futuro próximo. Entenderam, mesmo sem verbalizar, que ali dentro existia algo a ser compartilhado e não hesitaram em levar tal sentimento a sério.
