[Série: Método Abramović.]
Carlos nunca teve muitas certezas na vida, mas a única que teve nos últimos meses é que ela sempre aparecia em seus chamados. Contudo, naquela noite estava atrasada e isso nunca aconteceu antes, não era um grande atraso, s...
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"Na cidade, o dia inteiro, todo mundo precisa de você. Não, você não pode fazer todo mundo ser igual, apesar de você ter uma família grande, não tem ninguém sendo honesto com você. Respiro até evaporar, meu corpo inteiro transparente, é quase um meio de transporte, feito à mão e eu sei isso melhor do que a maioria das pessoas. Eu não confio nelas de qualquer maneira, você não pode quebrar a lei com elas. Trabalhando na sua pior noite, se eu conseguir meu dinheiro logo, você sabe que não vou precisar de ti." — Nights, Frank Ocean.
O amor não acaba e até ele terminar, tudo fica doloroso.
Dizem que a pior parte do luto é relembrar os momentos passados, também dizem que relações ruins são mais fáceis de esquecer, talvez esse fosse o motivo que fizesse Cora não parar de pensar no homem que perdeu. Theodore foi bem mais simples. Ele era tudo o que a morena buscava em alguém, por anos viveram um relacionamento seguro e verdadeiro, chegaram a morar juntos na casa dela de Marin e nos últimos meses de relacionamento, começaram a falar sobre casamento. Bom, ele falava sobre casamento, ela esquivava-se do assunto, sempre foi ótima em ignorar os sinais que queria.
Theodore é um advogado, aquele tipo que defende empresas e passa seus dias vestindo coletes e camisas de botão. Leontine o conheceu quando estava trabalhando com entretenimento, o rapaz americano representava o canal e ela precisava conversar com ele ocasionalmente. Ambos sempre tiveram muito em comum, trabalham demais, liam os mesmos livros e viajavam para os mesmos países quando o tempo deixava, no início formaram um casal bonito, no final pareciam uma pintura de Monet: linda de longe, terrível quando se enxerga de perto. O término de uma relação nunca começa durante a conversa da separação, relacionamentos morrem bem antes disso.
Quando a francesa o dispensou, eles já estavam com a relação estremecida há dois meses. Theodore queria filhos, um casamento estável e uma vida tranquila, Cora queria uma carreira, passagens de avião destinadas a lugares diferentes e dias imprevisíveis, o amor no caso deles era oposto, afinal, o americano queria ser um homem diferente e ela queria continuar sendo a mesma mulher de sempre. Envelhecer te entrega perspectivas diferentes e com vinte nove anos, Leontine escolheu continuar da mesma maneira, mudar não era uma opção por enquanto. Theodore se casou e seu segundo filho nasceu na noite em que Carlos e Cora tiveram a discussão final.
— Então, seu avô foi presidente da França? Que incrível — Lana disse, tentando chamar a atenção da chefe.
— Foi. Minha família paterna é ligada à política desde sempre, antes do meu avô outros já haviam feito coisas parecidas. Aristocracia e essas coisas, meu pai chama isso de 'a herança que importa' — murmurou a francesa.
— Isso soou tão rico que eu nem sei explicar o quanto.
Cora deu uma risadinha, mas não tem divertimento algum nela. Seu coração ainda estava doendo um pouco, mesmo com um mês exato de sua partida, se antes seus sentimentos foram blindados pelo número alto de abandonos que sofreu durante os anos, agora ela estava vulnerável por abandonar alguém. Estar do outro lado da moeda não foi muito fácil, principalmente por saber que ele era o único capaz de deixá-la apaixonada a ponto de desejar um casamento, filhos e a vida pacata que tentaram a empurrar durante anos.
