1 - Heaven Beside You

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17 anos antes...

O que uma criança de 4 anos sabe?

Aos 4, eu sabia contar até 100. Sabia dizer parassaurolofo sem embolar a língua, porque este era o meu dinossauro favorito. Eu sabia que Steven Gerrard era um jogador de futebol da seleção inglesa, (que por sinal viria a ser meu ídolo num futuro não tão distante). Eu sabia aquela música infantil do momento de cor. Eu sabia muita coisa para um garoto esperto de 4 anos.

E algo que eu sabia, assim como tinha certeza, era que aquele garoto de cachos que havia se mudado para a casa ao lado se tornaria a pessoa mais importante da minha vida.

Eu sempre soube.

Lembro da primeira vez que eu o vi, como se fosse hoje, em todos os mínimos detalhes. Eu estava sentado nos degraus da varanda da frente de casa, com meu macacão infantil e um suéter. Minha mãe não me deixava ir para a rua sozinho, então eu apenas me sentava no limite permitido brincando com meus pequenos Hot Wheels. Logo, para minha surpresa, um carro estacionou na entrada da casa ao lado, onde pude ver um casal descer dele, e abrir a porta traseira para um garotinho também sair.

Levantei-me para acompanhar a movimentação e enxergar tudo melhor. Esperteza infantil sempre é consequência da curiosidade. E eu o vi perfeitamente. Ele tinha cabelo cacheadinho, olhos verdes e estava vestido com um moletom azul escuro e mangas vermelhas. Ele parecia fofinho como o ursinho Teddy que ganhei no natal.

Não demorou muito para nos conhecermos. Além das casas vizinhas, as janelas dos nossos quartos eram alinhadas uma de frente para a outra. Certo dia, o vi parado atrás do vidro e eu acenei pra ele. Ele sorriu tímido, mas retribuiu acenando também. Foi o suficiente para eu dizer a todos que tinha um novo amigo.

Fazer o que? Desde criança eu já era meio emocionado.

Entre a aproximação dos nossos pais e estarmos jogando bola no quintal do fundo das nossas casas não passaram dois meses. Nossos pais incentivavam a nossa aproximação, o que facilitou bastante em quebrar as barreiras envergonhadas dele.

Por fim, descobri que o garotinho tímido, na verdade, era um garoto de sorriso fácil quando se acostumava com alguém.

E eu amava vê-lo sorrir.

Ele era muito pior do que eu no futebol, mas eu sempre deixava que ele roubasse as bolas de mim e fizesse gol, porque isso o fazia sorrir e comemorar com uma dancinha infantil engraçada que balançava os bracinhos e o bumbum. Não era apenas pela dança fofa, mas porque Harry era meu melhor amigo e eu gostava de vê-lo feliz.

- Esse é o tiranossauro Rex. Ele é muito mal!- ele sorria enquanto eu mostrava empolgado a minha coleção de dinossauros - E esse é o Parassaurolofo, o meu favorito! - Levanto um dinossauro rosa e amarelo de pelúcia na altura do rosto do meu amigo.

- Pazarofofo! Que nome legal - Ele tentava repetir os nomes sem êxito, mas eu achava engraçado a forma errada que ele dizia e nunca tentei consertar.

- Você é fofo, Hazza! - Deixei escapar sem maldade

- Não sou fofo! Eu sou mal igual o viranossauto rex! - Ele enrugou a testa e fez um bico tentando parecer mal e eu ri, pois nem se ele tentasse muito ele iria parecer malvado como um T-Rex.

- Esses de borracha sempre deixo aqui na caixas, mas eu sempre durmo com o meu Parassaurolofo. Ele me protege dos monstros maus.

- Eu... Eu não tenho um Pazarofofo pra me defender... - Ele soou triste e meu coração deu um pequeno aperto.

- Não tem problema, Hazza. Eu deixo você dormir com os meus dinossauros. Toma - Eu entrego o meu favorito de pelúcia - Pode dormir com ele pra sempre. Ele agora vai te defender.

Would?Where stories live. Discover now