10. Píer 27 Pt. 3

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A praia do lado oposto a Pouver era tão vazia por causa das histórias dela que a vegetação à beira da floresta era alta, com um caminho esquecido pelo tempo. A praia de San Remo também ficava numa área esquecida pela população, suas construções eram todas velhas, abandonadas e habitadas apenas pelas pessoas vis: traficantes e usuários, bandidos à espreita de vítimas e sabe-se lá mais o quê.

Doyoung já tinha tropeçado em alguns viciados na beira da Floresta Eritrina, ou como chamavam: Floresta Vermelha, por conta das flores dessa cor que nasciam em disparada na primavera. Atrás dele, as torres do sino da Catedral de St. Augustine perfuravam o céu cinza nublado, a agulha no telhado da catedral estava partida como tudo que existia daquele lado da ilha, quebrada e sombria.

O silêncio era rompido pelo som do mar e das gaivotas no céu, quanto mais chegava perto do píer abandonado. Era ali que deveria ter encontrado Ten, meses atrás. E agora, pisando do mato alto para a areia intocada, era ali que encontrava Taeyong e Jaehyun sobre o píer velho caindo aos pedaços. Uma parte do corrimão tinha sumido e buracos cobriam o chão aqui e ali.

Doyoung chegou o mais perto que podia antes de Taeyong se mover entre ele e Jaehyun.

— Você não o machucaria — Doyoung disse calmamente, sem tirar os olhos de Taeyong. — Acho que gostou mais dele do que imaginava. — Era óbvio que odiava o fato deles estarem juntos. Não sabia a relação deles atualmente, mas poderia apostar que Jaehyun não iria mais curtir ficar com alguém que o ameaçava com uma arma. Não, o Jaehyun que conhecia repudiaria algo do tipo. Mas se fosse apostar do que se tratava a relação deles, diria que Taeyong o usou para chegar até onde precisava em sua investigação. Doyoung queria saber como Jaehyun se sentiria ao descobrir isso também. Traído? Magoado? O que ele faria com Taeyong se soubesse?

— Tem razão. Eu simplesmente o usei para você vir até aqui. — Taeyong abaixou a arma, mas Jaehyun não se mexeu. Taeyong devia ter dito algo para ele antes que Doyoung chegasse. — Eu queria entender qual era a conexão entre vocês. Meu primeiro palpite foi de que poderiam ser parentes, por terem o mesmo sobrenome. Mas aí você foi tão... territorial, quando conversamos a sós no Roxy.

Doyoung não arriscou um olhar na reação de Jaehyun, ele não tinha nenhum sentimento no rosto. Na verdade, poderia dizer que estava entediado. Nunca quis que Jaehyun descobrisse o que ele sentia, mas descobrir daquela forma poderia ser a pior que já imaginou. Taeyong estaria ferrado assim que ele não tivesse mais a arma na mão.

— Entrei tanto assim no seu caminho? — Doyoung inclinou a cabeça, olhando o homem loiro de olhos brilhantes, que refletiam a água cristalina. — Sinta-se livre para arriscar depois de apontar uma arma para ele.

— Não gosto do Jaehyun. E acho engraçado você sugerir isso, sabendo que ele é meu meio-irmão. Não é?

Houve um minuto inteiro de silêncio entre eles. Então Doyoung franziu o rosto como se não entendesse sua lógica, e... riu. Enquanto isso, os olhos de Jaehyun estavam arregalados.

— O que é tão engraçado? Você acha que ainda não sei? Meu pai teve um caso enquanto morava aqui — Taeyong insistiu.

— É engraçado se você imaginar um policial tendo um caso com a esposa de um líder mafioso. — Era isso que eles eram: o pai de Taeyong era um policial e a mãe de Jaehyun era casada com um mafioso. Seu casamento fora arranjado, mas não era o único motivo dela ser fria e cruel.

— Do que vocês estão falando? — Jaehyun se intrometeu confuso. — Eu não sou seu irmão! Céus, eu nunca teria... Se fosse verdade, eu nunca teria feito nada com você.

— Eu sei, é nojento quando paro para pensar. — Taeyong não conseguia nem olhar para Jaehyun naquele momento. Os dois não deviam ter ficado mais do que aquela vez em que Doyoung os viu, Doyoung percebeu com um sorriso disfarçado.

Ruthless » dojaeWhere stories live. Discover now