A docimásia pulmonar hidrostática de Galeno

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Ouviu sua voz deslizar num tom provocador:

"Consigo sentir você desconfiando de muita coisa quando me olha"

Não conseguia acompanhar o rosto de Lauren naquela proximidade, mas podia imaginar sua reação.

Naquela dinâmica em que ela costumava ser o freio, não demandava muito para escandalizar.

O silêncio parecia contar vitória como nos segundos em que um lutador está prestes a se render.

Experimentou sentir no ar todos os centímetros que separavam seu rosto com o inerte.

Dizia tanta coisa estar na mesma área de respiração que alguém.

Lauren, quando ainda falava coisas, tinha lhe ensinado que pro Direito a primeira respiração marcava o fim da unidade biológica entre a mãe e o nascituro.

Só de respirar você assumiu o controle da sua vida.

Você se distanciou daquela presença absolutamente confortante que decidia tudo.

E o choro...

Era uma reação totalmente esperada.

E saudável.

Mas com alguma esperança, eventualmente as pessoas cresciam e aprendiam a controlar aquele sopro de autonomia.

E às vezes, com mais esperança ainda, tinham a chance de dividir aquela potência com alguém.

Um murmúrio sofrido veio como resposta finalmente:

"Quer que eu pare?"

Lauren ainda não tinha entendido.

Exemplificou:

"Quero saber no que você tanto pensa quando olha meu queixo"

Era um mistério antigo entre elas.

Já reparara no hábito desde suas viagens de avião.

A mulher encarava seu queixo como alguém que claramente está imaginando alguma coisa.

"Hmmm?"

Nunca tivera coragem de perguntar sobre.

Mas aquela noite era para se despedir de versões antigas de si.

"Você olha como quem está pensando em algo bem específico"

Seu alvo se afastou.

"Eu... hum... melhor deixar isso pra lá".

"Quero saber"

O rosto agora aparente sorriu como quem diz... você já me enganou com esse discurso uma vez.

Ainda hesitava.

Incentivou baixinho:

"Sim é sim..."

Lauren desviou o olhar para o seu queixo.

"Me mostra"

A outra lhe encarou sem entender.

Que devagar ela estava.

"Me mostra o que você quer fazer, Lauren"

Conseguiu identificar o momento em que as íris esverdeadas cederam o controle.

Agora sim.

Lauren se aproximou devagar, mas seu olhar já não parecia incerto.

Pela visão periférica notou uma mão subindo, enquanto outra amparava sua cintura.

Sentiu o polegar da mulher se apoiar no meio carnudo entre o osso protuberante do seu queixo, enquanto o indicador e o anular esticados passavam a sustentar o longo da sua mandíbula.

Modulação PolicromáticaOnde histórias criam vida. Descubra agora