5 - Nutshell

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And yet I fight, and yet I fight
This battle all alone
No one to cry to
No place to call home

***

3 anos antes...

Dois anos se passaram daquele maldito dia em que Anne me esperou no portão. Se, em algum momento, logo depois da cirurgia de estômago, as minhas esperanças foram renovadas, todas estas foram destruídas neste tempo depois.

Ainda me lembro de deitar na cama com Harry e fazer planos dos mais simples até outros mais difíceis. Mas o mais triste é constatar, que em dois anos, nenhum deles se realizou. Harry não foi a festas, não o levei ao museu, ele não conseguiu comer a tortollete com prazer... E eu nunca consegui confessar meu amor por ele em um grande evento.

Sim.. você não leu errado. Meu grande e imenso amor por ele.

Até aquela época, eu ainda era muito novo e confundia um amor puro de criança, com irmandade, amizade (ainda que melhor amigo), e não o via dessa forma. Por mais que Niall estivesse certo, e eu fosse praticamente um cadelo de Harry, nunca vi nossas interações com este tipo de maldade ou intenção. Mas hoje, com 18 anos, eu consegui compreender que eu não amo o Harry apenas como amigo.

Naquela noite, ele me confessou que seu plano era encontrar o amor, e que este fizesse uma grande demonstração. E depois disso, por tantas vezes, eu estive desesperadamente querendo dizer a ele que eu era essa pessoa. Eu quem queria ser o amor da vida dele. Eu era quem ele estava esperando. Eu quem faria o grande ato. Eu que o amaria em sua totalidade, amando suas qualidades e seus defeitos quase inexistentes.

Mas nunca consegui.

Eu nunca consegui falar para ele desse amor imenso que mora no meu peito e que as vezes, quase me sufoca.

Minha omissão se deve, em grande parte a minha imensa covardia, mas também, porque sua saúde declinou terrivelmente, e não houveram grandes espaços para isso. Na mesma proporção que há de medo de uma rejeição por ele não se sentir da mesma forma, houve o medo de algo mudar entre nós dois, algo se quebrar, e ele não poder mais contar comigo pelos momentos tão difíceis que ele atravessa.

Depois que Anne me encontrou no portão naquele dia, precisamos contar a ele que iniciaria um tratamento bastante invasivo similar a quimioterapia. Pelo o que Anne explicou das consultas médicas, na cirurgia de sutura do estômago, os médicos recolheram material para realização de biópsia, e encontraram células malignas.

Ainda não explicava todos os sintomas, e ele não teria essa doença desde os 4 anos. Mas era mais algum coisa que o seu corpo estava causando. Era mais uma coisa que seu corpo precisava combater.

Aparentemente, um semi diagnóstico de doença autoimune foi fechado, embora eu nunca tenha sentido que esse diagnóstico o ajudou de verdade.

A quimioterapia foi um processo lento e dolorido. Tanto fisicamente quanto emocionalmente. Assim como destruía celulas malignas, destruía a auto estima dele.

Logo no primeiro mês, tentando evitar a perda lenta e constante de cabelo, Anne sugeriu que Harry raspasse a cabeça. Talvez, este tenha sido o o momento mais doloroso para ele, que se sentia bonito com os seus cachos.

Eu estava lá com ele. Anne o sentou em uma cadeira no banheiro, e com um aparelho de raspar cabeça, iniciou um zumbido sobre o cabelo.

Um a um, os cachos foram ficando pelo chão, caindo aos montes, no mesmo volume que caiam as suas lágrimas. Me doeu casa lágrima que escorreu em sua bochecha como se fossem navalhas em mim. Eu não me preocupava com o cabelo, ele ficaria lindo de toda forma, mas perceber como aquilo estava sendo um processo tão doloroso, doeu em mim como se estivessem arrancando meus membros e vísceras.

Would?Where stories live. Discover now